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Fapesp e Capes investem R$ 300 mi em doutorado direto para acelerar formação de cientistas no Brasil (3 notícias)

Publicado em 20 de maio de 2025

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A formação de cientistas no Brasil enfrenta um desafio crescente. A idade média para obtenção do doutorado no país chegou a 38 anos, quase uma década a mais do que na década de 1960. Universidades e agências de fomento, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), uniram esforços para mudar esse cenário. A estratégia é incentivar o doutorado direto, permitindo que estudantes ingressem em programas de pós-graduação sem passar pelo mestrado.

O movimento busca acelerar a formação de pesquisadores e aumentar o tempo de vida produtiva na ciência. A iniciativa, que ganhou força com um acordo firmado em 2025, prevê a concessão de bolsas e ajustes curriculares em universidades paulistas. A ideia é que alunos bem preparados na graduação possam pular etapas, especialmente em áreas como física e química.

Objetivo principal : Reduzir a idade média de formação de doutores.

Investimento inicial : R$ 300 milhões da Capes, com complementação da FAPESP.

Foco nas universidades : USP lidera com metade das bolsas, seguida por outras instituições públicas.

Áreas contempladas : Exatas, biológicas, humanas e, com adaptações, medicina.

A prática de pular o mestrado não é novidade, mas enfrenta resistências, especialmente nas ciências humanas e na medicina. A proposta agora é formalizar e expandir esse modelo, com base em um protocolo de intenções que está sendo debatido entre as partes envolvidas.

Acordo fortalece bolsas para doutorado direto

A FAPESP, maior agência de fomento à pesquisa do Brasil, lidera a articulação para o doutorado direto. Em parceria com a Capes, o acordo firmado em 2025 estabelece a criação de até 184 bolsas anuais para estudantes que ingressarem diretamente no doutorado. Dessas, 92 serão destinadas à Universidade de São Paulo (USP), enquanto o restante será distribuído entre outras universidades públicas do estado, incluindo federais.

O programa prevê que as bolsas da Capes, cujo valor padrão é de R$ 3.100, sejam complementadas pela FAPESP para alcançar valores entre R$ 5.520 e R$ 6.810, equiparáveis às bolsas oferecidas pela fundação. Essa equalização financeira visa tornar o doutorado direto mais atrativo para os alunos.

A iniciativa também permite que coordenadores de programas de pós-graduação decidam se suas áreas de concentração adotarão o modelo. A expectativa é que, nas áreas participantes, cerca de um terço dos alunos de mestrado consiga converter seus programas para doutorado após o primeiro ano.

Valor das bolsas Capes : R$ 3.100 (padrão).

Complementação FAPESP : Até R$ 6.810 por bolsa.

Total de bolsas anuais : 184, com 92 destinadas à USP.

Conversão de mestrado : Um terço dos alunos pode migrar para doutorado direto.

O protocolo ainda está em fase de ajustes, com detalhes sendo discutidos entre as universidades e as agências de fomento. A ideia é criar um sistema flexível, mas robusto, que atenda às especificidades de cada área do conhecimento.

Idade avançada preocupa cientistas

A demora na formação de doutores no Brasil é um problema antigo. Na década de 1960, pesquisadores concluíam o doutorado por volta dos 29 anos. Hoje, com exigências como maior carga horária e padronizações no sistema de bolsas, a idade média subiu para 38 anos. Isso coloca o Brasil entre os países com doutoramentos mais longos do mundo.

A idade avançada reduz o período de maior produtividade científica, especialmente em fases iniciais da carreira, quando os pesquisadores tendem a ser mais criativos e dispostos a assumir riscos. A ciência, por sua natureza, exige inovação e experimentação, qualidades que jovens cientistas frequentemente trazem com mais intensidade.

A FAPESP argumenta que a exigência do mestrado como etapa obrigatória é uma prática recente e desnecessária. A tradição de considerar mestrado e doutorado como sequenciais não encontra respaldo em muitos sistemas educacionais internacionais, onde o doutorado direto é comum, especialmente nas ciências exatas.

Ilum lidera formação acelerada

A Escola de Ciência Ilum, vinculada ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), é um exemplo de instituição que já adota o doutorado direto como parte de sua filosofia. Criada para formar cientistas de elite, a escola estruturou sua graduação com foco em preparar alunos para a pesquisa independente desde cedo.

Na primeira turma, formada em 2024, 12 dos 36 egressos ingressaram diretamente em programas de doutorado. O currículo da Ilum inclui imersão em laboratórios, cursos extras nas férias e estímulo à iniciação científica, o que permite aos alunos desenvolverem habilidades avançadas ainda na graduação.

Imersão em laboratórios : Alunos participam de projetos no CNPEM.

Cursos extras : Oferecidos nas férias para reforçar formação.

Iniciação científica : Projetos práticos desde o primeiro ano.

Doutorado direto : 12 dos 36 formandos de 2024 seguiram essa rota.

A neurocientista Vitória Yumi, uma das egressas da Ilum, é um caso de sucesso. Após concluir a graduação, ela ingressou diretamente em um programa de doutorado em neurociência no Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa, no Japão. A jovem destaca que a possibilidade de pular o mestrado era desconhecida para ela inicialmente, mas se revelou comum em programas internacionais.

Resistências nas ciências humanas

Nas ciências humanas, a adoção do doutorado direto enfrenta barreiras culturais e estruturais. A formação nessas áreas exige um amplo embasamento teórico, o que muitas vezes prolonga o tempo de treinamento. Programas de pós-graduação em história, sociologia ou filosofia, por exemplo, valorizam a construção de uma base conceitual sólida antes do doutorado.

A ausência de residência, como na medicina, não elimina a demora na formação. Doutores em humanas frequentemente concluem seus estudos na faixa dos 40 anos, o que reduz o período de contribuição acadêmica plena. A FAPESP reconhece que a transição para o doutorado direto nessas áreas será mais lenta, mas o protocolo de intenções inclui medidas para incentivar a prática em todos os campos do conhecimento.

A resistência também vem de uma percepção de que o mestrado é essencial para desenvolver habilidades de pesquisa. No entanto, defensores do doutorado direto argumentam que uma graduação bem estruturada pode suprir essa preparação, permitindo que os alunos avancem diretamente para projetos de maior complexidade.

Desafios na medicina

Na medicina, o doutorado direto enfrenta obstáculos adicionais. A estrutura curricular brasileira exige que médicos passem por residências, que podem durar de três a cinco anos, antes de iniciar um doutorado. Esse modelo, combinado com mestrados e doutorados longos, faz com que muitos médicos concluam sua formação acadêmica próximos dos 40 anos.

A exigência de mestrado, incomum em outros países, é vista como uma peculiaridade brasileira. Fora do Brasil, médicos que optam por carreiras acadêmicas frequentemente ingressam diretamente em programas de doutorado após a graduação ou residência. No Brasil, a integração entre residência e doutorado ainda é um entrave, especialmente para médicos que desejam combinar prática clínica com pesquisa.

Duração da graduação : Seis anos.

Residência médica : Três a cinco anos.

Mestrado : Até três anos, em média.

Doutorado : Até cinco anos, em média.

Idade média de formação : Próxima aos 40 anos.

A FAPESP propõe que programas de doutorado direto em medicina sejam adaptados para integrar a formação clínica e acadêmica, reduzindo o tempo total de treinamento. A iniciativa, porém, ainda está em fase experimental.

Modelo internacional inspira mudanças

O doutorado direto já é uma prática consolidada em países como Estados Unidos, Reino Unido e Japão. Nessas nações, estudantes com graduações robustas frequentemente ingressam em programas de doutorado sem passar pelo mestrado. No Japão, por exemplo, universidades como o Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa aceitam alunos diretamente da graduação, desde que demonstrem preparo acadêmico.

No Brasil, a adoção desse modelo requer ajustes culturais e curriculares. Universidades como a USP já oferecem programas de doutorado direto em algumas áreas, mas a expansão depende de maior aceitação pela comunidade acadêmica. O acordo entre FAPESP e Capes é um passo para formalizar e incentivar essa prática em larga escala.

A experiência de Vitória Yumi no Japão ilustra como o modelo internacional pode inspirar mudanças no Brasil. A jovem cientista destaca que, ao pesquisar programas de pós-graduação no exterior, descobriu que o doutorado direto é uma prática comum e bem-estruturada.

Investimento de R$ 300 milhões

O acordo entre FAPESP e Capes prevê um investimento inicial de R$ 300 milhões para viabilizar o programa de doutorado direto. A Capes será responsável pela maior parte do aporte, enquanto a FAPESP complementará as bolsas para garantir valores competitivos. A iniciativa é voltada principalmente para universidades públicas paulistas, mas pode ser expandida para outras regiões no futuro.

O programa também prevê flexibilidade para que cada área de concentração adapte o modelo às suas necessidades. Em física, por exemplo, a transição para o doutorado direto é mais natural, já que muitos alunos já desenvolvem pesquisas avançadas durante a graduação. Em áreas como medicina e humanas, os ajustes serão mais complexos.

Investimento total : R$ 300 milhões pela Capes.

Complementação : FAPESP ajusta bolsas até R$ 6.810.

Áreas prioritárias : Exatas, biológicas, humanas e medicina.

Flexibilidade : Áreas de concentração decidem adesão.

A expectativa é que o programa alcance até 184 alunos por ano, com potencial para crescer conforme a adesão das universidades. A USP, maior beneficiária, terá um papel central na implementação inicial.

Preparação na graduação é essencial

A viabilidade do doutorado direto depende de graduações bem estruturadas. Instituições como a Ilum demonstram que é possível preparar alunos para a pesquisa independente ainda na graduação. Programas que combinam aulas teóricas com prática em laboratórios e iniciação científica criam uma base sólida para o doutorado.

Na Ilum, o currículo é desenhado para ensinar fundamentos como mecânica clássica, termodinâmica e eletromagnetismo, permitindo que os alunos enfrentem problemas complexos desde cedo. Essa abordagem contrasta com graduações tradicionais, que muitas vezes priorizam conteúdos amplos e enciclopédicos.

A formação acelerada também exige engajamento dos alunos. Projetos de iniciação científica e estágios em laboratórios são fundamentais para desenvolver a maturidade necessária para o doutorado direto. Universidades que adotarem o modelo precisarão investir em programas de graduação mais práticos e focados.

Próximos passos do programa

A implementação do doutorado direto ainda está em fase inicial. As universidades paulistas estão debatendo os detalhes do protocolo de intenções, que deve ser finalizado nos próximos meses. Cada instituição decidirá como integrar o programa em suas áreas de concentração, com liberdade para adaptar as regras às especificidades de cada curso.

A FAPESP e a Capes monitorarão os resultados para avaliar a eficácia do modelo. A meta é reduzir a idade média de formação de doutores e aumentar a competitividade da ciência brasileira. A iniciativa também pode inspirar outras regiões do país a adotarem modelos semelhantes.

Protocolo em debate : Finalização prevista para 2025.

Monitoramento : Avaliação contínua dos resultados.

Meta principal : Reduzir idade média de doutores para menos de 38 anos.

Expansão futura : Possível inclusão de outras regiões.

O programa representa um esforço conjunto para modernizar a formação científica no Brasil, alinhando o país a práticas internacionais e valorizando a criatividade dos jovens pesquisadores.