Por: Redação TN / José Tadeu Arantes, Agência FAPESP
Um conjunto de manequins, revestidos com latas de alumínio e garrafas de vidro, atrai a atenção de quem entra na sede da FAPESP, em São Paulo. Intitulado Metempsicose, o conjunto, produzido por Maria Bonomi, introduz o visitante na exposição dedicada à artista italiana radicada em São Paulo. Seus trabalhos foram escolhidos para ilustrar o Relatório de Atividades da FAPESP de 2014. E, como já se tornou tradição, grandes reproduções fotográficas de algumas das obras estão, a partir de hoje, expostas no Hall Nobre da FAPESP.
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Ao contrário das mostras anteriores, porém, que já homenagearam Francisco Rebolo, Aldo Bonadei, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Anita Malfatti, Arcangelo Ianelli, Tomie Ohtake e Renina Katz, a atual traz a novidade de apresentar, além das 18 reproduções, duas obras originais: o conjunto Metempsicose, de 1996, e uma grande estrutura de alumínio, em forma de portal, denominada Favela, de 2010.
Com a presença de vários convidados, a exposição foi inaugurada na tarde desta quarta-feira (22/7). Iniciando as atividades, Celso Lafer, presidente da FAPESP, afirmou que este é o último relatório que assina, pois seu mandato à frente da instituição se encerra neste ano. “Como este é o último relatório que subscrevo, dei ênfase ao tema da internacionalização do conhecimento, que foi uma tônica importante em minha gestão”.
Depois, referindo-se afetuosamente à artista Maria Bonomi, Lafer destacou a importância atribuída pela FAPESP às artes e humanidades. “Esse empenho em ilustrar nosso relatório com os trabalhos de grandes artistas é uma forma de valorizar a cultura no seu sentido mais substantivo”, disse. Em seguida, falou o escritor e curador de arte José Teixeira Coelho Netto, professor titular da Universidade de São Paulo, que escreveu um ensaio sobre a arte de Bonomi para o relatório. Tomando como fio condutor a gravura A Ponte, de 2011, Teixeira Coelho afirmou que Bonomi é uma construtora de pontes. E destacou quatro delas.
“A primeira é a ponte com o belo, em uma época em que a beleza foi rigorosamente banida das intenções da arte contemporânea e tornou-se quase um pecado. A segunda é a ponte com a ética, a ética no seu trabalho, sendo fiel a si mesma, mas também a ética em suas relações com a sociedade, como alguém que nunca se omitiu diante das questões centrais e sempre rejeitou aquilo que chama de ‘preguiça moral’. A terceira é a ponte com o coletivo, indo além do espaço das galerias e dos museus, para chegar ao espaço público. Finalmente, a ponte com o conhecimento: ela pesquisa, trabalha a fundo e transmite o conhecimento adquirido”.
Visivelmente comovida, Bonomi agradeceu as palavras de Lafer e Teixeira Coelho e o apoio que recebeu dos colaboradores da FAPESP na realização do relatório e na organização da exposição. E enfatizou a interação entre o artista e o público. “Na hora em que as coisas se apequenam, é preciso ir para as ruas, para as paredes. Porque o artista tem que distribuir aquilo que percebe. E o público lhe dá o retorno. Se não há esse retorno, o artista é um ponto escuro”, falou.
Artista polivalente
Dotada de exuberante energia e agudo senso profissional, Bonomi é uma artista polivalente. Em 65 anos de carreira – se considerarmos como marco inicial o ano de 1950, quando começou a tomar aulas de pintura em São Paulo com Yolanda Mohalyi – ela já atuou nos mais diversos campos das artes visuais: desenho, pintura, gravura, escultura, cenografia, ilustração e outros.
A artista fez pequenas ilustrações para livros de poesias e grandes cenários para o teatro, gravuras intimistas e intervenções monumentais no espaço público, como o enorme painel de três metros de altura por 73 metros de comprimento na Estação Luz do Metrô de São Paulo. Mas, em todos esses trabalhos, conforme ela insiste em afirmar, foi a linguagem da gravura que a orientou: a linha, o sulco, a construção do espaço a partir desses elementos simples.
Nascida em uma aldeia localizada às margens do Lago Maggiore, nas proximidades de Milão, em julho de 1935, Bonomi, aos 80 anos, está em plena efervescência criativa, recebendo encomendas, viajando constantemente, produzindo trabalhos de grandes ou pequenas dimensões, como a xilografia A Ponte, de 2011, e o painel alusivo ao Descobrimento do Brasil, constituído por duas peças triangulares em bronze, cada qual com 400 quilos, criado para o Teatro LOccitane, de Trancoso, Bahia, em 2014.
*Com a colaboração de Phelipe Janning.