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Gazeta Mercantil

FAU tem conselhos para ajudar a melhorar a capital (1 notícias)

Publicado em 18 de fevereiro de 1999

Por Márcio Venciguerra - de São Paulo
A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP) quer participar mais do debate com a cidade, segundo os planos de sua nova diretora. Maria Rute Amaral de Sampaio, que acaba de assumir o cargo. Maria Rute quer intensificar a participação institucional da FAU na elaboração dos planos diretores dos municípios e para decidir operações urbanas. Afinal, os conselhos da USP já foram comprados pela sociedade por meio dos impostos. "Somos mal pagos, mas ganhamos para assessorar a comunidade", diz a socióloga, que leciona na faculdade desde 1968. Isoladamente, como técnicos e especialistas, as prefeituras da região metropolitana contam com os 140 professores de uma das mais ativas unidades da Universidade de São Paulo. Maria Rute, por exemplo, trabalhou na urbanização da favela de Heliópolis, a maior da capital, e é consultora do projeto Sanear, plano da prefeitura de São Bernardo do Campo para controlar a ocupação nas áreas de proteção aos mananciais. "As universidades e a comunidade científica deveriam gritar mais para influenciar na escolha das políticas públicas", defende. Segundo Maria Rute, nos estúdios da FAU são encontradas propostas e soluções para problemas importantes, dos quais a sociedade civil ou poder público nem sequer ficam sabendo. Para ela, a imprensa será o principal instrumento para difundir esses projetos. "Ao contrário dos estrangeiros, os cientistas brasileiros nunca escrevem para o público leigo ou usam uma linguagem acessível, porém nós temos de ocupar de forma melhor os espaços reservados para artigos nos jornais", diz. Entre outros debates, Maria Rute acredita que a cidade de São Paulo precisa discutir a falta de praças públicas e a influência dos shoppings na vida urbana. Ao mesmo tempo, Maria Rute planeja cruzar informações dentro da própria universidade para que os projetos ganhem maturidade. "Não há reuniões para debater os grandes temas de forma interdisciplinar, até mesmo os encontros da congregação têm sido usados para resolver problemas burocráticos", avalia a diretora. Para ela, a solução será ampliar a experiência dos ciclos de debate parecidos com os organizados para comemorar os 50 anos da FAU, no ano passado. Em vez de formar as mesas com a velha estrutura de departamentos, ela cruzou informações contidas em sinopses sobre os trabalhos dos professores. "O resultado foi supreendente porque eles nunca trocaram idéias, apesar de trabalharem no mesmo prédio", comenta. Para Maria Rute, os prédios da FAU no centro da cidade e na Cidade Universitária devem continuar a ser restaurados. "Tenho uma verba anual de apenas R$ 11 mil para reparos, mas estou procurando patrocinadores, pois os dois edifícios são tombados pelo patrimônio histórico", diz. Segundo a diretora da FAU, há verba da USP para continuar o conserto do telhado do edifício no câmpus — marco da arquitetura dos anos 60, projetado pelo arquiteto João Batista Villanova Artigas. Mas o prédio inaugurado em 1969 tem outros problemas, como a drenagem do lençol freático, que provoca infiltrações. "Nós vamos fazer um mutirão de pintura antes do início das aulas, em março", planeja. Ela está negociando também o conserto do elevador, parado há dez anos. "Estamos numa escola de arquitetura, não podemos maltratar nossas próprias edificações", diz. A restauradora Renata Tirelo trabalha no interior do casarão da rua Maranhão, em Higienópolis, que já foi palacete do conde Antônio Álvares Penteado e hoje abriga os cursos de pós-graduação da FAU. Maria Rute procura um patrocínio de R$ 100 mil para a pintura externa da residência em estilo art nouveau, projetada pelo arquiteto sueco Carlos Ekman. Durante a realização das obras, estão aparecendo os afrescos originais, que estavam cobertos por camadas de tintas. No prédio localizado na Vila Penteado, Ekman procurou unir as artes decorativas à técnica. Ao mesmo tempo em que optou pela simetria dos volumes principais e estruturas aparentes, as paredes foram revestidas e decoradas com motivos florais, orgânicos e curvilíneos. "A necessidade de manter os prédios com poucos recursos não me apavora", afirma a nova diretora da FAU.