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Flores fluorescentes podem ajudar a tratar câncer e malária (1 notícias)

Publicado em 20 de fevereiro de 2015

Por Karina Toledo, da Agência FAPESP

Pétalas de flores fluorescentes são pigmentadas com betalaínas, uma classe de produtos naturais coloridos presente também na beterraba (Beta vulgaris) e na planta conhecida como primavera (gênero Bougainvillea).


Pesquisadores do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), que estudam a ocorrência de betalaínas na natureza, desenvolvem métodos para a preparação de derivados que possam ser usados para o diagnóstico e o tratamento de doenças como malária e câncer.


A pesquisa “Pigmentos betalâmicos de flores: fluorescência e capacidade antirradicalar”, apoiada pela FAPESP, foi coordenada por Erick Leite Bastos, professor do IQ-USP. O pesquisador também está à frente do projeto “Interações intermoleculares envolvendo betalaínas”, com previsão para seguir até 2016.


"A quantidade de betalaínas existente nas pétalas de flores fluorescentes, como a onze-horas ( Portulaca grandiflora), é pequena demais para viabilizar um estudo. Por isso, extraímos a betalaína – que dá a cor magenta à beterraba e é abundante, mas não é fluorescente – e a transformamos no pigmento das flores. Esse processo é chamado de semissíntese ou síntese parcial", contou Bastos.


O passo seguinte foi investigar como essa betalaína interagia com células animais vivas. “Queríamos saber se a betalaína das flores se acumularia também no interior de células animais, visto que elas são encontradas dentro da célula vegetal. No entanto, ao incubar a substância com eritrócitos humanos (glóbulos vermelhos), uma célula muito simples, não observamos nenhuma marcação”, disse.


Como as propriedades da betalaína das flores não favoreciam o seu acúmulo na célula modelo, o grupo desenvolveu uma betalaína artificial – chamada de betacumarina-120 (BtC-120) – que mantém o núcleo da substância natural, mas se acumula no interior de alguns tipos de células.


Em ensaios publicados na revista PLoS One, o grupo aplicou o BtC-120 em culturas de eritrócitos infectados pelo Plasmodium falciparum, um dos protozoários causadores de malária. A betalaína sintética – e atóxica – atravessou diferentes membranas e se acumulou no interior do parasita vivo, que ficou fluorescente.


Os cientistas tentam agora avaliar se a BtC-120 é capaz de distinguir o parasita de outras células. “O ensaio anterior foi feito com eritrócitos, que foi um ótimo sistema modelo. Nosso desafio é modificar o composto de forma a obter um marcador específico do parasita em meio a outros tipos de células”, contou Bastos.


Na avaliação do pesquisador, a facilidade com que algumas drogas antimaláricas já conhecidas podem ser ligadas a betalaínas abre perspectivas para o uso desses pigmentos como ferramentas de entrega monitorada de medicamentos.