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Fapesp e fabricantes discutem colaboração em biocombustíveis (1 notícias)

Publicado em 03 de novembro de 2011

Um acordo assinado entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e os fabricantes Boeing e Embraer para a colaboração em pesquisa e desenvolvimento pode assegurar ao Brasil lugar de destaque na produção de biocombustíveis destinados à aviação comercial. Nos próximos meses, workshops vão mobilizar pesquisadores, companhias aéreas, produtores e fornecedores de combustíveis, além de autoridades do governo, para um diagnóstico das possibilidades e dos desafios da pesquisa no país.

"Temos terra, água, custo razoável, competitivo em termos mundiais, sem ter conflito com produção de alimentos. E certa experiência em fazer as coisas acontecerem", enumera o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) Francisco Nigro, em entrevista à Agência CNT de Notícias. Assessor técnico da Secretaria de Desenvolvimento do governo paulista e com pesquisa na área de tecnologia de motores e biocombustíveis, Nigro acrescenta que é preciso também identificar os pontos fracos.

Por enquanto, o que existe de concreto é uma carta de intenção assinada pela conselheira Suely Vilela em nome do presidente da Fapesp, Celso Lafer; pela presidente da Boeing Brasil, Donna Hrinak; pelo presidente da Boeing International, Shephard Hill; e pelo vice-presidente executivo de engenharia e tecnologia da Embraer, Mauro Kern.

O documento prevê a criação de um centro de pesquisa em biocombustíveis voltado para a aviação, nos moldes dos centros vinculados à Fapesp. Os investimentos necessários para o projeto dependerão de levantamentos feitos em um período estimado entre nove e 12 meses.

Dados da fundação mostram que existem 58 projetos de pesquisa em andamento no estado de São Paulo e outros nove concluídos dentro do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (Bioen). Para Suely Vilela, a parceria com os fabricantes de aeronave vai reforçar a tendência de aumento da participação da iniciativa privada na pesquisa no estado e a necessidade de internacionalização de resultados.

Certificação

Francisco Nigro acredita que além do porte do projeto, o grande desafio para os pesquisadores será desenvolver biocombustível dentro de uma especificação clara, em que o combustível seja adequado à tecnologia dos motores (alta concentração de energia e resistência a baixas temperaturas), e não o contrário. "O pessoal da aviação não tem muita alternativa", afirma o pesquisador, ao lembrar que a Europa passará a cobrar taxa de emissão de gás carbônico (CO2) pelo setor aéreo a partir do ano que vem.

Professor da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Rubens Maciel Filho diz que até 2020 cerca de 20% do combustível usado na aviação terá de ser renovável, segundo determinação da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata). Maciel Filho faz parte de um grupo integrado pelos pesquisadores Maria Regina Wolf Maciel, Cesar Benedito Battistela e Nívia Lima de Souza com patente registrada na área de biocombustível e em processo de registro de uma empresa para a construção de uma planta de demonstração.

Com 28 anos de experiência na área de combustíveis renováveis, o pesquisador direcionou seu trabalho nos últimos cinco anos para o setor aéreo. Ele conta que o grupo já realizou testes com um combustível com as mesmas características do querosene de aviação. Mas ainda será necessário uma série de procedimentos para obter a certificação do produto.

Sueli Montenegro

Agência CNT de Notícias