A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) contara, no próximo ano, com recursos da ordem de R$ 230 milhões para apoiar atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Segundo o presidente do conselho técnico administrativo da instituição, Francisco Romeu Landi, a estes recursos serão acrescidos os rendimentos obtidos pelo fundo de aplicação financeira, que hoje soma R$ 150 milhões. Este ano, a Fapesp recebeu R$ 210 milhões. Landi e renomados professores universitários participaram ontem, na Escola Politécnica da USP, de um debate sobre "Desenvolvimento no mundo globalizado e a ciência e tecnologia - o caso Brasil". A comunidade acadêmica parece perplexa ante a intensidade e a rapidez do processo de globalização da economia e procura respostas para duas questões cruciais: qual o seu papel e como contribuir para que o Brasil enfrente os desafios desta nova realidade. (Pág. A-7)
ACADEMIA DEBATE DESAFIOS DA GLOBALIZAÇÃO
Antônio Furtado - de São Paulo
O inundo acadêmico brasileiro ainda parece perplexo ante a intensidade e rapidez do processo de globalização da economia e procura respostas para duas questões cruciais: qual o seu papel e como contribuir para que o País enfrente os desafios desta nova realidade "nada alvissareira para os países em desenvolvimento". Um passo significativo foi dado ontem, quando um seleto grupo de representantes da intelligentsia se reuniu, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), para debater o tema "Desenvolvimento no Mundo Globalizado e a Ciência e Tecnologia o Caso Brasil". O evento, promovido pelo Centro Interunidade de História da Ciência da USP, foi coordenado pelo secretário da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Ruy Martins Altenfelder Silva.
As cinco comunicações apresentadas para discussão abordaram, entre outros aspectos, o papel do Estado como financiador da infra-estrutura científico-tecnológica; qual contribuição a ciência e tecnologia (C&T) poderá dar para a redução do desemprego e para o crescimento do mercado interno; como criar nas empresas uma cultura de C&T com vistas à inovação; e propostas para um plano nacional de educação científica e tecnológica.
Na opinião do professo Gildo Magalhães, da Faculdade de Filosofia da USP, o Estado brasileiro deveria ter um papel mais ativo como indutor das atividades voltadas para o desenvolvimento de ciência e tecnologia e apoiar, principalmente, setores que tenham potencial competitivo. Como exemplo, ele citou a agroindústria paulista.
O secretário Altenfelder Silva disse, na abertura do evento, que o plano estratégico da sua pasta já contempla ações de difusão tecnológica em propriedades agrícolas, além de fomentar a inovação tecnológica por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Por sua vez, o presidente do conselho técnico administrativo da Fapesp, Francisco Romeu Lambe, disse a este jornal que no próximo ano a instituição contará com recursos estimados em R$ 230 milhões, em comparação com os R$ 210 milhões deste ano. O orçamento é complementado pelos rendimentos do fundo de aplicação financeira de R$ 150 milhões. "Desde 1989, a Fapesp recebe mensalmente os recursos previstos em lei, ou seja, 1% das receitas arrecadadas pelo tesouro estadual. Sem dúvida, é a maior estrutura existente no País para apoio à pesquisa e desenvolvimento", afirmou Francisco Lambe. O professor Paulo Sérgio Santos criticou "a timidez, a superficialidade, mesmo o descaso com que a mídia tem, em geral, tratado ciência e tecnologia". Segundo ele, outro grave problema - também apontado pelos demais participantes - é a baixa qualidade do ensino de ciência nos níveis fundamental e médio da educação formal. Santos, Mariluce Moura, da Fapesp, e Shozo Motoyama (USP), propuseram, entre outras iniciativas, a realização de um simpósio nacional sobre a educação científica e tecnológica como primeiro passo para a elaboração de um plano nacional de educação científica e tecnológica.
Para o professor Júlio Katinsky, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), é impossível desenvolver ciência e tecnologia sem uma consistente e duradoura política tecnológica. Segundo ele, o conhecimento tecnológico desenvolvido pelas grandes companhias brasileiras de projetos de engenharia está se perdendo, porque muitas empresas ou desapareceram ou reduziram o seu campo de atividade.
Os professores Guilherme Plonski, do IPT, e Henrique Rattner consideram que "os efeitos da globalização não devem ser analisados somente nas dimensões econômicas. Trata-se de um processo sistêmico de efeitos múltiplos e retroalimentadores, com profundas repercussões nas relações sociais, políticas e culturais da sociedade."
Notícia
Gazeta Mercantil