O Brasil está perdendo a corrida do comércio mundial. Não exporta nenhum dos produtos que lideram o crescimento das exportações no planeta. Entre 1985 e 1995 as vendas de microcircuitos eletrônicos aumentaram, em média, 73,24% ao ano, enquanto as de soja, carro-chefe da pauta de exportações brasileira, cresceram apenas 2,8% em média.
É o que mostra um estudo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), preparado a pedido do ministro da Fazenda. Pedro Malan, e obtido com exclusividade por este jornal. "O Brasil não vai conseguir acabar com os déficits comerciais em sua balança exportando mais commodities agrícolas e minerais" diz Marcus Vinicius Pratini de Moraes, ex-ministro da Indústria e do Comércio do governo Médici e presidente da AEB. "Nem uma maxidesvalorização do real resolveria o problema".
O governo sabe disso. "O padrão industrial do mundo mudou e nós teremos que nos adequar a isso", explica Lídia Goldenstein, assessora da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "É preciso adotar uma política ativa de atração de investimentos nesses setores de ponta, se o País quiser reverter o quadro", completa.
No mundo, hoje, as economias em desenvolvimento travam uma verdadeira guerra para conseguir atrair empresas tecnologicamente avançadas. Na índia, por exemplo, uma agência governamental monta cardápios específicos de acordo com as necessidades de cada empresa.
O Brasil ainda é tímido nessa disputa. Alguns, avanços, porém, são visíveis. Discretamente, técnicos do governo vêm conversando com as empresas que, no Brasil, importam mercadorias de alto conteúdo tecnológico, na tentativa de trazer para o País seus fornecedores. Nesse processo, ganha importância crucial o papel do BNDES, como relatam o secretário de Política Econômica da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros, e Lídia Goldenstein, em artigo exclusivo para a Gazeta Mercantil. "A adaptação do BNDES aos novos parâmetros de funcionamento da economia brasileira tem sido decisiva, tanto para a reestruturação industrial quanto para a reestruturação do padrão de financiamento da economia, os quais, aliás, são processos indissociáveis", dizem os autores. (Págs. A-6 e 7)
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Gazeta Mercantil