Pedro Luiz Côrtes explica a relação do El Niño e do La Niña com o aumento dos casos de dengue, principalmente o primeiro, marcado por períodos quentes e úmidos, sobretudo nas Regiões Sul e Sudeste
A influência crescente das mudanças climáticas indiretamente interfere na saúde pública, contribuindo para a proliferação de doenças como a dengue – Foto: James Gathany/CDC-HHS
Tocador de áudio
https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2024/12/DESTAQUE-CONDICOES-CLIMATICAS-E-DENGUE_PEDRO-CORTES_20-12-24.mp3
Use as setas para cima ou para baixo para aumentar ou diminuir o volume.
Um levantamento de dados realizado por pesquisadores da Fiocruz e do Procam (Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental) da USP revelou que fenômenos climáticos como o El Niño e La Niña relacionam-se diretamente com o crescimento de casos confirmados de dengue registrados no Sistema Único de Saúde (SUS). Os dois fenômenos climáticos, que ocorrem de forma natural e são intensificados pela ação humana, atuam especificamente sobre o volume de chuva e variação de temperatura de uma região. Dessa forma, a ocorrência de tais fenômenos afeta diretamente a incidência de focos da doença, situação detalhada pelo professor Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes e do Instituto de Energia e Ambiente da USP.
Fenômenos
Segundo o professor, os dois fenômenos afetam os mesmo elementos climáticos, entretanto, de maneiras opostas: “O El Niño é um fenômeno natural, um fenômeno climático que intensifica as chuvas e eleva as temperaturas na Região Sul e em parte da Região Sudeste. Ao mesmo tempo, ele reduz o volume de chuvas na Região Norte e Nordeste. O fenômeno La Niña, em contraste, gera efeitos opostos, diminuindo as chuvas e temperaturas no Sul e no Sudeste e provocando um aumento das chuvas na região Norte e Nordeste”, explica Côrtes.
Pedro Luiz Côrtes – Foto: Lattes
Ambos os fenômenos ocorrem de maneira natural, atuando como reguladores do clima. Entretanto, com a ação humana e influência crescente das mudanças climáticas, ambos têm se intensificado e causado cada vez mais desastres, com calor excessivo ou com volume de chuvas exacerbado. Além de, indiretamente, interferir na saúde pública, contribuindo para a proliferação de certas doenças. Esse é o caso da dengue, doença cuja proliferação é intensificada em ambientes quentes e úmidos, logo, especificamente, durante os períodos de El Niño e La Niña.
“A análise dos dados oficiais do SUS sobre os casos confirmados de dengue comparados com os registros do fenômeno El Niño e La Niña revela que a incidência de dengue tende a ser maior durante os períodos de El Niño, porque ocorre um aumento de chuvas e temperaturas na Região Sul e em parte da Região Sudeste (…) a comparação entre os dois conjuntos de dados de casos confirmados de dengue e a ocorrência do fenômeno El Niño e La Niña mostram que a tendência da ocorrência da dengue tende a ser maior durante o El Niño.”
Prevenção
Para a prevenção da doença, o professor enfatiza a necessidade de um amplo incentivo de políticas públicas contra a doença. “É fundamental que o poder público, o sistema de saúde intensifiquem as campanhas de prevenção à dengue, considerando a possibilidade de uma situação similar em 2013, quando houve um aumento do número de casos confirmados durante um período de neutralidade climática entre o El Niño e o La Niña.”
Sobre a possibilidade de utilização de vacinas contra a dengue, Côrtes alerta que o processo de liberação para a utilização delas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) pode ser demorado, assim, métodos de prevenção mais simples precisam ser exercitados. “Embora o Instituto Butantã tenha solicitado o registro de uma vacina contra dengue, o que pode levar as pessoas a relaxarem as medidas de combate à proliferação do Aedes aegypti, o processo de liberação da vacina ainda está em análise pela Anvisa, que é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e levará algum tempo para que a vacina esteja amplamente disponível na população. Então, até lá, a prevenção permanece como única medida eficaz para evitar novos surtos da doença.”
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar n o ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.
Política de uso