Há comentários de que o custo dos livros produzidos no exterior é mais baixo que o dos livros produzidos pela indústria brasileira. Este erro não é incomum. Está acontecendo em vários setores da economia.
Como é do conhecimento de muitos, para o ano letivo de 1996, o governo federal, através da Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), adquiriu cerca de 110 milhões de livros didáticos, parte através do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD 96), parte através do Projeto Nordeste e, ainda, parte com repasses de verbas aos estados.
Para atendimento desses programas, os editores brasileiros acabaram contratando a produção de aproximadamente 40 milhões de livros, cerca de 36% dos 110 milhões do programa total, em empresas gráficas do exterior. Isto representou um concurso de 13 mil toneladas de papel estrangeiro e, além disso, viabilizou vários empregos em outros países. Neste processo, foram altamente prejudicadas as indústrias brasileiras de papel e de serviços gráficos.
Solicitamos as diversas empresas no exterior orçamentos para a produção de livros, incluindo papel e serviços gráficos. Em seguida, comparamos a mediu de preços obtida no exterior com a média obtida no mercado interno. Concluímos que a média de preço obtida no exterior, considerando os custos de papel, impressão e acabamento do livro, é 5,91% maior que os preços obtidos no mercado interno.
Os menos avisados, cuja análise é superficial, afirmam erradamente que os custos das empresas nacionais são mais altos quê os das empresas estrangeiras. Acabei de ouvir, hoje, de um brasileiro menos avisado, que repete esta afirmação a partir de uma análise superficial.
Onde estão os segredos?
Após uma análise cuidadosa, podemos afirmar, com a maior certeza, que os preços do exterior são mais altos que os da indústria nacional.
Com esta verificação concluímos que as indústrias brasileiras papeleira e gráfica são competitivas.
A indústria estrangeira, em seus respectivos países, recebe incentivos para exportar, tem taxas de juros extremamente mais baixas que as praticadas no mercado interno e, apesar disso tudo, ainda pratica custos finais mais altos que a indústria nacional.
Cabe aqui uma pergunta: Porque os editores brasileiros imprimiram livros no mercado externo? Por um único e exclusivo motivo: financiamento. A indústria estrangeira tem a capacidade de competir com a indústria nacional em virtude de oferecer taxas de juros mais baixas, pois já vimos que custos mais baixos elas não têm.
Como resolver esta equação?
Nos programas governamentais, os editores são obrigados a financiar o governo sem dispor de capital de giro suficiente para financiá-lo com capital próprio, obtenção de empréstimo bancários no Brasil inviabiliza a operação, em virtude das elevadas taxas de juros praticadas em nosso país. A solução foi financiar a produção desses livros no exterior, ou seja, obter o fornecimento de papel e de serviços gráficos com prazo de pagamento dilatado. Portanto, a única vantagem que os fornecedores do exterior oferecem é a do financiamento.
E lá se vão as nossas divisas e, o que é pior, os empregos dos brasileiros, no momento em que um dos maiores problemas do Plano Real é o desemprego. A solução é jurídica: basta a FAE obter, com o apoio do ministro da Educação - e talvez até do presidente da República -, a aprovação para pagamento de parcela significativa dos valores contratados, a título de adiantamento ao fornecedor. Isto já foi feito antes!
Em diversos programas governamentais anteriores de compra de livros didáticos, coordenados pela FAE, a fundação antecipava 70% do valor contratado, mediante sólidas garantias fornecidas pelos editores (fiança bancária), com excelentes resultados para o governo, para os editores e para a indústria nacional de papel e de serviços gráficos.
Nos ano em que isto aconteceu, não importamos um centavo, economizamos nossas divisas garantimos empregos brasileiros. A solução é esta! É fácil e está nas mãos das autoridades competentes. Vamos prestigiar a indústria brasileira
* Diretor da Editora Saraiva e ex-presidente da Associação Brasileira dos Editores de Livros.
Notícia
Gazeta Mercantil