SÃO PAULO - A indústria da aviação deve substituir massivamente o combustível fóssil nos próximos 20 a 40 anos com o objetivo de alcançar a meta ambiciosa do setor de reduzir em 50% as emissões dos aviões até 2050. Por esse motivo, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em parceria com a Embraer e a Boeing, estudou nos últimos 18 meses as fontes renováveis que têm mais potencial para produzir o biocombustível que deverá ser o protagonista dessa substituição. Plantas que contêm açúcares, amido e óleo, além de resíduos como a lignocelulores (do eucalipto), lixo sólido municipal e gases de exaustão industrial foram as fonte detectadas com maior potencial de produção.
— Existe uma possibilidade enorme de fontes. Muito disso do que estamos contando ainda está no estágio laboratorial. Será um processo gradual de longo prazo, mas o Brasil, por já ter seu segmento de biocombustíveis bem desenvolvido e grande território agricultável, pode ser bastante competitivo quando esse processo ganhar escala — disse Mauro Kern, vice-presidente executivo de Engenharia e Tecnologia da Embraer.
Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, esclareceu que “a motivação primária das pesquisas é mais ambiental que econômica”.
— Ainda demora anos para ser viável e vantajosa em comparação com os fósseis. Mas em algum momento vai haver uma competição de custos entre petróleo e biocombustíveis — explicou.
Para ilustrar a grandeza de seu setor, Donna Hrinak, presidente da Boeing Brasil, lembrou que hoje o mundo conta com 20 mil aeronaves e que até 2031 esse número vai dobrar. Além disso, segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), o segmento contribui com cerca de US$ 3,8 trilhões por ano para a eocnomia global, sustentando emprego de 32 milhões de pessoas.
— Temos de pensar no meio ambiente. Além de termos que produzir aeronaves mais eficientes, também temos que pensar em combustíveis alternativos, como os biocombustíveis — afirmou, para completar: — O Brasil tem muito experiência desde o Pró Álcool. Acredito que o Brasil tem um potencial competitivo enorme no desenvolvimento destas tecnologias.
O vice-presidente do Centro de Pesquisa e Tecnologia da Boeing Brasil, Al Bryant, salientou que o Brasil tem uma “excelente oportunidade para ser líder mundial neste setor”.
O esforço para o desenvolvimento de um novo combustível eficiente ocorre simultaneamente em outros países como Estaod Unidos, Austrália e China. Alguns voos experimentais inclusive já foram feitos nos últimos anos utilizando uma mistura de 30% a 50% de combustível biológico de fóssil. A Boeing, por exemplo, fez em 2011 o primeiro voo intercontinental — da CIdade do México a Madrid — de um Boeing 777 usando uma mistura de biocombustível. O biocombustível, no entanto, ainda não pode ser produzido em larga escala.
— Temos como preocupação, integrar as universidade e o setor produtivo. Temos que propiciar essa convergência, mas só depois de o projeto se desenvolver vamos saber como e com quanto podemos participar — esclareceu Celso Lafer, presidente da Fapesp.