São Paulo - Nos Estados Unidos, mais de 50% dos cientistas trabalham nas empresas, enquanto no Brasil esse número não chega a 20%. De acordo com Carlos Henrique Brito Cruz, reitor da Universidade de Campinas (Unicamp), essa escassez de pesquisadores nas firmas torna o diálogo com a universidade muito difícil. "Faltam profissionais dentro das empresas que entendam o sentido dos projetos formulados, que compreendam a parte técnica", afirma Cruz. "Afinal de contas, a empresa e' que é o motor da inovação, ela que identifica a demanda, cria e dirige o projeto".
A Unicamp criou em julho de 2003 sua Agência de Inovação, a Inova, com o objetivo de intensificar a relação entre a universidade e a sociedade. Por ano são feitos cerca de 90 contratos com empresas e setor público. "O diferencial da agência é institucionalizar esse relacionamento com um nível qualitativo superior e concentrar o gerenciamento sobre a propriedade intelectual", diz Cruz.
A universidade foi considerada a segunda maior patenteadora do Brasil, segundo dados da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no período de 1990 a 2001 - atrás apenas da Petrobras. A meta da Agência para o ano de 2004 era licenciar 10 patentes, mas esse número foi superado com larga margem (conseguiram 22), para surpresa dos organizadores. "Os contratos têm por objetivo difundir o conhecimento. As receitas que virão a gerar para a universidade ainda não foram sentidas e são secundárias".
A quantia sob o faturamento dos produtos patenteados que vai para a universidade é ínfima, segundo Cruz, fica entre 1% e 2%. "Contratos com valores muito altos inviabilizam a comercialização, porque os produtos sairiam muito caros". Das cerca de 300 patentes da Unicamp, 10% são licenciadas, sendo os departamentos de química, engenharia alimentícia e engenharia mecânica os mais promissores.
Para que a base acadêmica faça boas ligações com as empresas ti preciso que, em primeiro lugar, as duas partes saibam bem o que querem. E, em segundo, que a universidade seja sempre fiel ao seu objetivo, de criação e avanço do desenvolvimento.
No entanto, Cruz acredita que as empresas ainda enfrentam muitos problemas na hora de investir em inovações. "Depois da Lei de Incentivo, pode-se notar alguma melhoria, mas ainda falta muito". Ele diz que os empresários têm de pagar muitos impostos e quando não têm lucros, não recebem benefícios. "As leis não funcionam de forma a ajudá-los a investir do próprio bolso".
A Unicamp também possui parcerias com setores públicos - secretarias e ministérios da Saúde e Educação. "É necessário que os órgãos identifiquem suas necessidades, a partir de seus institutos de pesquisa".
Cruz diz que o governo brasileiro tem prestado atenção no setor de inovação tecnológica desde 1999. "O governo Lula continua atento, ele tem uma continuidade bem notável e sua política industrial está em uma boa direção".
Paula Posi
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DCI