Transformar o vinho paulista em símbolo de qualidade, capaz de competir no mercado com as produções nacionais e internacionais, é uma das metas da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), em conjunto com diversos órgãos de pesquisa, também incluídos no projeto que prevê aumentar de cerca de 30 para mais de 100 o número de produtores formais de vinho do Estado, em um prazo de dez anos.
A dinamização do setor deverá atingir toda a cadeia produtiva - do plantio da uva ao engarrafamento. Campinas será o centro tecnológico e sede do Laboratório de Ensaios Físico-químicos de Bebidas, com ênfase na produção de vinho e cachaça, previsto para inaugurar em novembro com investimento de R$ 2,35 milhões da Fiesp e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
Segundo Fausto Longo, enófilo e presidente da SP Vinho, Campinas é um ponto estratégico dentro do projeto, batizado como Programa SP Vinho. "Toda essa área produtiva para vinicultura se localiza no entorno da cidade. No eixo Campinas-Jundiaí-São Roque já existe a cultura agrícola da uva, como herança dos imigrantes, ainda que o conhecimento hoje seja precário."
Depois que foi procurada pela indústria vinícola paulista, a Fiesp começou a articular o projeto. O Senai já começou a comprar os equipamentos que serão instalados no laboratório de Campinas, segundo o diretor do Senai da Saudade, Magno Diaz Gomes.
A missão do laboratório é garantir a qualidade pretendida para as bebidas. "Seremos referência no estudo de alimentos; e ainda teremos investimento de R$ 6 milhões até 2008" , diz Gomes.
"Até hoje, em São Paulo, quando se fala em vinho, nós pensamos na produção artesanal. Precisa haver um esforço de muitas instituições para transformar o vinho em produto de exportação; é preciso criar a base de sustentação tecnológica" , defende o presidente da SP Vinho. Longo acredita que o mercado é promissor. Segundo ele, existe interesse de transferência tecnológica por parte de entidades como a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), entre outros. "Para fazer esse resgate da vitivinicultura, o projeto da Fiesp tem várias frentes. Estamos desenhando a cadeia produtiva do setor, que inclui o vidro, a rolha, o rótulo, fertilizantes, defensivos, irrigação" , diz Longo.
Depois do Sul, São Paulo é o segundo maior produtor de vinho de mesa, com 1 mil toneladas por ano de uva. A produção se concentra em Valinhos, Vinhedo, Jundiaí e Jales.
"São Paulo é responsável por 64% do consumo de vinho no País. Mas, por ano, o Estado compra 75 milhões de litros de vinho do Sul para ser engarrafado aqui. Estamos deixando de gerar emprego, imposto e fixação do homem no campo, o Estado perde divisas" , afirma o enófilo.
Um estudo da Embrapa e da Unicamp está definindo a uva ideal para solo e clima paulistas. Segundo Longo, a Serra da Mantiqueira tem características semelhantes a algumas regiões da França.
O projeto tem apoio de Alexandre Serpa, diretor titular do Departamento de Ação Regional da Fiesp. O laboratório em Campinas deverá atender principalmente as pequenas empresas. As análises terão preços abaixo do mercado, de acordo com o diretor do Senai. "É preciso estimular a tecnologia e fazer a produção rentável" , diz o presidente da SP Vinho.
O projeto tem ainda a participação do Instituto de Estudos Agronômicos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). As reuniões serão realizadas nas cidades de Campinas, Jarinu, Jundiaí e São Roque.