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Febre amarela, dengue, zika e chikungunya: qual doença é a mais perigosa? (2 notícias)

Publicado em 29 de julho de 2019

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Por Giulia Granchi | UOL Viva Bem

Nos últimos anos, doenças transmitidas por mosquitos assustaram brasileiros. De acordo com boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde, dengue, zika e chikungunya foram responsáveis por matar mais de 1300 pessoas em 2016,2017 e 2018, e já somam mais de 244 mil possíveis casos só no primeiro semestre de 2019.

Porém, a febre amarela é o problema mais perigoso espalhado pelos insetos voadores, conforme afirmou em entrevista exclusiva ao UOL VivaBem o cientista português Nuno Faria, um dos maiores especialistas em doenças tropicais do mundo, pesquisador do departamento de Zoologia da Universidade Oxford (Reino Unido) e colaborador do projeto CADDE*.

"Apesar de ser a doença que apresenta o maior número de mortes, a febre amarela também é a única para qual conseguimos nos proteger de forma mais segura, porque existe vacina", afirma Faria.

Os primeiros casos da doença no Brasil foram datados no século 17. Até o fim dos anos 1920, os surtos estavam sempre associados a cidades portuários e centros urbanos e envolvia o mosquito Aedes Aegypti. Mas, após esse período, a presença da enfermidade no país se tornou mais complexa. "Envolveu florestas, padrões epidêmicos, ciclo selvático abrangendo mosquitos selvagens e primatas não humanos... O vírus se estabeleceu no Brasil e é algo que indica que a população que não foi vacinada está continuamente em risco", esclarece Faria.

A melhor forma de prevenção contra a febre amarela continua sendo a vacina, desenvolvida em 1937, que deve ser tomada a partir de 9 meses de idade por pessoas residentes ou que viajarão para as áreas em que a imunização é recomendada pelos órgãos de saúde (tire suas dúvidas sobre vacina da febre amarela).

Outras doenças tropicais também merecem atenção

A dengue, doença que causou os primeiros surtos no Brasil na década de 1980, é classificada como a segunda mais preocupante pelo especialista. Isso por que o vírus tem alta capacidade de reprodução e diferentes linhagens, além de apresentar um aumento de mais de 300% no Brasil em 2019 em comparação último ano --são mais de 600 mil casos até junho, além de cerca de mil cidades com risco de surto.

A dengue é uma doença para qual ainda não vemos um fim, e é cedo para dizer qual a causa do seu aumento recente. Acredito em três hipóteses principais: uma linhagem nova, que atinge a população de forma mais forte; uma mistura com o vírus da zika, que é muito parecido com o da dengue; e mudanças climáticas que favorecem os mosquitos

Os vírus da zika e chikungunya também são perigosos, mas apresentam taxas de mortalidades muito menores. "Além disso, são doenças com surtos menos frequentes, e devemos passar entre 10 a 20 anos sem um novo contágio grande no Brasil, intervalo que ocorre devido à imunidade em nível populacional: quem já foi infectado está protegido por anticorpos, e uma nova geração precisa nascer para que população que não foi infectada seja grande o bastante para causar um novo surto", explica Faria.

Para cada uma dessas duas doenças, no entanto, o pesquisador indica particularidades que devem ser mantidas em mente. "O vírus da zika é particularmente perigoso para mulheres grávidas, porque pode resultar em bebês com microcefalia; enquanto o chikungunya têm consequências em longo prazo -- o infectado pode sentir dores durante meses ou até anos."

Estratégias para se proteger contra o mosquito

De acordo com o Ministério da Saúde, as principais medidas de prevenção e combate ao Aedes Aegypti -- principal transmissor da dengue, zika e chikungunya -- são:

-Manter bem tampados os tonéis, caixas e barris de água;

-Lavar semanalmente com água e sabão tanques utilizados para armazenar água;

-Remover galhos e folhas de calhas e não deixar água acumulada sobre a laje;

-Encher pratinhos de vasos com areia ate a borda ou lavá-los uma vez por semana;

-Trocar água dos vasos e plantas aquáticas uma vez por semana;

-Colocar lixos em sacos plásticos e em lixeiras fechadas;

-Fechar bem os sacos de lixo e não deixar ao alcance de animais;

-Manter garrafas de vidro e latinhas com a boca para baixo;

-Acondicionar pneus em locais cobertos;

-Fazer sempre manutenção de piscinas;

-Tampar ralos e colocar areia ou cimento nos cacos de vidro de muros;

-Não deixar água acumulada em folhas secas e tampinhas de garrafas;

-Tampar e verificar semanalmente os vasos sanitários externos;

-Limpar sempre a bandeja do ar condicionado;

-Esticar bem as lonas para cobrir materiais de construção e não deixar acumular água;

-Recolher sacos plásticos e lixo do quintal.

Projeto brasileiro une esforços para combater arbovírus

Coordenado pela professora Ester Cerdeira Sabino, do IMT (Instituto de Medicina Tropical) de São Paulo, vinculado à USP (Universidade de São Paulo), em parceria com pesquisadores da Universidade de Oxford e com apoio da Fapesp, o projeto CADDE (Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus) tem como objetivo desenvolver metodologias para antecipar e combater epidemias de arbovírus, particularmente em regiões grandes e muito povoadas.

O plano congrega cientistas com diferentes conhecimentos --como médicos, epidemiologistas, virologistas, biologistas moleculares, matemáticos e geógrafos -- que buscam compreender de forma integrada as epidemias de arbovírus no Brasil. "A ideia é desenvolver técnicas de biologia molecular para detectar novos agentes e sequenciar os agentes conhecidos de forma mais barata. Assim, podemos sequenciar um grande número de amostras de dengue, chickungunya, zika e febre amarela, para poder compreender como as epidemias estão acontecendo,"diz Sabino.

Além de investir no sequenciamento e em análises filogenéticas de arbovírus em diversas áreas do estado de São Paulo, a iniciativa também atua desenvolvendo projetos científicos e multidisciplinares na área de vigilância.

"São mais de 50 pesquisadores brasileiros envolvidos, além de colaboradores estrangeiros em Oxford. O projeto também visa estabelecer parcerias com os órgãos públicos, como o Ministério da Saúde, para criar campanhas e educar a população", explica Nuno Faria, pesquisador português envolvido na iniciativa.