Resultados de uma pesquisa em andamento no Centro de Estudo do Genoma Humano e de Células-Tronco da USP (CEH-CEL) sinalizam a participação de fatores genéticos na determinação da suscetibilidade ou resistência ao novo coronavírus. Os pesquisadores já coletaram, por exemplo, amostras biológicas e informações de oito pares de gêmeos infectados pela covid-19. Em entrevista ao CBN Cotidiano, a professora titular de Genética e diretora do Centro de Pesquisas, doutora Mayana Zatz, apresentou detalhes da pesquisa. Ouça!
No estudo, foi identificado que no grupo dos irmãos monozigóticos (originados a partir de um mesmo óvulo que se dividiu), quatro dos cinco pares responderam de forma idêntica à doença. Já entre os irmãos dizigóticos (formados a partir de dois óvulos e dois espermatozoides diferentes), os três pares apresentaram respostas diferentes à infecção. “Queremos explicar o caso de pacientes jovens com formas letais da covid-19 e idosos ‘resistentes’. Resolvemos pesquisar os dois extremos. Jovens que devem ter variantes genéticas de risco e idosos que são assintomáticos ou tiveram poucos sintomas e, portanto, devem ter variantes genéticas de proteção”, explicou Zatz.
Os primeiros casos que chamaram a atenção do grupo, segundo a doutora, foram de casais em que o homem teve a forma grave da doença e a mulher testou negativo para o vírus. Um dos voluntários, de 72 anos, chegou a ficar duas semanas internado na UTI. “A esposa e a mãe, de 98 anos [que vive com o casal], não tiveram absolutamente nada”, disse. Há 85 casos de casais chamados discordantes, em que um foi afetado pela doença e o outro não. As mulheres compõem 70% dos assintomáticos na pesquisa, um dado compatível com estudos internacionais que vêm mostrando a maior suscetibilidade dos homens à doença.