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Clínica Veterinária

Falso resultado positivo para leishmaniose visceral canina (1 notícias)

Publicado em 01 de novembro de 2009

De acordo com um estudo realizado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, o diagnóstico unicamente em exames sorológicos - recomendado pelo Ministério da Saúde - pode apresentar falhas devido à possibilidade de ocorrências de reações cruzadas com outros microorganismos.

Segundo a pesquisa, foram analisados cães nos municípios de Botucatu e Bauru, regiões consideradas como não-endêmica e endêmica, respectivamente. O exame convencional - sorologia pela técnica de imunofluorescência indireta (RIFI) pode detectar o parasita Leishmania sp. como o Trypanosoma cruzi, agente que causa a doença de Chagas.

De acordo com professora Simone Baldini Lucheis, pesquisadora científica da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, para evitar falsos positivos seria necessário realizar exames de contraprova, como o exame parasitológico direto e a reação em cadeia pela polimerase (PCR, na sigla em inglês) - uma técnica biomolecular que permite a síntese enzimática in vitro de sequências do DNA.

"O exame convencional para Leishmania pode apresentar resultados falsos positivos pois, no momento do exame, o animal pode ter produzido anticorpos contra outros parasitas que são da mesma família da Leishmania, como Trypanosoma cruzi. Em muitos casos, o animal só está infectado por um deles, mas o exame acusa a presença do outro protozoário" disse à Agência FAPESP.

O trabalho foi publicado na revista Veterinary Parasitology. O estudo é resultado da dissertação de mestrado de Marcella Zampoli Troncarelli, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp de Botucatu, orientada por Simone com Bolsa da FAPESP.

Simone coordena o projeto intitulado "Isolamento e reação em cadeia pela polimerase (PCR) para Leptospira em amostras renais e hepáticas de ovinos sorologicamente positivos e negativos para leptospirose", que tem apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa - Regular.

Na pesquisa, foram analisadas amostras de 100 cães do Centro de Controle de Zoonoses, em Bauru, área considerada endêmica para leismaniose visceral, e outros 100 cães do Canil Municipal de Borucatu, município considerado indene para a doença.

De acordo com Marcella, como há possibilidade de reações cruzadas à sorologia, objetivou-se com o estudo a elucidação diagnóstica por meio da associação de três técnicas.A RIFI, recomendada pelo Ministério da Saúde, além do exame parasitológico direto, a partir de fragmentos de fígado e baço, e o exame PCR.

"A associação das três técnicas ajudou a identificar os animais realmente infectados por Leishmania. E devido à elevada sensibilidade do PCR foi possível detectção de animais que haviam apresentado resultados negativos à sorologia", disse à Agência FAPESP.

Os resultados do exame sorológico apontaram que 16% dos 200 testes tiveram resultado positivo para ambas as doenças. Nas amostras dos cães de Bauru, 65% dos testes sorológicos foram positivos para Leishmania e 40% para Trypanosoma cruzi. Entre os cães de Botucatu, todas as amostras foram negativas para Leishmania e apenas 4% foram positivas para o parasita da doença de Chagas.

"Quando realizamos o exame parasitológico e o PCR para Leshmania, foram obtidos, respectivamente, resultados positivos para 59% e 76% nas amostras de fígado, e 51% e 72% nas amostras de baço dos cães de Bauru. Nenhuma amostra foi positiva pela PCR para pesquisa de T. cruzi. Estes dados reforçam a ocorrência de reações cruzadas à sorologia", disse", disse a veterinária, que atualmente faz o doutorado na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Unesp.

Outro problema do exame sorológico, segundo ela, é que o resultado pode apontar também os "falsos negativos" - isto é, o exame resulta negativo, mas na realidade o animal está infectado. "Por estresse, imunodepressão causada pela doença, ou fatores individuais, o animal pode não produzir anticorpos em níveis detectáveis pelos testes sorológicos. Pela PCR, regristramos um número maior de animais infectados do que a própria sorologia. Ou seja, esse exame elucidou os "falsos negativos", afirmou Marcella.