Os pesquisadores de São Paulo começarão a ser chamados, a partir de maio, para integrar uma força-tarefa para descobrir quais são os genes do café responsáveis pelas principais características de interesse econômico da planta. A busca ficará especialmente nos genes que conferem características de resistência da planta, que regulam o tempo de maturação do fruto e que dão qualidade à bebida para poder melhorá-la.
O trabalho deve ter início em agosto, conforme expectativa do pesquisador Carlos Colombo, do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Recursos Genéticos Vegetais do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que coordenou a rede de laboratórios paulistas responsável pelo seqüenciamento genético do café. Foram dois anos de investigação encerrada na semana passada.
Eles conseguiram identificar como a natureza escreveu a história dessa planta, letra por letra. Agora tratarão de interferir nessa história, descobrindo quais são as letras (os genes) que conferem características importantes da espécie.
Os pesquisadores seqüenciaram 240 mil trechos de DNA em dois anos de trabalho. O IAC coordena o Projeto Genoma do Café em São Paulo, resultado de uma parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Consórcio de Pesquisa Cafeeira do Brasil, que reúne uma rede de laboratórios no projeto. O seqüenciamento envolveu 20 laboratórios paulistas e o Centro Nacional de Recursos Genéticos (Cenargen).
Foram investidos R$ 1,8 milhão no projeto para seqüenciar o café arábica tipo Novo Mundo. Esse café foi desenvolvido no IAC e hoje representa 70% do café plantado no Brasil. Metade da seqüência foi trabalhada por uma rede de 20 laboratórios paulistas coordenada pelo pesquisador Carlos Colombo. A outra metade, pelo Centro Nacional de Recursos Genéticos (Cenargen).
Os laboratórios paulistas analisaram 160 mil seqüências e encontraram 25 mil genes potenciais. Com os laboratórios da Embrapa, o número de genes, estima-se, deverá chegar entre 30 mil e 35 mil.
Agora começará a parte mais difícil do projeto, que é descobrir o que cada um dos 30 mil genes da planta faz, ou seja, identificar os genes que conferem as características essenciais à planta, para que, no futuro, por meio de interferência nesses genes, seja possível desenvolver um café ideal, resistente à pragas, de maturação rápida e boa bebida, informa Colombo.
O café é um dos principais produtos da agricultura paulista, ao lado da laranja e da cana-de-açúcar. É o quinto produto mais exportado pelo Brasil. A área cultivada no país é de cerca de 2,7 milhões de hectares.
O seqüenciamento genético foi feito utilizando material genético de tecidos de flor, fruto, caule, folha e raiz, com uma técnica chamada de Etiquetas de Seqüências Expressas (EST), que vem da tradução de Expressed Sequence Tags.
Essa tecnologia permite o seqüenciamento genético de plantas de forma rápida e incompleta, e identifica as porções dos genes que codificam proteínas, os chamados genes funcionais.
Dos 20 laboratórios paulistas que participaram do Projeto Genoma do Café estão laboratórios da Unicamp, Unesp, USP e dois do IAC (o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Recursos Genéticos Vegetais e o Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Citros).
O Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, que reúne 40 instituições de 12 estados brasileiros, é financiado pelo Conselho de Desenvolvimento da Política Cafeeira (CDPC), que congrega representantes do setor e o Ministério da Agricultura e do Abastecimento.
Notícia
Correio Popular (Campinas, SP)