O solo, nas margens da Ilha dos Eucaliptos, na represa de Guarapiranga, em São Paulo, está se desagregando, a ponto das árvores caírem sozinhas na água, oferecendo risco aos barcos de passeio.
As folhas mortas, acumuladas na beira do rio Monjolinho, perto de São Carlos, SP, retêm grande quantidade de nutrientes, poluentes e metais pesados, denunciando as áreas de maior concentração de esgotos domésticos e lixo.
Estes dois fatos, aparentemente desconexos e isolados, na verdade, tem a mesma explicação, do ponto de vista de uma equipe de Micologia do Instituto de Botânica de São Paulo e da Universidade Federal de São Carlos, UFSCar. Em ambos os exemplos, há um desequilíbrio entre as espécies de fungos do solo e do folheto. E o desequilíbrio está afetando as funções normais dos fungos, responsáveis, na natureza, por uma numerosa lista de tarefas "invisíveis", como a decomposição da matéria orgânica, reciclagem, fixação e liberação de nutrientes, manutenção da estrutura física do solo e de sua permeabilidade à água etc.
"A biodiversidade natural dos fungos é importante para uma série de funções químicas e físicas relacionadas ao solo e à reciclagem de matéria orgânica", explica Iracema Schoenlein Crusius, do Instituto de Botânica, coordenadora de uma pesquisa sobre a biodiversidade de fungos e as alterações provocadas pelo homem. "Quando atividades humanas ou fatores estressantes alteram o equilíbrio e se perde biodiversidade, as conseqüências são imprevisíveis".
A ausência de algumas espécies de fungos, eliminados pela contaminação por agrotóxicos, por exemplo, é compensada pela proliferação desordenada das outras espécies, capazes de sobreviver ao agrotóxico. E esta proliferação tanto pode ser negativa como positiva. Tanto pode se transformar numa praga ou favorecer a proliferação de doenças, como pode ser uma nova solução para a degradação biológica de contaminantes.
Para entender melhor os fungos como indicadores ambientais e ter parâmetros para a análise de sua biodiversidade, a equipe coordenada por Iracema realizou levantamentos no solo das margens, no solo submerso e no folhedo (camada de folhas mortas) de diversos pontos, na represa de Guarapiranga e ao longo do rio Monjolinho. A equipe é composta por duas pesquisadoras, dois mestrandos e uma bolsista de capacitação técnica, com financiamento da ordem de 48 mil reais, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP.
A identificação de todas as espécies de fungos coletadas ainda não terminou, mas já são mais de 45 espécies de solo e 40 espécies de folhedo na represa e 20 espécies aquáticas no rio. "A maioria das espécies é cosmopolita -encontrada em qualquer lugar - mas existem algumas bem raras e com possibilidade, até, de serem espécies novas para a ciência", acrescenta Iracema Crusius.
A pesquisa também já se desdobrou em sub-projetos, como o que estuda a capacidade dos fungos de resistir ao sulfato de cobre e ao peróxido de oxigênio (água oxigenada), as duas substâncias utilizadas pelas Sabesp para tratar a água da Guarapiranga, que atualmente abastece 3 milhões de habitantes da Grande São Paulo.
Os primeiros resultados do estudo devem ser publicados ainda neste final de semestre, com a defesa da primeira tese de mestrado, mas a pesquisa prossegue pelo menos até o próximo ano, quando deverão terminar as identificações e a segunda tese de mestrado prevista.
Maiores informações através do telefone (011) 55846300 ou do endereço eletrônico icrusius@.smtp-gw.ibot.sp.gov.br.
Notícia
Agência Estado