Cientistas identificaram os restos fossilizados da formiga mais antiga já descoberta, um inseto alado com mandíbulas afiadas como foices, que viveu há cerca de 113 milhões de anos, durante a era dos dinossauros. O fóssil foi preservado em calcário encontrado no Nordeste do Brasil. Com informações da Reuters.
A espécie, batizada de Vulcanidris cratensis, pertence a uma linhagem conhecida como formigas-do-inferno — assim chamadas pelo formato intimidador de suas mandíbulas — que prosperou no período Cretáceo, mas não deixou descendentes vivos. Outra formiga-do-inferno descoberta anteriormente foi nomeada Haidomyrmex, em referência a Hades, o deus grego do submundo.
Com aproximadamente 1,35 cm de comprimento, a Vulcanidris era uma formiga de porte médio, equipada com mandíbulas especializadas para prender ou empalar presas. Assim como algumas formigas atuais, ela possuía asas e capacidade de voo, além de um ferrão bem desenvolvido, semelhante ao de vespas.
“Provavelmente seria confundida com uma vespa por um olho não treinado”, afirmou Anderson Lepeco, entomologista do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e principal autor do estudo, publicado na revista Current Biology.
Segundo Lepeco, a Vulcanidris utilizava suas mandíbulas de forma distinta, movimentando-as verticalmente, ao contrário das formigas atuais, cujas mandíbulas geralmente se articulam na horizontal.
Esse fóssil é cerca de 13 milhões de anos mais antigo do que as formigas mais velhas conhecidas até então, que foram preservadas em âmbar encontrado na França e em Mianmar. A anatomia da Vulcanidris está extremamente bem preservada no calcário, escavado décadas atrás na formação geológica do Crato, no Ceará. A peça permaneceu em uma coleção particular até ser doada ao Museu de Zoologia há cerca de cinco anos.
“Eu procurava vespas entre os fósseis da coleção e fiquei chocado ao reconhecer a espécime como parente de uma formiga-do-inferno descrita anteriormente no âmbar birmanês”, relatou Lepeco.
A descoberta de duas formigas-do-inferno vivendo em regiões tão distantes reforça a teoria de que as formigas surgiram muitos milhões de anos antes dessa espécie identificada. “Estimativas moleculares indicam que as formigas se originaram entre 168 milhões e 120 milhões de anos atrás. Essa nova descoberta apoia a hipótese de uma origem mais antiga”, explicou Lepeco.
Os cientistas acreditam que as formigas evoluíram a partir de um tipo de vespa, sendo seus parentes vivos mais próximos as próprias vespas e as abelhas.
O ecossistema onde viveu a Vulcanidris era bastante diversificado. Fósseis da formação do Crato revelam que ela compartilhava seu habitat com diversos insetos, aranhas, milípedes, centopeias, crustáceos, tartarugas, crocodilos, répteis voadores como os pterossauros, aves e dinossauros, incluindo o carnívoro emplumado Ubirajara. Predadores da formiga poderiam ter sido sapos, pássaros, aranhas e insetos de maior porte.