A Fundação Conrado Wessel (FCW) realizou, no dia 7 de outubro, a cerimônia de entrega dos prêmios de Cultura, Medicina e Artes de 2016. Neste ano, os premiados por seus talentos inovadores, abrangência social, trabalho incansável, integridade e ética foram o oftalmologista Rubens Belfort Mattos Júnior (em Medicina), a escritora Lygia Fagundes Telles (em Cultura) e os fotógrafos Luiz Baltar, Tiago Coelho e Inês Bonduki (categoria Arte) em primeiro, segundo e terceiro lugar, respectivamente. A cerimônia aconteceu na Casa Fasano, em São Paulo.
O evento contou com a participação de representantes do meio científico e acadêmico, como a vice-presidente da SBPC, Vanderlan Bolzani, o presidente da FCW, Américo Fialdini Júnior, o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luis Davidovich, o ex-diretor do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e ex-presidente da ABC, Jacob Palis, o ministro de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, Gilberto Kassab, e o secretário estadual de Saúde, David Uip.
O ministro Gilberto Kassab parabenizou os premiados e a FCW, e ressaltou, em seu discurso, a importância de se investir em ciência e cultura. ”Nós precisamos investir, como fez o Conrado Wessel, nas ciências, nas culturas e na medicina. É o melhor caminho para desenvolver o País. Investindo no talento, no trabalho e no ser humano”, afirmou o ministro.
Medicina
O prêmio de Medicina foi entregue para o oftalmologista Rubens Belfort Mattos Júnior. O médico dedicou grande parte de sua carreira a levar tratamentos e exames de prevenção da toxoplasmose ocular para população carente no norte e nordeste do País, e para regiões periféricas de São Paulo.
Belfort destacou o papel da FCW no reconhecimento de cientistas e suas pesquisas. “A premiação é muito importante porque serve para comunicar a diferentes segmentos da sociedade brasileira a importância da pesquisa científica. [A pesquisa é] a única maneira de analisar e resolver os problemas do Brasil, sejam eles sociais, médicos, ou de diferentes áreas. Também é importante que os cientistas e os pesquisadores recebam da sociedade brasileira o mérito que eles têm”, disse.
O médico ressaltou ainda a atuação da SBPC, onde é Conselheiro. “Eu só represento um desses cientistas que vêm tentando difundir essa ideia inclusive através da SBPC, que, sem dúvida, lidera nós todos nisso”, afirmou.
Também presente na cerimônia, a vice-presidente da SBPC, Vanderlan Bolzani, destacou a importância do prêmio para a sociedade brasileira e para o progresso da ciência. “Eu acho que o evento é extremamente importante para a ciência brasileira. Ganhar o prêmio da FCW é um reconhecimento do trabalho científico muito gratificante. Para a SBPC também é muito marcante, porque o Rubens, além de grande cientista e oftalmologista, é membro do conselho da SBPC. Então, eu acho que isso reforça que a nossa sociedade, além de ter esse compromisso de lutar pela ciência, educação e tecnologia nacional, é um ambiente de cientistas reconhecidos nacional e internacionalmente. Por ele ser um membro da SBPC, considero que seja também um prêmio para a nossa Sociedade”, disse Bolzani.
Cultura
A vencedora do prêmio de Cultura foi Lygia Fagundes Telles, uma das mais renomadas escritoras do País, que já recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais, entre eles o Prêmio Jabuti, em 1966, o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte, em 1973 e 1980, e o Prêmio Camões, em 2005. Telles apontou que vivemos um momento de conflito com a palavra escrita que, para ela, é “vasta, densa, rica e traz em toda ela um sentido comum e ao mesmo tempo singular”.
A escritora aponta o papel do escritor para a cultura por meio de uma metáfora, comparando-o ao polvo, que no temor da morte, solta tinta preta para se esconder do perigo. “Os escritores não. Eles precisam viver e ver o próximo na transparência da água, vencer o medo para escrever sobre ele, e resgatar a palavra através do amor”, afirmou.
A escritora afirma que a crise maior da sociedade é que as pessoas não se sentem mais heróis no plano da ação, mas que ainda existem “missionários” do heroísmo e da ação nas universidades e na política. “Com a premiação, a Fundação faz um heroico convite aos jovens e aos velhos: me leia, não me deixe morrer”, concluiu.
Arte
A cerimônia também contou com a entrega dos prêmios de Arte (Fotografia). O primeiro lugar ficou com Luiz Baltar, pelo projeto “Fluxos/Contrafluxos”. Baltar fotografou diversas situações na cidade do Rio de Janeiro nos últimos anos, para discutir o direito à cidade e a tensão causada pelas manifestações sociais que lá ocorrem.
No segundo lugar, foi premiado Tiago Coelho, pelo ensaio “Balneário Alegria”, que retratou a realidade da pequena cidade de Guaíba, no sul do Brasil. Lá está localizada a única fábrica de celulose do mundo que fica dentro de uma cidade, o que gera uma relação conflituosa entre a fábrica e os moradores, que dependem dela para a economia, mas que lutam para a diminuição dos impactos ambientais e melhores condições de vida na região.
Em terceiro lugar, ficou Inês Bonduki, pelo seu projeto “Linha Vermelha”. Nele, Bonduki capturou e eternizou realidades diferentes do contato corporal: a proximidade dos corpos nos metrôs da linha vermelha e em jam sessions de dança, ambos em São Paulo.
A fundação e a premiação
A FCW é uma instituição sem fins comerciais e de marketing, criada em 1995, após a morte do fotógrafo Ubaldo Augusto Conrado Wessel, que manifestou em seu testamento a vontade de criar uma entidade filantrópica para fomentar atividades culturais, artísticas e científicas no Brasil.
Desde 2003, a instituição distribui anualmente R$ 1.200.000,00 em prêmios, por meio do prêmio FCW de Arte, Ciência, Cultura e Medicina, e ainda oferece bolsas no exterior para músicos e cientistas. O prêmio reconhece perfis ilustres, com talento inovador, abrangência social, trabalho incansável, integridade e ética, à personalidades ou entidades de reconhecimento nacional nos campos da arte, ciência e cultura.
Os vencedores foram escolhidos em dezembro do ano passado, por meio de indicações de centros de ensino e pesquisa de todo o país e escolhidos por um júri. Entre eles, estavam a comissão julgadora formada pela Fapesp, juntamente com a ABC, Academia Brasileira de Letras (ABL), Academia Nacional de Medicina (ANM) Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), Marinha do Brasil, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Fundação Conrado Wessel (FCW).
Na área de Medicina, já foram homenageados Ricardo Renzo Brentani, Adib Jatene, Maria Inês Schmidt, César Gomes Victora, Protásio Lemos da Luz, José Rodrigues Coura, Marcos Moraes, Miguel Srougi, Angelita Habr-Gama, Ricardo Pasquini, Fúlvio Pileggi e Ivo Pitanguy.
Na categoria de Cultura prêmio já foi destinado a Fernanda Montenegro, Niéde Guidon, João Carlos Martins, Paulo Vanzolini, Nelson Pereira dos Santos, Antônio Nóbrega, Ariano Suassuna, Ruth Rocha, Fábio Lucas, Affonso Ávila, Lya Luft e Ferreira Gullar.
Estagiária da SBPC, para o Jornal da Ciência