Prestes a completar 30 anos, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) se destaca pelo apoio a projetos de natureza científica, tecnológica e de inovação considerados estratégicos para o desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e social do Estado. Apenas em 2015, a Fundação concedeu mais de 7 mil bolsas e apoiou 6.989 participações em eventos na área de CT&I.
Para falar um pouco mais sobre a Fundação e sua relevância no cenário de desenvolvimento de Minas e do Brasil, conversamos com Evaldo Ferreira Vilela, presidente da Fapemig.
Como surgiu a Fapemig?
Este foi um projeto do governador Hélio Garcia, motivado por pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), como Ramayana Gazzinelli, Carlos Diniz, Marco Luiz e Walfrido dos Mares Guia. Assim se criou uma pressão no governo para desenvolver uma fundação de amparo no estilo da que existia em São Paulo e isso vingou. Obviamente, demorou um pouco para que ela pudesse se desenvolver e viesse a receber recursos. Ela foi considerada tão estratégica para o Estado que é a única instituição que tem dinheiro reservado na constituição até hoje. Inicialmente, o orçamento equivalia a 3% da renda líquida, depois veio a passar a 1%. Ela recebia parte deste 1% em dinheiro e, por determinação do Tribunal de Contas, o complemento vinha por meio de prédios, terrenos, apartamentos no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte. Recentemente, a Fapemig, por meio de uma autorização da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), vendeu estes bens e levantou recursos para a construção de nossa sede própria, na José Cândido da Silveira, um prédio moderno, novo, a casa própria da Fapemig. Mas, definitivamente, ela passou a receber o 1% a partir de 2006, 2007. A economia mundial já começava a desenvolver a base do conhecimento e, com este 1%, a Fapemig passou a aplicá-lo e pulou de um orçamento de R$ 25 milhões para R$ 200 milhões. Empregou este dinheiro para consolidar um sistema estadual de ciência, tecnologia, inovação e ensino superior. Financiando projetos, fortalecendo grupos de excelência em medicina, agronomia, engenharia e designer, na Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg). E também financiar projetos tecnológicos junto às empresas como nas áreas de mineração, agronegócio, além de bolsas para consolidar e expandir as pós-graduações em Minas Gerais, abrigando os novos talentos da época nas universidades, além do incentivo na iniciação científica.
Qual a participação da Fapemig neste fomento à pesquisa?
A nossa participação é neste sentido de consolidar um sistema estadual de ciência, tecnologia e inovação capaz de contribuir para o desenvolvimento da sociedade. E temos certeza de que a Fapemig está fazendo isso, ela está contribuindo para a melhoria da qualidade de vida de Minas Gerais e do Brasil. E também na retenção de cérebros, aqui em Minas Gerais, mais atualmente na questão das startups, que nós temos apoiado.
O senhor defende muito a aproximação da ciência com a sociedade. O Pint of Science, evento que ocorre na semana que vem em BH, tem a característica de levar o pesquisador para um local público, onde ele interaja com a sociedade. Como o senhor avalia iniciativas como esta?
Muitas vezes, comemoramos nossos aniversários entre nós mesmos e a verdade é que temos que celebrar isso com a população, com as pessoas comuns. Isso é difícil, por isso decidimos participar do Pint of Science. Para levar esta discussão para um ambiente de descontração como é no bar, e apresentar as pessoas a ciência que existe em Minas e os resultados relevantes que têm sido conquistados, isso com o apoio da Fapemig. As pessoas precisam ver que cientista não é só nos Estados Unidos. O brasileiro precisa saber que temos pesquisas feitas aqui, e de uma maneira permanente. Temos grupos na UFMG, no Rio de Janeiro, em São Paulo, todos extremamente preparados e com resultados espetaculares. Graças a agências como a Fapemig, Fapesp, Faperj, CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). As pessoas precisam ficar sabendo disso, por isso eventos como Pint of Science é importante para disseminar o trabalho científico existente em Minas e no Brasil.
Vejo que o senhor tem uma linha de sempre tentar aproximar a ciência da sociedade civil. Qual as ações da Fapemig para levar este trabalho para as pessoas?
A Rede Mineira de Divulgação Científica é um dos caminhos. A Fapemig criou e apoia, com a ajuda de Instituições de Ciência e Tecnologia e Universidade, uma rede de divulgação científica. Temos o projeto Minas Faz Ciência, que conta com a Revista Minas Faz Ciência, o blog e canais em mídias sociais com foco na comunicação pública da ciência. Também temos parcerias com outros veículos de comunicação. Temos buscado todas as ferramentas possíveis para começar a desenvolver uma cultura de dar satisfação à população, demonstrando que a pesquisa apoiada pela Fapemig vai resultar em cura de doenças, cura de animal, em uma planta mais sadia, em uma nova tecnologia. Também tem o Inova Minas, onde fazemos uma mostra aberta ao público dos projetos que estão sendo desenvolvidos com o apoio da Fapemig.
E como as pessoas têm recebido estas pesquisas?
No momento em que as pesquisas se voltam para os problemas da comunidade isso é muito bonito porque é isso que as pessoas esperam. Os resultados das pesquisas científicas e tecnológicas muitas vezes ficam apenas em publicações, o que é natural. Hoje a Fapemig tem uma missão muito maior, que é tirar proveito desse sistema montado. A Fundação foi criada para solucionar desafios e problemas da sociedade, e ela tem que alcançar este objetivo. Estamos cada dia mostrando para as pessoas os nossos resultados, de forma que a sociedade entenda que vale a pena investir na Fapemig e nas pesquisas de modo a melhorar a qualidade de vida das pessoas. A ciência tem as respostas para os desafios. Uma vez apoiada, ela consegue encontrar estas respostas. Por isso temos que dialogar com a sociedade, para que ela entenda como é bom apoiar este tipo de trabalho.
O senhor apresentou diferentes pontos até aqui, sempre mostrando o quanto é importante o trabalho que a Fapemig vem desenvolvendo em Minas. Mas no seu ponto de vista, quais as maiores conquistas da Fundação?
A consolidação e expansão de um sistema robusto de ciência e tecnologia e inovação em Minas Gerais. Isso significa mais grupos de excelência em pesquisa, mais talentos formados, retenção destes talentos, mestres e doutores dentro das empresas, e a atração de novas empresas para Minas Gerais, porque uma vez que temos um sistema robusto na formação de pessoas inovadoras, você começa a atrair mais investimento. Acredito que esta é uma grande conquista. Outra conquista significativa, com baixo custo, mas que é uma iniciativa fantástica, é a bolsa de iniciação científica no ensino médio, a BIC Júnior. Fizemos isso de uma maneira pioneira no Brasil, e hoje é copiado por outros com um efeito fantástico já que você melhora o jovem.
E quais são os próximos desafios?
Sem dúvida o de cada vez mais conectar a Fapemig ao desenvolvimento do Estado. Porque os políticos ainda não entendem muito esta conexão de economia e ciência. A economia muitas vezes para os políticos é uma fábrica de automóvel, uma fábrica de sapato, não há problemas com isso, mas precisamos pensar que a economia hoje se move pela linha digital. E não se produz nada digital aqui, apenas monta aqui. Não temos patentes digitais, não estamos neste mundo e precisamos estar. Nossa economia precisa se tornar mais avançada, ter uma manufatura 4.0, uma indústria de sistemas por sensores, e não fizemos nada disso ainda. Assim, a Fapemig precisa ajudar a criar uma economia mais forte, é claro que não depende só dela, depende das políticas públicas e do entendimento dos políticos de que isso é necessário. É por aí o futuro, de conectar a ciência de excelência que temos com a economia.