Notícia

Gazeta Mercantil

Fieldbus na liderança tecnológica

Publicado em 13 maio 1997

Por Carlos Liboni *
Para quem anda atrás de boas notícias para continuar apostando no futuro do País, a indústria nacional tem uma excelente novidade. O Brasil saiu na frente na nova corrida tecnológica patrocinada pela indústria mundial, que busca modernizar-se nesta virada de milênio para, finalmente, atingir a tão desejada qualidade total. E não se trata de nenhuma presunção ou qualquer patriotada. A boa notícia é que o Brasil começou a exportar para o resto do planeta a primeira safra mundial de equipamentos da família Fieldbus, um sistema inovador que está sendo anunciado no mundo inteiro como uma nova revolução na história da automação industrial. Ainda desconhecido do grande público, o Fieldbus (ônibus de campo, numa tradução literal) vem ocupando, há anos, boa parte do tempo de engenheiros e técnicos da indústria mundial. Por causa da crescente necessidade de obter maior produtividade e, especialmente, maior qualidade para seus produtos, esses cientistas vinham correndo para tentar atingir os mesmos níveis de tecnologia e perfeição alcançados, antes, graças aos avanços da informática, por outros setores da economia, como o de serviços. Para se ter uma idéia da importância do Fieldbus, basta dizer que ele vai ser tão indispensável no dia-a-dia de qualquer indústria quanto as redes como a Internet o são para ai comunicação mundial. Ele permite, por exemplo, que qualquer pessoa, com a ajuda de um pequeno microcomputador ou um "notebook", controle todo o processo fabril da empresa, da temperatura ou pressão de uma caldeira, por exemplo, até a acidez de um determinado produto. O próprio sistema recebe, o tempo todo, os sinais com informações bastante detalhadas sobre o funcionamento de cada canto da fábrica e ainda toma, em tempo real e com incrível precisão, todas as decisões necessárias para corrigir a operação e garantir o funcionamento otimizado. O ingresso da comunicação digital no campo é a mais importante transição tecnológica na área de instrumentação e controle de processo fabril no setor industrial. Embora boa parte das fábricas já tenha evoluído da tecnologia eletrônica analógica para a digital, ainda existe, em boa parte delas, um sistema muito antigo, conhecido como pneumático - que é uma herança em desuso. Vale a pena destacar que essa descoberta não é pouco! E, principalmente, se se levar em conta que a automação industrial no Brasil - seja por falta de recursos para investir, seja por dificuldade de acesso às novas tecnologias - historicamente esteve sempre atrasada se comparada com o que existe dentro das empresas concorrentes do Primeiro Mundo. Isso também se repete com o controle de processos, que, grosso modo, é um dos mais importantes instrumentos para garantir a produtividade e a qualidade total na indústria, imprescindíveis para ter competitividade numa economia globalizada. Pois não é que essa autêntica revolução que está em curso no mundo industrial tem dedos e cérebro brasileiros?! Pesquisado por cientistas industriais dos países desenvolvidos, o Fieldbus acabou sendo desenvolvido, de forma pioneira, por uma empresa brasileira (a Smar, de Sertãozinho, no interior de São Paulo) e testado com sucesso em outra empresa brasileira (a Deten, do Pólo Petroquímico de Camaçari, na Bahia). Somente agora as gigantes mundiais do setor de instrumentação; estão correndo atrás do prejuízo. Mas devem demorar cerca de dois anos para colocar seus produtos no mercado e igualarem-se à indústria nacional, que já está comercializando no Brasil e no exterior tanto equipamentos como as ferramentas para desenvolvê-los. É evidente que isso ainda é muito pouco, se forem levadas em consideração todas as necessidades de avanço reclamadas, com razão, pela sociedade. Mas a experiência de Sertãozinho, terra de canaviais e berço do Proálcool, só vem reforçar a tese de que não resta outra alternativa senão investir em tecnologia para galgar um lugar entre os países desenvolvidos. Ali, uma empresa 100% nacional, surgida no fundo de quintal, decidiu montar um centro de pesquisas com 120 cérebros formados em algumas das melhores universidades brasileiras. Investiu um em cada dez dólares faturados anualmente em pesquisa. Deu certo. Por que não tentar?! * Diretor internacional da Smar, presidente do Comitê de Desenvolvimento Internacional da Sociedade Internacional para Medição e Controle (ISA) e diretor da Fundação Fieldbus e da Fiesp.