Notícia

Diário da Saúde

Fique em casa, mas não fique parado, alertam pesquisadores (47 notícias)

Publicado em 04 de junho de 2020

Exercícios na quarentena

Entre os efeitos colaterais das medidas de isolamento social adotadas para conter a covid-19 está o aumento do sedentarismo, que pode contribuir para a deterioração da saúde cardiovascular mesmo em curtos períodos de tempo. Idosos e portadores de doenças crônicas tendem a ser os mais afetados.

Assim, o apelo feito por governantes e profissionais da saúde para que as pessoas "fiquem em casa" é válido na atual conjuntura, sem dúvida. Mas deve vir acrescido de uma segunda recomendação: "não fiquem parados".

"Uma pessoa precisa fazer ao menos 150 minutos de atividade física moderada a intensa por semana para ser considerada ativa, de acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde [OMS] e das sociedades médicas. O uso de academias e centros esportivos ficará limitado nos próximos meses, mesmo após o fim da quarentena. A atividade física realizada no ambiente domiciliar surge como uma alternativa interessante," esclarece o pesquisador Tiago Peçanha, da Faculdade de Medicina da USP.

Em um dos experimentos de intervenção avaliados pela equipe, por exemplo, voluntários foram induzidos a reduzir de 10 mil para menos de 5 mil o número de passos diários durante uma semana. Isso gerou uma redução no diâmetro da artéria braquial (principal vaso do braço), perda da elasticidade dos vasos sanguíneos e danos ao endotélio (camada de células epiteliais que recobre o interior das veias e artérias).

Há ainda experimentos em que os voluntários foram mantidos sentados continuamente durante períodos que variavam entre três e seis horas. O tempo de inatividade foi suficiente para promover alterações vasculares, aumento nos marcadores de inflamação e no índice glicêmico pós-alimentação.

"Essas primeiras alterações observadas nos estudos são funcionais, ou seja, o coração e os vasos sanguíneos dos voluntários saudáveis passaram a funcionar de forma diferente em resposta à inatividade física. Caso a situação se prolongue, porém, a tendência é que se transformem em alterações estruturais, mais difíceis de reverter," explica o pesquisador.

Se indivíduos saudáveis podem correr atrás do prejuízo - literalmente -, o impacto do sedentarismo prolongado tende a ser nefasto para pessoas com doenças cardiovasculares e outras condições crônicas de saúde, como diabetes, hipertensão, obesidade e câncer. Para estes casos, o pesquisador recomenda supervisão por profissionais de saúde, ainda que a distância, por meio de câmeras, aplicativos de celular e outros dispositivos eletrônicos.

Dados de relógios inteligentes

Dados divulgados nos últimos meses por empresas que comercializam relógios inteligentes e aplicativos para monitoramento de atividade física indicam queda no número de passos diários de seus usuários desde o início do confinamento.

"A norte-americana Fitbit, por exemplo, apresentou em seu blog, em 22 de março, dados de 30 milhões de usuários que mostraram uma redução entre 7% e 33% no número de passos dados por dia. No Brasil, há um levantamento feito pelo pesquisador Raphael Ritti Dias pela internet com mais de 2 mil voluntários. Mais de 60% afirmam ter reduzido seu nível de atividade física após o início da quarentena," conta Peçanha. "Essas ainda são evidências preliminares, mas há estudos em andamento que visam medir o efeito para a saúde da inatividade física durante a quarentena."

Checagem com artigo científico:

Artigo: Social isolation during the COVID-19 pandemic can increase physical inactivity and the global burden of cardiovascular disease

Autores: Tiago Peçanha, Karla Fabiana Goessler, Hamilton Roschel, Bruno Gualano

Publicação: American Journal of Physiology

DOI: 10.1152/ajpheart.00268.2020

Artigo: Risk of Increased Physical Inactivity During COVID -19 Outbreak in Older People: A Call for Actions

Autores: Hamilton Roschel, Guilherme G. Artioli, Bruno Gualano

Publicação: Journal of the American Geriatrics Society

DOI: 10.1111/jgs.16550

Com informações da Agência Fapesp