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O Imparcial (Presidente Prudente, SP) online

Força-tarefa em Campinas estuda métodos e fármacos contra Covid-19

Publicado em 01 abril 2020

Um grupo de pesquisadores e servidores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) anunciou a realização de testes para o enfrentamento do novo coronavírus em Campinas. A informação é da Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Para a tarefa emergente devido à pandemia da Covid-19, o grupo reuniu a toque de caixa equipamentos, insumos e voluntários. Os pesquisadores estudam novos métodos de detecção, a ação do vírus no organismo e fármacos que possam atuar contra a doença do coronavírus. O trabalho está na fase de planejamento e não é possível anunciar resultados ainda, mas poderá impactar o tratamento da pandemia na região de Campinas e, por extensão, no interior paulista com novas informações que poderão ser disponibilizadas no meio médico e científicos. Os recursos vêm de projetos de pesquisa em andamento, financiados por agências de fomento como o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a Fapesp, da Unicamp e de doações de empresas, pessoas físicas e do MPT (Ministério Público do Trabalho). Os pesquisadores buscam também garantir a manutenção de aparelhos médicos necessários neste momento e a fabricação de peças e equipamentos de proteção individual, por meio de impressão 3D, para profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à epidemia. Amostras do vírus para o estudo foram obtidas junto ao ICB-USP (Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo), que isolou e cultivou o vírus obtido dos dois primeiros pacientes infectados do Brasil.

Testes em pacientes

“Com esse material, pudemos padronizar e implementar o teste diagnóstico no Hospital de Clínicas da Unicamp”, diz José Luiz Proença Módena, professor do IB (Instituto de Biologia) da Unicamp e coordenador do Leve (Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes), e que tem entre suas atribuições a ampliação da capacidade do LPC (Laboratório de Patologia Clínica) do HC (Hospital de Clínicas) da Unicamp em realizar testes diagnósticos. “Isso agora está sendo escalonado, com o objetivo de oferecer testes em larga escala para a região de Campinas, sendo que a chegada dos insumos nos próximos dias nos permitirá testar um grande número de pacientes”. Módena coordena o projeto “Patogênese e neurovirulência de vírus emergentes no Brasil”.

Mutirão

Para realizar os testes, são necessários não só os insumos de laboratório, mas equipamentos como termocicladores, centrífugas e máquinas de PCR em tempo real, além de pessoal treinado para operá-los. Por isso, assim que obtiveram as amostras do vírus, a preocupação dos pesquisadores foi ter mais dessas máquinas e equipe capacitada para realizar os testes. Alessandro dos Santos Farias, professor do IB-Unicamp, foi um dos pesquisadores que organizaram um mutirão para reunir equipamentos e treinar os profissionais do HC e voluntários. “Em outros países, houve problema de falta de gente treinada para fazer os testes. Na nossa rotina de pesquisa, porém, esse tipo de reação é algo que fazemos com bastante frequência e as máquinas estão disponíveis em muitos laboratórios. Fizemos então um chamado à comunidade e conseguimos equipamentos e voluntários”, diz Farias.

Biologia molecular

“Mais de 80% dos voluntários têm experiência em biologia molecular, o que mostra a importância do financiamento público não só para montar um parque de equipamentos desse tipo como para a capacitação de recursos humanos especializados, que agora podem atender a uma demanda urgente da sociedade”, diz Marcelo Mori, professor do IB-Unicamp. Além de tentar entender por que idosos são mais suscetíveis à covid-19, Mori faz a articulação para a compra de insumos e equipamentos.

Compreensão do vírus

A realização de testes para diagnóstico do novo coronavírus é apenas uma das frentes da força-tarefa. O laboratório comandado por Módena – único com nível de biossegurança 3 na região, em uma escala que vai até 4 – vai realizar a caracterização do vírus presente em pacientes que testarem positivo para o SARS-COV-2 em Campinas. “O objetivo é entender como está a circulação do vírus aqui, as diferenças em relação ao de São Paulo e como isso pode impactar o quadro clínico do paciente”, diz o pesquisador. O trabalho será realizado em parceria com o Cadde (Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus), apoiado pela Fapesp e coordenado por Ester Sabino, diretora do IMT (Instituto de Medicina Tropical) da USP (Universidade de São Paulo). Outra medida importante, que terá apoio do laboratório de Módena, será o monitoramento da carga viral dos pacientes graves internados no HC. A informação é essencial para saber quando liberar os pacientes e disponibilizar os leitos. As amostras obtidas vão proporcionar ainda a análise dos chamados mediadores inflamatórios que o organismo produz quando em contato com o novo coronavírus. “Além das comorbidades, será possível entender melhor o que diferencia a resposta de um paciente que evolui para um quadro grave de outro, da mesma faixa etária, que evolui bem, por exemplo”, explica o pesquisador.