Elas são minúsculas, mas possuem uma enorme importância na preservação do ecossistema e a cada dia revelam mais faces. As formigas não param de surpreender. Desta vez uma pesquisa revelou que as espécies mais agressivas e competitivas, como as saúvas, também são capazes de ser as melhores guarda-costas de algumas espécies de plantas.
O estudo foi realizado no campus da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), no sertão da Bahia, pelos biólogos Laura Carolina Leal e Felipe Passos. Eles escolheram esta região, típica da caatinga, para verificar de que forma as formigas interagiam com algumas plantas.
“Mutualismo é a interação entre duas espécies com benefícios dos dois lados. Se não for vantajoso para ambas as espécies, mas só para uma delas, então é parasitismo”, afirma Laura Leal, professora do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O experimento mostrou que as plantas que possuem néctar floral, uma espécie de carboidrato, ao serem atacadas por animais herbívoros, costumam ser defendidas pelas formigas. Em troca, numa espécie de escambo natural, a planta fornece proteína para as formigas, além do já identificado açúcar.
“Diferentemente do que se pensava, descobrimos que o carboidrato é apenas uma das formas de pagamento oferecido pelas plantas em troca do serviço de defesa proporcionado pelas formigas. Outra forma de pagamento são as proteínas que as formigas podem obter ao consumir os artrópodes herbívoros que se encontram disponíveis nas plantas que as formigas visitam”, conta a pesquisadora.
As proteínas são encontradas também em glândulas do néctar da planta. A pesquisa foi realizada com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisado do Estado de São Paulo (FAPESP) e da Coorendação de Aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior (Capes) , em 2017, mas só agora foi publicado na revista científica Biological Journal of the Linnean Society, da Inglaterra.
“Esta constatação vai contra a ideia de que o pagamento é só açúcar. Em um ambiente onde alimentos ricos em proteína são mais escassos, com menos artrópodes, verificamos que as formigas podem ser mais agressivas, defendendo sua fonte de alimento e, por consequência, as plantas”, completa.
A planta observada foi a rasteira Turnera Subulata Guarujá, também conhecida como boa-noite ou flor do Guarujá, muito comum em áreas de altas temperaturas e áridas. A planta tem um par de nectários constantemente visitados pelas formigas, que acabam defendendo a planta quando percebem a presença de predadores. Elas ficam ainda mais agressivas em ambientes onde há pouca comida. O estudo foi realizado com base na observação e na simulação da presença do chamado besouro-do-amendoim, um tipo de larva presente nas sementes do amendoim.
“Diversos estudos mostraram que formigas expulsam herbívoros e aumentam o sucesso reprodutivo de plantas com nectários extraflorais. Quanto mais importante o néctar extrafloral para as formigas, melhor deve ser para as plantas, uma vez que isso aumentaria a agressividade das formigas ao interagir com herbívoros”, conclui a pesquisadora.
A espécie de formiga mais utilizada no estudo foi a Camponotus blandus, foco de 42% dos experimentos. A outra foi a Dorymyrmex piramicus, utilizada em 25,6% da pesquisa.
Outros estudos
Há muito tempo as formigas são tema de pesquisas de cientistas no mundo inteiro. A maioria delas versa sobre as temidas formigas cortadeiras, que costumam atacar as folhas de diversas lavouras. Mas outros cientistas investigam a participação desse tipo de inseto no equilíbrio ecológico.
Neste ano, por exemplo, pesquisadores brasileiros e norte-americanos chegaram a divulgar um outro estudo em que as formigas são apontadas como portadoras de um composto capaz de matar fungos resistentes.