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Força biotecnológica (1 notícias)

Publicado em 08 de dezembro de 2004

A edição de dezembro da revista Nature Biotechnology procura dar uma resposta detalhada à questão, em reportagem especial que apresenta os resultados de um estudo de três anos sobre a situação atual do setor - e as perpectivas para o futuro - em sete países: Brasil, África do Sul, China, Coréia do Sul, Cuba, Egito e índia. O estudo, conduzido por pesquisadores de diversos países, financiados por instituições canadenses e norte-americanas, inclui análises detalhadas dos cenários nacionais, tanto em relação aos mecanismos que possibilitaram a construção de uma infra-estrutura que permitisse o desenvolvimento da biotecnologia, quanto de exemplos que apontam haver muitas - e boas - novidades além do Hemisfério Norte. O Brasil é destacado enfaticamente na edição, que lembra a importância histórica dada à ciência e à tecnologia no país e a biodiversidade sem igual, "combinação que dá ao país um grande potencial em promover a biotecnologia em saúde", dizem os autores no artigo sobre o país. O estudo detalha problemas vividos pelo Brasil - como a dependência à importação de produtos médicos e farmacêuticos - e destaca alternativas que estão sendo tentadas para reverter os quadros desfavoráveis. Cita o exemplo da Biobrás, que, junto com a Universidade Federal de Minas Gerais, desenvolveu e patenteou um processo para produção de insulina humana recombinante na década de 1990. Na época, apenas outras três empresas no mundo detinham tecnologia semelhante. A Nature Biotechnology ressalta também que o crescimento da biotecnologia no Brasil está intimamente ligado aos esforços do setor público: "Em nenhum exemplo isso é mais evidente do que no seqüenciamento da bactéria Xylella fastidiosa, que inspirou confiança nacional e trouxe reconhecimento internacional para a capacidade da genômica brasileira". O trabalho de sequenciamento foi financiado pela Fapesp. A revista traça um breve histórico da atuação das agências de fomento à pesquisa nas últimas décadas, como o lançamento pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), na década de 1970, de programas em genética e para estudos de doenças tropicais. Destaca também a liderança conduzida pelas fundações de amparo à pesquisa (FAPs), principalmente a da Fapesp, "que tem sido especialmente ativa e instrumental em organizar e financiar projetos de biotecnologia". O artigo aponta ainda a importância, declarada nas entrevistas feitas pelos autores com representantes do setor de C&T do Brasil, da atuação do diretor científico da Fapesp, José Fernando Perez. A reportagem considera outro destaque brasileiro a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). "Essa instituição se tornou um importante produtor de novos conhecimentos no campo da biotecnologia em saúde. Seus cientistas foram responsáveis por mais de 16% de todos os artigos científicos publicados em periódicos internacionais de 1991 a 2002", disseram. Outro ponto ressaltado é a importância das universidades brasileiras. Os destaques, levando em conta a proporção em relação ao total de artigos publicados no setor, ficam para a Universidade de São Paulo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade Federal de Minas Gerais. O artigo sobre o Brasil conclui afirmando ter o país plenas condições de "construir um sistema eficiente em biotecnologia que encoraje o fluxo de conhecimento e de inovação", mas aponta que o sucesso dependerá grandemente de um "desenvolvimento sistêmico" dessa base. Exemplos mundiais de inovação De acordo com o especial da Nature Biotechnology, apesar de os resultados verificados na biotecnologia em saúde serem bastante diferentes nos países analisados - principalmente quando se leva em conta os índices de desenvolvimento humano -, todos podem ser considerados exemplos de inovação. Os autores exploraram particularmente como as nações analisadas conseguiram desenvolver soluções no setor, encontrando caminhos para o promover a saúde. Depois da escolha dos países - Brasil, África do Sul, China, Coréia do Sul, Cuba, Egito e índia -, os pesquisadores partiram para a coleta de dados, que foi feita com base em diversas fontes. Além de documentos, recorreram a entrevistas, índices de citações de trabalhos científicos e números sobre informações relacionadas com patentes. As entrevistas feitas com fontes-chaves, em cada um dos sete países, foram consideradas centrais para a obtenção dos resultados. A escolha dos entrevistados se deu com base em análises prévias realizadas pelos autores e colaboradores. No Brasil, por exemplo, foram entrevistadas 33 pessoas. Na China foram 22 e na índia, 38. As citações bibliográficas relacionadas com os países foram estudadas por uma firma contratada especificamente para realizar a medição. O índice utilizado foi o Thomson ISI Science Citation Index Expanded Database, que conta com 6 mil revistas científicas publicadas em todo o mundo. De forma bastante esquemática, os resultados da análise foram divididos por países. Os autores preferiram listar as lições que podem ser úteis para outras nações a partir dos estudos de caso investigados. O estudo mostra que o Brasil acerta quando investe fortemente em sua capacidade científica, promove e explora as oportunidades existentes em diversos campos, usa sua biodiversidade para a área da saúde e busca acesso aos atores principais do processo de desenvolvimento científico. Nos casos de China e Cuba, o suporte governamental às políticas públicas também foi considerado positivo pelos pesquisadores. Algumas contradições também foram identificadas. Apesar do desenvolvimento da biotecnologia em saúde em países como Brasil e índia, nesses dois o acesso a medicamentos por parte da população pobre, por exemplo, continua baixo. O contrário ocorre na China, no Egito, na África do Sul, em Cuba e na Coréia do Sul. (Agência Fapesp, 7/12)