Eles têm estilo totalmente diferentes. Um é conhecido pelas respostas rápidas, sem piedade, e pelo tom alto e grave da sua voz. O outro pela tranqüilidade e tom de voz mediano com que fala sobre qualquer questão.
O médico Ricardo Brentani e o físico Carlos Henrique de Brito Cruz têm pela frente a tarefa de dirigir a partir do ano que vem a Fundação de Amparo à Pesquisa de SP (Fapesp), instituição que em 2005 terá a receita de R$ 487 milhões e mais que triplicou o numero de pedidos de financiamento de pesquisadores recebidos nos últimos dez anos.
'Nossa gestão tem a sorte de entrar no momento em que o todo o processo de tramitação dos processos está sendo informatizado', comenta Brentani, que será o diretor-presidente do Conselho Técnico Administrativo da Fapesp. 'Isso o torna mais justo e mais transparente.'
O médico vai acumular o cargo com a presidência do Hospital do Câncer e a direção do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre Câncer no Brasil.
'Evidentemente terei de mudar a maneira de trabalhar. Terei de delegar mais, o que na minha idade (67 anos) é inevitável (risos).'
Já Brito Cruz, de 48 anos, atualmente reitor da Unicamp, deixará o cargo para assumir a diretoria científica da Fapesp.
Além de continuar sua principal atividade, o financiamento da pesquisa acadêmica e a formação de recursos humanos, a Fapesp vai induzir projetos do tipo do Genoma, do Biota (Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de SP) e do Tidia (Tecnologias da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada).
São trabalhos em rede, cujo impacto internacional e o avanço no conhecimento são bem maiores do que a soma de seus muitos pesquisadores trabalhando isoladamente.
'Há uma capacitação na comunidade científica do Estado de SP que permite programas induzidos. Para identificar essas oportunidades, devemos intensificar a comunicação com ela', diz Brito Cruz.
A inovação nas empresas, área em que o físico foi pioneiro no Brasil, também deverá continuar a receber incentivos da Fapesp, como no caso do Programa de Inovação Tecnológica em Pequena Empresa (Pipe), que já apoiou 350 empresas, um projeto por semana desde que foi formado, em 1998.
'A Fapesp apóia pesquisa, não produção. Ela tem de mobilizar outras agências para apoiarem essas empresas a colocar em marcha as idéias desenvolvidas com o seu apoio', afirma o físico.
Bolo maior
A instituição tem um dos maiores volumes de dinheiro para pesquisa no Brasil. Mas aumentar o bolo é sempre um objetivo a ser perseguido. 'Acho que há uma parceria ainda pouco explorada com a iniciativa privada', comenta Brentani.
No Hospital do Câncer, ele aumentou o orçamento ao começar a trabalhar também com convênios privados e não somente com o Sistema Único de Saúde (SUS).
O trabalho será desafiador mesmo para duas pessoas acostumadas a participar da Fapesp como membros do Conselho Superior da entidade há algum tempo - Brentani há cinco anos e Brito desde 1995, tendo sido seu presidente de 1996 a 2002.
A entidade ganhou nos últimos dez anos muita visibilidade e, conseqüentemente, a expectativa por novos projetos de alta qualidade é grande.
A escolha de Brentani, substituindo Francisco Romeu Landi, morto em abril, e de Brito Cruz na vaga de José Fernando Pérez, que pôs o cargo à disposição para trabalhar em projetos na iniciativa privada, abrirá também duas vagas no Conselho Superior da Fapesp.
Elas ainda serão preenchidas pelo governador de SP, Geraldo Alckmin. (O Estado de SP, 21/11)
Notícia
JC e-mail