Pesquisadores identificaram no Nordeste do Brasil os restos fossilizados da formiga mais antiga já encontrada, datada de cerca de 113 milhões de anos atrás. O inseto, batizado de Vulcanidris cratensis, possuía asas, um ferrão e mandíbulas em forma de foice, características que permitiam capturar e perfurar presas. O fóssil, preservado em calcário da formação geológica do Crato, no Ceará, foi doado ao Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) há cinco anos.
A nova espécie pertence a uma linhagem extinta conhecida como “formigas-do-inferno”, nomeada pela aparência “demoníaca” de suas mandíbulas. Com cerca de 1,35 centímetro de comprimento, a Vulcanidris se destacava pela forma como movimentava suas mandíbulas — verticalmente, ao contrário das formigas modernas, cujos movimentos são horizontais. A descoberta reforça estimativas de que as formigas surgiram entre 168 milhões e 120 milhões de anos atrás, muito antes dos registros fósseis anteriores, encontrados na França e em Mianmar.
A anatomia do exemplar brasileiro está excepcionalmente preservada. O entomologista Anderson Lepeco, principal autor do estudo publicado na revista Current Biology, contou que identificou a espécie enquanto examinava fósseis de vespas. Segundo ele, o achado também indica que, já no Cretáceo, as formigas estavam distribuídas por diferentes continentes, o que sugere uma história evolutiva mais antiga e complexa.
O ambiente em que a Vulcanidris viveu era habitado por uma grande variedade de animais, incluindo pterossauros, crocodilos e dinossauros como o carnívoro emplumado Ubirajara. Hoje, as formigas são um dos grupos mais abundantes do planeta, com uma população estimada em 20 quatrilhões de indivíduos, desempenhando papéis essenciais para o equilíbrio ecológico, como controle de pragas, polinização e manutenção da saúde do solo.