Agência Fapesp
Material milhares de vezes mais pesado do que a água e com densidade maior do que a do interior do Sol é estudado como alternativa de energia nuclear limpa.
Um material milhares de vezes mais pesado do que a água e com densidade maior do que a encontrada no interior do Sol está sendo pesquisado por cientistas no Departamento de Química da Universidade de Gotemburgo, na Suécia.
O objetivo do estudo é desenvolver uma fonte de energia que seja mais sustentável e ofereça menos riscos ao ambiente do que os sistemas atuais de produção de energia nuclear.
O novo material está sendo chamado de deutério ultradenso e é uma variação do isótopo do hidrogênio com número de massa igual a 2. Ele é tão pesado que um cubo de 10 centímetros de lado com o material pesaria 130 toneladas.
Até agora, o grupo do cientista conseguiu produzir apenas quantidades microscópicas do novo material. Análises indicaram que a distância entre os átomos é maior do que na matéria comum.
“O deutério ultradenso pode se mostrar um combustível muito eficiente na fusão nuclear a laser. Nosso estudo tem mostrado que é possível atingir a fusão entre núcleos de deutério por meio do uso de lasers de alta potência, processo que liberaria enormes quantidades de energia”, disse Leif Holmlid, um dos autores da pesquisa.
Há tempos que tecnologias de laser têm sido testadas em deutério congelado, mas os resultados não têm sido animadores. A maior dificuldade é comprimir o deutério congelado o suficiente para atingir a alta temperatura necessária para iniciar o processo de fusão.
O deutério comum, também chamado de hidrogênio pesado, é encontrado em grandes quantidades na água e vem sendo usado em reatores nucleares convencionais na forma de água pesada (D2O).
Holmlid explica que o deutério ultradenso é milhões de vezes mais denso do que a forma congelada, o que tornaria mais fácil criar uma reação de fusão nuclear por meio de pulsos de alta potência de laser.
“Se pudermos produzir grandes quantidades de deutério ultradenso, seu processo de fusão pode se tornar a mais importante fonte de energia no futuro. E isso é algo que pode estar disponível mais cedo do que se pensa”, disse Holmlid.
O cientista sueco estima ser possível, em alguns anos, modelar a fusão do deutério ultradenso de modo que a reação produza apenas hélio e hidrogênio, elementos que não oferecem risco ao ambiente.
“Com isso, não seria preciso lidar com o altamente radioativo trítio [isótopo do hidrogênio com dois nêutrons e um próton], que vem sendo pesquisado para uso em reatores de fusão. E isso implicaria que a fusão nuclear a laser, como a imaginamos, seria uma alternativa mais sustentável e menos danosa ao ambiente”, afirmou.
(Envolverde/Agência Fapesp)