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Diário de S.Paulo

Folhetos ensinam clientes de casas noturnas a usar ecstasy

Publicado em 17 junho 2007

"Cuidado quando for consumir ecstasy. Tome, a princípio, meia dose. Depois de sentir os primeiros efeitos da 'droga do amor', decida se irá ou não ingerir a outra metade". Isso é o que recomendam flyers (folhetos) distribuídos na noite paulistana pelo projeto Baladaboa, e que são parte de uma tese de pós-doutorado. Os panfletos alertam o usuário a ter "cuidado com as 'pastilhas', cápsulas e líquidos desconhecidos" e que "procure informações com pessoas que já tenham usado o que você decidiu consumir". No site do projeto (www.baladaboa.org), há um aviso: "o projeto Baladaboa não promove nem encoraja o uso do ecstasy".
A distribuição desses folhetos é parte do pós-doutorado "Sobre o uso do ecstasy: uma pesquisa com vistas à formulação de intervenção preventiva", desenvolvido por Stella Pereira de Almeida e orientado por Maria Teresa de Araújo Silva, que é professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). A bolsa de estudos para o projeto é da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Ao site G1, Maria Teresa negou que o projeto faça apologia às drogas.
- Claramente estão feitas advertências contra os inúmeros perigos, como misturar com outras drogas, sobre a questão do sexo seguro que fica mais inseguro com o uso (do ecstasy) - disse ela ao portal, que também ouviu Stella Pereira.
- Acho que o conteúdo é polêmico, porque as pessoas ainda acreditam que é possível um mundo sem drogas. Acredito que não é possível um mundo sem drogas, mas as pessoas têm essa utopia - argumentou a pesquisadora Stella.

Médico reprova distribuição
Coordenador do Centro de Controle de Intoxicações e professor de pediatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o médico Fábio Bucaretchi reprovou a distribuição dos folhetos que informam como consumir ecstasy com segurança.
O corpo desenvolve uma tolerância rápida ao ecstasy, então não se sabe quais índices da droga são seguros para ser consumida - afirmou, lembrando que o ecstasy é uma droga ilegal.
- Vendem-se comprimidos de 30 miligramas e comprimidos de 200 mg. O que se está vendendo, como saber qual a quantidade adequada - questionou Bucaretchi.
Médico-assistente do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Hospital das Clínicas, Lucas Santos Zambon disse que, mesmo que o objetivo deste projeto seja orientar para o uso "correto" da droga, não deixa de ser uma apologia ao consumo do ecstasy.
- Apesar da campanha querer mostrar um consumo melhor, ela estimula o uso porque a pessoa vai se sentir respaldada (pela cartilha) - explicou Lucas.
- As drogas comerciais passam por diversos testes antes de chegarem ao mercado e, ainda assim, se descobrem efeitos deletérios (prejudiciais). De drogas como o ecstasy não há dados fidedignos (confiáveis) para saber qual a dose que cada um pode consumir - conclui o médico.