Panfletos ensinam estudantes a utilizar a droga com menos risco.
Fundação diz que vai analisar conteúdo dos informativos.
Simone Harnik
Do G1, em São Paulo
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) suspendeu nesta segunda-feira (18) a liberação de recursos para o projeto de pesquisa que distribui flyers com dicas para reduzir os riscos do consumo de ecstasy.
No sábado (16), o G1 publicou uma reportagem informando que panfletos sobre os efeitos da utilização da droga estavam sendo distribuídos em universidades e casas noturnas de São Paulo.
O público alvo do projeto são jovens de classes sociais altas, os principais consumidores da droga sintética. A molécula de ecstasy é uma metanfetamina, um parente químico muito próximo das anfetaminas, e funciona como estimulante.
A Fapesp informou por nota que a liberação dos recursos ficará suspensa "até que sejam averiguados completamente os fatos denunciados". Apesar de avaliar periodicamente a pesquisa, a instituição pretende conversar com a supervisora do projeto e analisar o conteúdo dos informativos.
Em um dos panfletos, a orientação é que, para diminuir os riscos do consumo, uma alternativa "é tomar metade da dose planejada, aguardar os efeitos (pode demorar até 1h) e então decidir se tomará a outra metade".
Os informativos distribuídos têm o logotipo do projeto "Baladaboa" e foram feitos com apoio do Laboratório de Psicofarmacologia da Universidade de São Paulo (USP), da Fapesp e de uma empresa de design, que elaborou o formato.
Ao todo são oito tipos diferentes de flyers, produzidos em papel reciclado, tipo cartão, com design moderno. O site do projeto afirma que a intenção é reduzir os danos provocados aos usuários da droga. Há uma seção que diz que o projeto "não encoraja nem promove o uso de ecstasy". No entanto, um dos títulos do site diz: "Uma balada boa, ainda que sintética e ilegal".
O G1 tentou contato com a professora responsável pelo laboratório da USP, que supervisiona o projeto, Maria Teresa Araujo Silva, mas ela não foi localizada nessa segunda (18).
A professora informou na última sexta-feira (15), que os panfletos não estimulam o uso da droga: "Estão feitas advertências contra os inúmeros perigos, como misturar com outras drogas, falam da segurança no dirigir, da escalada para a dependência".
Segundo ela, a política de redução de riscos das drogas é uma tendência internacional de diversos organismos. A pesquisadora afirmou ainda que o panfleto foi analisado antes de ser distribuído. "A assessoria científica da Fapesp disse que a metodologia está boa", afirmou Maria Teresa.