A Fapesp está disposta a adquirir o melhor navio oceanográfico disponível no momento, desde que as três universidades públicas paulistas contratem mais cientistas para incrementar as pesquisas no mar. "Podemos investir em equipamentos, barcos ou num navio, mas não podemos contratar pesquisadores e professores; as universidades, sim. Queremos enfatizar os projetos de pesquisa sobre o mar montando um plano competitivo mundialmente. É o desafio que deixo aqui na Unicamp", afirmou o professor Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da agência de fomento.
Brito Cruz participou nesta sexta-feira (26) de mais uma edição dos Fóruns Permanentes organizados pela Universidade, que desta vez apresentou os objetivos e estratégias para os próximos dez anos do Programa Biota/Fapesp ."Agora com o pré-sal, o mar ficou ainda mais importante para o Estado de São Paulo. Precisamos de pesquisa para entender como ele é e como ficará com a exploração do petróleo. É um assunto muito urgente".
Segundo o diretor científico, a Fapesp está bastante satisfeita com os resultados do Biota, que demonstra capacidade de se regenerar graças à participação da comunidade que traz ideias, críticas e desafios novos. "O Biota também serviu para colocarmos em prática uma medida importante: a busca de apoio institucional aos projetos, que é menor do que nossos investimentos. Não cabe a um coordenador telefonar para o convidado, marcar sua passagem e pegá-lo no aeroporto; cientista precisa do seu tempo para fazer ciência. A Unicamp já forneceu um manager para o programa e outro profissional que cuida da base de dados, além de serviços de outras unidades".
Carlos Joly, coordenador do Biota e docente do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, atentou para o processo de institucionalização do projeto, que se desenvolve há quatro anos. "Nesse processo, a secretaria executiva veio para a Unicamp, juntamente com a revista Biota Neotrópica. Na Unesp está sendo instalado o banco de extratos: ao contrário dos outros bancos de dados do Biota, que são de acesso público, este é sigiloso e exige sistema de senhas. Quanto à USP, estamos conversando para que cuide do desenvolvimento e testes clínicos de produtos a partir de moléculas com potencial para a indústria farmacêutica ou cosmética".
Abrindo o leque
A realização de um fórum extraordinário sobre o Biota/Fapesp teve o objetivo de atrair e informar pesquisadores das mais diversas áreas sobre a possibilidade de ampliar o leque de pesquisas para muito além das biológicas e químicas. "Nesses primeiros dez anos ficou claro que há enormes possibilidades de avançar para outras especialidades, a fim de que possamos melhor entender aspectos relacionados com a exploração racional dos nossos recursos nacionais", observou o professor Ronaldo Pilli, pró-reitor de Pesquisa.
Na opinião do professor Paulo Mazzafera, diretor do IB, o Biota é o melhor programa da Fapesp, o que se comprova justamente por sua longevidade. "Este fórum é uma iniciativa interessante por trazer pesquisadores de novas áreas. No início, o projeto parecia relacionado apenas a botânicos, mas percebemos que é possível agregar muitos outros especialistas para trabalhar com assuntos da biodiversidade, a exemplo de físicos que estou vendo no auditório".
Em termos de interação, Carlos Henrique de Brito Cruz lembra que a Fapesp possui um conjunto de programas que, embora não seja o caso, sugerem uma predominância de recursos para o meio ambiente. "Temos os programas de Mudança Climática Global, de Bioenergia e o Biota, que se relacionam. Incentivamos encontros com pesquisadores dos três programas justamente para que eles interajam, visto que existem tanto objetivos convergentes quanto conflitantes - por exemplo, entre aqueles da bioenergia, que apóiam a monocultura, e do Biota, que defendem a biodiversidade.