Para atender ao consumo interno e às exportações, a produção de álcool deverá passar dos atuais 22,4 bilhões de litros para 65,3 bilhões, em 2020. Na próxima década, a área plantada deverá crescer aproximadamente sete milhões de hectares. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que existe área disponível para aumentar 30 vezes a que é cultivada atualmente com cana-de-açúcar, sem prejuízos ambientais ou substituição das lavouras destinadas à produção de alimentos. Esse cenário tem motivado a contínua expansão da cultura e consequentemente acentuado os problemas de insetos-praga.
Diatraea saccharalis é a mais importante praga dessa cultura, por sua ampla distribuição e dimensão dos prejuízos que causa. Além da cana-de-açúcar, ataca outras gramíneas, como arroz, aveia, cevada, milheto, milho, sorgo, trigo e várias espécies de capins. Seu ciclo biológico completo leva de 53 dias a 60 dias. A temperatura se destaca entre os fatores climáticos que interferem na sua flutuação populacional, influenciando o número de gerações anuais e a duração do ciclo. Estudos mostraram que podem ocorrer cinco gerações por ano, sendo a primeira geração observada em outubro-novembro; a segunda, entre dezembro e fevereiro; a terceira, em fevereiro-março; a quarta, cm abril-maio; e, eventualmente, a quinta, a partir de junho.
A mariposa pode voar de 200 a 300 metros, chegando a 700 metros ou mais com auxílio do vento. A altura de voo é de aproximadamente 1m do nível do solo. O horário preferido para a procura da parceira se dá entre 19h e 4h da madrugada, com dois períodos ativos: das 22h às 23h e das 24h à lh, com dispersão média de 42,5m/dia.
Dano - A cana-de-açúcar sofre o ataque da broca durante todo o seu desenvolvimento. A incidência é maior à medida que a planta vai crescendo principalmente na época em que os entrenós estão formados.
O ataque é bastante variável, dependendo da variedade de cana, da época do ano, do ciclo da cultura, entre outros fatores.
Na fase larval, provoca danos diretos e indiretos. Os danos diretos decorrem da alimentação dos tecidos da planta e se caracterizam por perda de peso e abertura de galerias; dependendo do período de ataque pode haver falhas na germinação, morte da gema apical, tombamento dos colmos, encurtamento do entrenó, enraizamento aéreo e germinação das gemas laterais. Esses danos podem ocorrer isolados ou associados. Já os indiretos estão relacionados com a entrada de microrganismos oportunistas, os fungos Fusarium moniliforme e Colletotricum falcatum que promovem a inversão da sacarose e diminuição da pureza do caldo, levando a um menor rendimento de açúcar e contaminações da fermentação alcoólica, onde os microrganismos competem com as leveduras, resultando em um menor rendimento do álcool.
Controle - O controle era feito exclusivamente por processo biológico através de parasitoides, sendo que atualmente é utilizada a vespinha Cotesia flavipes. Em 2009, foram "tratados" cerca de 3.000.000 de hectares com este parasitoide. Sua eficiência é baseada na diminuição do número de adultos que serão formados na segunda geração da praga, pois o parasitoide ataca lagartas dos últimos instares da broca.
Outro inimigo natural para programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) é o microhimenóptero do gênero Tricho-gramma, cujas espécies são abundantes no Brasil, também consideradas viáveis no controle de D. saccharalis. O parasitoide de ovos de lepidópteros vem sendo produzido em larga escala em laboratórios de vários países, inclusive no Brasil, e sua liberação têm mostrado que é também eficiente agente regulador da população desta praga.
Entretanto, em condições extremamente favoráveis a D. saccharalis, os inimigos naturais não têm conseguido manter a população da broca sob controle, tendo sido registrados casos de alta intensidade de infestação, principalmente no oeste paulista, razão pela qual vem sendo adotado o controle químico na mesma proporção que o biológico, nessa região. Porém, o controle químico é utilizado monitorando a fase inicial do ataque da broca que permanece alguns dias na parte externa das plantas, pois após a sua penetração no interior do colmo, os inseticidas não conseguem mais atingi-la. O inseticida regulador de crescimento à base de triflumurom, mais empregado pelas suas qualidades, possui essa limitação em sua eficiência, controlando apenas lagartas novas e que ainda não entraram no colmo.
Com a tecnificação da agricultura e a tentativa de implantar um manejo cada vez mais aprimorado, integrando os vários tipos de controle, novos métodos vêm sendo estudados, inclusive o químico, baseado em iscas tóxicas para adultos, a fase ideal para o controle das pragas, porque as eliminam antes de iniciarem a postura.
Iscas açucaradas são amplamente usadas para coletar lepidópteros atraídos para locais desejados. Vários atrativos são utilizados em armadilhas, no monitoramento de insetos e, quando adicionados a inseticidas, são recomendados para o controle de pragas. O uso de iscas vem sendo aplicado no manejo integrado de pragas em diversas ordens de insetos, mais especificamente para lepidópteros. Embora esse tipo de controle seja comum em pragas domissanitárias, deve ser aprofundado em pragas de lavouras, destacadamente aquelas que se protegem no interior dos tecidos na sua fase larval. As iscas mais utilizadas já relatadas na literatura são aquelas à base de soluções de vinagre; açúcar; mel, sacarose, melaço, calda de açúcar, açúcar refinado de palmeira, 3-metil-1 -butanol e a mistura de ácido acético e 3-metil-1-butanol.
Nesse contexto, a adição de inseticidas na calda da isca seria uma opção ao controle químico e compatível com o manejo integrado da praga, fornecendo à população existente a isca contendo inseticida, reduzindo, assim, o número de descendentes.
EXPERIMENTO
Com o objetivo de testar uma isca para controle da Diatraea saccharalis na sua fase adulta desenvolveu-se o presente estudo, tendo em vista a dificuldade do controle da fase larval em todos os seus estágios. A pesquisa foi realizada na Escola Superior de Agricultura (Esalq/USP), tendo como suporte a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo [FAPESP].
Em laboratório foram testadas diversas iscas, incluindo seleção, idade e concentração, escolha do inseticida e sua melhor dose, determinação da distância de aplicação e efeito residual. As avaliações foram realizadas 24 e 48 horas após a exposição às iscas. A seleção e a concentração do atrativo foram feitas a partir dos resultados que apresentaram eficiência superior a 80%. Verificou-se que as iscas testadas apesar de serem excelentes atraentes para a Diatraea saccharalis, não atraíam os adultos de longas distâncias, ou seja, mais de 50cm, tornando necessário aplicá-las em área total, para o êxito em sua alimentação. Esse resultado inviabilizou a aplicação em faixas do canavial, método que poderia ser empregado com o intuito de preservar ao máximo os inimigos naturais (parasitoides e predadores como formiga e tesourinha que desempenham importante papel no controle da praga).
Assim, no campo, foi testada a aplicação aérea da isca tóxica em área total. A isca à base de ácido acético (1,25%) 4-Cartap BR 500 (90gp.c./ha), (cloridrato de cartape) mostrou excelente resultado em laboratório, mas quando testada em campo os resultados não foram promissores devido à volatilização do atraente. Por outro lado, a isca à base de melaço (5%) 4- Cartap 500 (90g p.c./ha) mostrou boa estabilidade. Para o controle das lagartas no seu estágio inicial, Dipel PM (l.OOOgp.c./ha), Bacillus thuringiensis 4- Hygrogem (l.OOOml p.c./ ha), derivado de biodiesel utilizado como espalhante adesivo, controlou satisfatoriamente as lagartas quando comparada ao padrão triflumuron. A isca teve um custo equivalente ao controle biológico convencional e ao inseticida triflumuron. O produto Hidrogem é um subproduto do óleo de soja, um glicerol elaborado recentemente, com ótimas propriedades orgânicas, ideais para formulações biológicas como a do Bt.
Assim sendo, a isca tóxica poderia ser indicada em locais de alta pressão da praga, como mais uma opção no controle da D. saccharalis utilizada em associação ou alternadamente aos processos já existentes.