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Finlândia e Unesp colaboram em pesquisas sobre biodiversidade

Publicado em 28 julho 2014

Três propostas da Unesp foram contempladas em uma chamada envolvendo biodiversidade e uso sustentável de bens naturais, publicada no final de 2013. Os projetos terão duração de quatro anos, deverão envolver a cooperação com instituições finlandesas e serão financiadas pela Fapesp (Fundo [Fundação] de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e pela AKA (Academy of Finland).

 

Um dos projetos selecionados se chama Scaling Biodiversity in Tropical and Boreal Streams:Implications for Diversity Mapping and Environmental Assessment (SCALEBIO), proposto pelo professor Tadeu de Siqueira Barros, do Instituto de Biociências de Rio Claro em parceria com o professor finlandês Jani Markus Heino, da Universidade de Oulu.

 

A proposta envolve uma área em que o professor de Rio Claro já tem experiência: o estudo da biodiversidade de riachos, no caso, comparando este sistemas na região tropical e na região temperada finlandesa. "Já existem trabalhos que relacionam riachos dessas duas regiões, mas baseados em estudos diferentes, que depois foram comparados. Nosso pioneirismo está em fazer este estudo amplo, com métodos padronizados aplicados aqui e na Finlândia para, em seguida, compará-los", explica.

 

Barros afirma que o estudo irá trabalhar em diversas escalas que vão desde o riacho especificamente até o conjunto da bacia hidrográfica em que ele está inserido. A proposta é, no Brasil, trabalhar dentro de um universo de vinte paisagens inseridas no sistema Cantareira, que devem incluir áreas bem preservadas e outras áreas onde impacto humano e o uso do solo já é mais notável.

 

"Aplicando este projeto aqui e na Finlândia, a gente pode tentar entender qual é a intensidade dessa atividade humana, por exemplo. Podemos analisar a partir de quanto de perda de cobertura vegetal identificamos alterações nos padrões de diversidade", esclarece o professor, que também ressalta que o projeto está vinculado ao programa de pós-graduação em ecologia e biodiversidade do Instituto de Biociências, de Rio Claro.

 

Colega do professor Tadeu Siqueira em Rio Claro, o professor Milton Cezar Ribeiro teve o projeto New Sampling Methods and Statistical Tools for Biodiversity Research: Integrating Animal Movement Ecology with Population and Community Ecology aprovado em parceria com o professor Otso Vaskainen, da Universidade de Helsinki. Além do professor Ribeiro, os colegas Mauro Galleti e Marco Piso também estão envolvidos no projeto.

 

O foco da proposta está no monitoramento da biodiversidade, mas a motivação principal é desenvolver métodos inovadores para este monitoramento e para a análise dos dados que serão coletados na Mata Atlântica, na Amazônia e no Pantanal.

 

Distintas espécies de animais serão monitoradas e para cada uma delas haverá um equipamento específico. Gravadores vão registrar as atividades de anfíbios e da avifauna. Tucanos e queixadas, por sua vez, serão monitorados por diferentes modelos de GPS. Abelhas serão acompanhadas por radares e o monitoramento das onças será feito por uma parceria com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

 

A equipe do professor Otso Vaskainen, da Universidade de Helsinque, será responsável principalmente pelo desenvolvimento de métodos de avaliação destas informações. "Eles têm expertise na matemática biológica e dominam muito bem esse aspecto do tratamento dos dados", explica o professor de Rio Claro. "Juntos, nós vamos desenvolver novos métodos para transformar estes dados em informações, o que seria a parte mais audaciosa e inovadora do projeto".

 

Outro aspecto do estudo é a construção de uma biblioteca de sons que ajudaria a identificar automaticamente a vocalização de diversas espécies. O projeto também propõe o cruzamento dos dados de monitoramento com a genética de espécies de plantas como o palmito e a embaúba, uma vez que as aves monitoradas também são responsáveis diretas pela dispersão de sementes. Para tanto, o projeto pretende usar o conhecimento do Laboratório de Fenologia e do programa E-phenology, coordenado pela professora Patrícia Morelatto, da UNESP. A pesquisa também prevê parcerias com outras instituições além da universidade finlandesa, como USP Ribeirão Preto e a Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos.

 

O terceiro projeto aprovado pela Unesp vem da Faculdade de Ciências e Tecnologia, no câmpus Presidente Prudente, onde o professor Antônio Maria Tommaselli estabeleceu uma parceria com o professor Juha Hyyppa, do Finnish Geodetic Institute para desenvolver a proposta intitulada Unmanned Airborne Vehicle - Based 4D Remote Sensing for Mapping Rain Forest Biodiversity and its Change in Brazil (UAV_4D_BIO).

 

O projeto também envolve o mapeamento e monitoramento da biodiversidade, mas usando outras ferramentas de aquisição de imagens e dados geoespaciais. Para tanto, um dos focos é usar o conhecimento finlandês no mapeamento de florestas usando veículos aéreos não-tripulados (VANT), também chamados de drones.

 

Segundo o professor Tommaselli, um dos desafios do projeto é adaptar esta tecnologia para o perfil da reserva do Mico Leão Preto, na região do Pontal de Paranapanema, local escolhido para os estudos. O pesquisador da Unesp lembra que o tipo de floresta na Finlândia é predominantemente de coníferas, enquanto na reserva predomina a Mata Atlântica, mais heterogênea, com densidade foliar distinta, entre outros pontos.

 

"Um dos objetivos do projeto é justamente testar estas técnicas no tipo de ambiente da Mata Atlântica. Mas por outro lado, à medida que a gente vai se envolvendo e conhecendo essas técnicas, surgem mais questionamentos e consequentemente mais oportunidades de pesquisa", explica Tommaselli.

 

Cabe ressaltar que um dos critérios para a aprovação dos projetos na chamada FAPESP-AKA inclui planos de mobilidade acadêmica entre os dois países. Além disso, a colaboração com outras instituições de pesquisa também é incentivada.

 

Marcos Jorge

Portal Unesp