Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) avaliou 186 pacientes hospitalizados com COVID-19 moderada ou grave e identificou que aqueles que tinham mais força e massa muscular tendiam a permanecer menos tempo internados, o que indica que esses aspectos auxiliam a prever o tempo de internação por COVID-19.
Os indicadores podem ajudar a prever o tempo de internação pela doença. “Eles podem ser úteis para um trabalho preventivo com indivíduos com maior risco de agravamento, ao mesmo tempo que indicam onde haverá uma possível necessidade de atenção no manejo dos sobreviventes com sequelas da COVID-19”, disse o autor do estudo Hamilton Roschel.
O pesquisador é um dos coordenadores do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) e da Faculdade de Medicina da USP.
Em entrevista à Agência FAPESP, ele explicou que os resultados podem ser generalizados para uma série de condições de saúde, mas o potencial para a COVID-19 não tinha sido avaliado até então.
“Um trabalho preventivo significa tornar indivíduos com menos massa e força muscular e, portanto, mais vulneráveis, mais aptos a enfrentarem uma potencial internação”, disse.
Os dados completos da pesquisa foram divulgados na plataforma medRxiv, em artigo ainda sem revisão por pares.
No estudo, os pesquisadores usaram equipamentos específicos para medir a força e a massa muscular dos pacientes assim que eles deram entrada no hospital.
Envelhecimento e condições crônicas, como diabetes tipo 2, são fatores que aumentam o risco de desenvolver formas graves de COVID-19. No entanto, indivíduos jovens e aparentemente mais saudáveis também podem precisar de hospitalização e até mesmo virem a óbito por causa da doença.
“Isso sugere a existência de características clínicas ainda desconhecidas associadas ao prognóstico de COVID-19. Parâmetros de força e massa muscular são potenciais candidatos para isso”, diz Roschel.
O músculo esquelético constitui cerca de 40% da massa corporal total de uma pessoa e tem papel importante em diferentes processos fisiológicos, como resposta imunológica, regulação dos níveis de glicose, síntese de proteínas e metabolismo.
“Não estamos sugerindo, no entanto, usar essas medidas em detrimento de outros marcadores bioquímicos já consagrados para o prognóstico da doença, como saturação e proteína C reativa, entre outros. A informação de massa e força muscular será ainda mais importante para tratar os sobreviventes, que podem apresentar sequelas”, afirma Roschel.
Reabilitação pós-COVID-19
A reabilitação de pacientes que sobreviveram à COVID-19 e desenvolveram uma grande variedade de sequelas é um problema que desponta entre tantos causados pela pandemia. Especialistas alertam que isso continuará causando impactos no sistema de saúde mesmo depois que o SARS-CoV-2 for controlado.
“Os mais comprometidos parecem ser os pacientes que ficam mais tempo no hospital. Essa longa permanência está associada a uma sequência de eventos negativos e isso tem que ser pensado do ponto de vista do tratamento geral da doença”, disse o especialista da USP.
O grupo agora está conduzindo outro estudo para analisar o quanto força e massa muscular podem ser afetadas pela internação. “Temos pacientes que chegam a perder mais de 30 quilos durante o período no hospital, mal conseguem andar depois da alta. Com esse estudo, será possível analisar em que medida o tempo de internação compromete a funcionalidade do paciente”.