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Folha da Região (Araçatuba, SP) online

Faz me rir (1 notícias)

Publicado em 20 de julho de 2004

Na sexta-feira (9/6) o professor Jorge Napoleão Xavier publicou, no espaço que lhe é atribuído semanalmente neste jornal, um texto cujo título "Expô" acalorava a atuação de uma das associações sindicais mais tradicionais de nossa região, a dos pecuaristas. Até aí tudo bem, afinal de contas, lembrar o quanto este segmento da sociedade araçatubense contribuiu e ainda contribui paia a atual situação que nos encontramos nunca é enfastiante. Mas sua afirmação de que tal setor constitui o maior pólo de distribuição de riqueza de nossa cidade fere até mesmo os ouvidos mais incautos. Tal afirmação só pode representar uma tentativa gratuita e planfetária de sublinhar, mais uma vez aos nossos olhos os nomes daqueles que são considerados pela historiografia de boteco os pioneiros de nossa castigada cidade, ou figura um absoluto desconhecimento a respeito do processo histórico de desenvolvimento da região de Araçatuba e da forma pela qual esta se inseriu no contexto mas amplo da estrutura sócio econômica de nosso país ao longo da trajetória de sua constituição. Ou será que todo o conhecimento produzido pelos poucos que ainda se atrevem à busca do entendimento acerca da realidade de nossa região e escarmentada cidade não aceitou "uminha" sequer, mesmo se amparando nos rigores da epstême científica. Afirmar que a forma pela qual nossa região se inseriu na Divisão Internacional do Trabalho e suas sucedâneas escalares de menores dimensões, a partir da década de 1940, quando a pecuária passa a figurar a principal forma de acumulação de capital no âmbito regional, é de uma "metabstração" tão bovina que só se compara à quantidade exorbitante de pessoas expulsas do campo neste período, pelo processo de concentração fundiária responsável pelo atrofiamento da circulação da riqueza em nossa região. Num país que precisa importar metade dó arroz e feijão que consome, numa cidade onde 20% da população mas rica se apropria de 60% mais pobres se defloram por míseros 17%, e mais numa urbe onde 80% dos habitantes que tiveram acesso à pós-graduação vivem num único bairro, o Nova Iorque, bairro até a pouco tempo preferido da elite araçatubense, inclusive dos pecuaristas, configurando um dos piores casos de segregação sócio espacial urbana do oeste paulista, a afirmação do nosso caro amigo de profissão não possui status de verdade. Para finalizar, mesmo se tudo o que foi dito no último parágrafo não passasse de patranha ideológica, eu perguntaria: por que onde meus olhos querem ver boi, vejo cana? Nelson Rodrigo Pedon, professor e pesquisador da Fapesp, Araçatuba