SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) lançou nesta quarta-feira (17) um repositório de dados abertos que deve reunir até o início de julho informações de pelo menos 75 mil pacientes de Covid-19 ou com suspeita da doença. As informações foram disponibilizadas pelo Grupo Fleury e pelos hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein.
O principal objetivo é que os dados sejam usados para abastecer pesquisas científicas sobre a pandemia. Qualquer pessoa ou instituição pode acessar e usar as informações, desde que a origem seja referenciada.
Até o início de julho, estarão disponíveis 1,6 milhão de exames clínicos e laboratoriais e 6.500 dados de desfecho de pacientes no repositório COVID-19 Data Sharing/BR. A plataforma já funciona em um modelo piloto, com um conjunto de dados voltados para análises exploratórias.
Os dados são anonimizados, ou seja, a identidade do paciente fica oculta. Entre as informações disponíveis estão sexo, ano de nascimento e local de residência do paciente. Descrição de exames, evolução clínica e desfecho do atendimento também podem ser encontrados no repositório.
"Se não fosse por essa iniciativa, essas informações permaneceriam dentro dos repositórios dessas instituições", disse Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fapesp, durante a coletiva de imprensa onde o lançamento foi anunciado.
Os dados são reunidos e disponibilizados no portal da Rede de Repositórios de Dados Científicos do Estado de São Paulo, lançado no fim de 2019 pela Fapesp.
"Uma plataforma como essa leva anos para ser construída, mas o investimento inicial já tinha sido feito e a estrutura existia", afirma Mello
Segundo Edgar Rizzatti, diretor executivo médico do Grupo Fleury, a empresa vinha sendo procurada para compartilhar seus dados. "Essa iniciativa vai trazer benefícios para a ciência e permitir que tenhamos um melhor entendimento da Covid-19", afirmou. "As informações vão ser usadas para resolver problemas da nossa sociedade e vão ajudar na tomada de decisões sobre nosso sistema de saúde." O Fleury é uma das maiores empresas de serviços médicos do país.
Para Luiz Fernando Lima Reis, diretor de ensino e pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, o projeto inaugura um novo processo de geração do conhecimento a partir do compartilhamento de dados.
"São dados que mostram a situação real do curso da pandemia no país. Precisamos de soluções baseadas nessas informações. Discussões sobre momento de abertura, por exemplo, precisam estar embasadas na melhor evidência científica", afirmou Reis.
"A pesquisa é um esporte coletivo, e o único jeito de fazer boa pesquisa é em colaboração", disse Luiz Vicente Rizzo, diretor de pesquisa do hospital Albert Einstein. Rizzo lembrou da importância do papel de instituições privadas na área científica nacional. "Fazemos pesquisa e podemos contribuir pesadamente para a ciência no Brasil", disse.
De acordo com Mello, da Fapesp, outras instituições já demonstraram interesse em participar da iniciativa, que deve ser mantida após a pandemia do novo coronavírus. "Se os dados tiverem qualidade, quanto maior for a base, melhor", concluiu.