Desenvolvida por cientistas do Centro de Pesquisa em Alimentos da USP, tecnologia poderá ajudar nutricionistas no processo de tomada de decisão, otimizando o trabalho da consulta
Ao gerar os planos alimentares, a ferramenta faz a estimativa da necessidade de energia, considerando a distribuição adequada de macronutrientes -
Pesquisadores do Centro de Pesquisa em Alimentos ( FoRC ) utilizaram uma técnica de inteligência artificial (IA) para desenvolver uma ferramenta computacional que, no futuro, possibilitará aos nutricionistas gerar planos alimentares personalizados de maneira automática para seus pacientes. A ferramenta já foi testada por nutricionistas, que concordaram com 89% das características dos planos alimentares elaborados. A metodologia e a avaliação foram descritas em artigo publicado no Journal of Food Composition and Analysis.
Entre várias técnicas de IA analisadas, os pesquisadores escolheram uma que é aplicada em jogos computacionais, chamada Máquina de Estados Finito (MSF). Por meio dela, o computador executa uma determinada ação até que o resultado almejado seja alcançado. “Há uma série de regras e possibilidades de combinações de alimentos. A ferramenta gera diversos planos alimentares com base nessas regras, sendo capaz de compreender quais são as combinações corretas. Isso evita, por exemplo, que o sistema sugira arroz e feijão para o café da manhã”, explica a nutricionista Kristy Soraya Coelho, pesquisadora do FoRC – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão da FAPESP sediado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP).
No processo de tomada de decisão da máquina, são consideradas a composição química dos alimentos e suas formas de preparo (cozido, assado, grelhado, com molho, presença ou ausência de tempero, entre outros), a sazonalidade e as características sensoriais dos alimentos (cor, sabor e textura). As preferências, restrições e recomendações nutricionais do paciente são inseridas na ferramenta pelo nutricionista. A máquina faz então o cruzamento de todas as variáveis e possibilidades de alimentos e preparações e elabora as escolhas a partir delas, criando o plano alimentar.
“A ferramenta entende, por exemplo, que é preciso ter uma bebida no café da manhã, que pode ser leite, café, chá, café com leite, entre outros, além de outros alimentos, como pão, biscoito, bolo ou uma fruta; para então fazer as escolhas e definir as refeições. Se o paciente, por exemplo, não consome tomate, esse alimento de forma isolada ou mesmo em preparações não fará parte das refeições do plano alimentar, como em uma salada, molho ou um prato misto”, detalha Coelho, coordenadora do projeto.
Ao gerar os planos alimentares, a ferramenta faz a estimativa da necessidade de energia, considerando a distribuição adequada de macronutrientes (60% de carboidratos, 15% de proteínas e 25% de lipídios) e de micronutrientes (vitaminas e minerais), segundo as recomendações de ingestão na dieta (Dietary Reference Intakes - DRIs). “Caso seja necessário, é possível fazer a substituição dos alimentos e preparações, alterar as porções e a ferramenta fará o ajuste no plano alimentar”, explica.