A engenheira química Wang Shu Chen, de 45 anos, trabalhou por 25, anos na iniciativa privada, 13 dos quais no ramo de adesivos e selantes para aplicações industriais e na construção civil, um mercado que movimenta anualmente cerca de US$ 350 milhões. Sua função era dar suporte a clientes que usavam produtos à base de poliuretano para selar juntas de dilatação em edificações de concreto ou assentar pisos de madeira - tacos e assoalhos -, entre outras aplicações. Aprendeu tudo sobre o negócio e, há um ano, decidiu pesquisar o que a Europa e os Estados Unidos já estudavam fazia tempo: colas e selantes ecológicos que utilizam como matéria-prima poliéteres silil-terminados.
O nome parece complicado, mas o resultado é surpreendente. Os selantes derivados de polímeros silil-terminados são considerados ecologicamente corretos por não conter em sua formulação solventes e isocianato. Os primeiros são altamente inflamáveis, além de tóxicos, e o isocianato, utilizado na produção de poliuretana, pode provocar sérios danos ao aparelho respiratório, além de agredir o meio ambiente. "Eles são fruto de uma nova concepção no mercado de adesivos e podem vir a substituir a maioria dos produtos baseados em silicone e poliuretana", afirma Wang, que acaba de enviar amostras do selante para testes no Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, o IPT, condição para adequá-lo às normas internacionais. O intercâmbio com instituições de pesquisas como o IPT é uma das vantagens de que a empresa de Wang, a Adespec -Adesivos Especiais, desfruta por fazer parte do Cietec, o Centro Incubador de Empresas Tecnológicas de São Paulo. Criado em 1998 com apoio da Universidade de São Paulo, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, o Cietec está fazendo da Cidade Universitária, onde está instalado, um importante pólo para o desenvolvimento de produtos com conceitos inovadores, alta tecnologia, qualidade e bons preços.
INCUBADORA ABRIGA PROJETOS DE QUASE TODAS AS ÁREAS DO CONHECIMENTO
A incubadora da USP abriga atualmente 60 empreendedores residentes e mais de uma dezena de empresas associadas - que já existem e têm sede fora do campus, mas se beneficiam da parceria para desenvolver novos produtos. Os projetos cobrem praticamente todas as áreas do conhecimento. Incluem negóciosna área de software e Internet, como o desenvolvimento de metodologias para elearning, a produção de equipamentos médicos que substituem melhor e de forma mais barata os importados, novos acabamentos para metais, materiais como os adesivos da Adespec e muitos outros.
Para desenvolver seus projetos, as empresas residentes dispõem de uma completa infra-estrutura, com baixos custos - como salas por R$ 400/mês e serviços de telefone e Internet. Os empreendedores selecionados, sejam residentes, sejam associados, têm direito a consultoria para desenvolver o plano de negócios da empresa e montar a estratégia de marketing e vendas. E o Cietec ainda presta apoio no pedido de financiamento a instituições de pesquisa como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do BNDES. Além de tudo isso, há também a vantagem do acesso ao fértil ambiente da pesquisa universitária.
CUSTO DE MEDIDOR DE PH DO ESÔFAGO PODE CAIR DE R$ 50 MIL PARA R$ 8 MIL
Um exemplo das possibilidades desse intercâmbio é dado pelo criador da Endomed, Luiz Augusto Iba, que trabalha no desenvolvimento de uma linha de equipamentos médicos para exame do aparelho digestivo. A sonda de um de seus produtos - um monitorador de ph destinado a medir o nível de acidez do esôfago de portadores da doença do refluxo gastresofágico, conhecida como DGRE pelos médicos - foi desenvolvida por uma estudante de mestrado da Faculdade de Química da USP. A DGRE afeta 12% da população brasileira residente nos grandes centros. Caracterizada pelo retorno do conteúdo ácido do estômago para o esôfago, pode causar lesões graves e até provocar câncer, se não for tratada. Atualmente, a maior parte dos aparelhos utilizados para diagnóstico da DGRE é importada. O que mede o pH é um deles - custa R$ 50 mil. O produto desenvolvido por Iba deve sair por R$ 8 mil. A Endomed também está desenvolvendo um aparelho de manométrica esofágica, com custo estimado em R$ 9 mil. O importado custa R$ 75 mil.
Participar do Cietec representa, de fato, uma rara oportunidade de aliar teoria e talento à prática. A maioria dos empreendedores tem vasta experiência científica, mas sem apoio dificilmente conseguiria fazer de suas idéias um negócio. É o caso da BGE, fruto de longos anos de pesquisa do engenheiro eletrônico José Carlos Borges, formado no conceituado Instituto Tecnológico da Aeronáutica, o ITA. Borges fez mestrado em eletrônica para uso médico e ajudou a desenvolver produtos importantes, como os oxigenadores de sangue que substituem o pulmão dos pacientes nas cirurgias cardíacas. Na sua empresa, está criando aparelhos como os sensores ultra-sônicos de bombas de infusão, que servem para detectar a formação de bolhas de ar em recipientes tão vitais quanto os usados para administrar soro, medicamentos ou alimentação a pacientes internados, e são mais eficientes que os sensores ópticos.
A BGE já produz 100 peças por mês e agora se prepara para comercializar um aparelho que deverá trazer uma revolução para os 6 mil anestesistas brasileiros: um localizador de nervos do plexo braquial. A finalidade é auxiliar o médico a localizar o ponto exato que deve receber a injeção de anestésico nas
WangSnuChen: adesivos selantes ecologicamente correios cirurgias parciais de mão, braço ou perna. Atualmente, a porcentagem de erros na localização desse ponto nevrálgico chega a até 30%, o que acaba obrigando, muitas vezes, ao uso de anestesia geral.
A MÁQUINA DE "PASSAR" ROUPA
Na incubadora da USP, a criação de aparelhos tão específicos e delicados convive com projetos de ampla utilidade no lar, como é o caso da máquina de passar roupas que está sendo desenvolvida pela Coll Projetos. A iniciativa é da arquiteta Célia Jaber de Oliveira, sob a orientação de Nicola Getschko, doutor em mecatrônica e professor da Escola Politécnica. Se tudo der certo, o velho e ruim ferro de passar roupa, inventado pelos chineses há cerca de 400 anos e aperfeiçoado pela indústria americana no século passado, vai deixar de ser o único eletrodoméstico disponível para a função. O mesmo elemento que gerou a primeira revolução industrial - o vapor - pode em breve mudar radicalmente uma das rotinas mais desagradáveis do trabalho doméstico.
Comissária de bordo, Célia tirou a idéia do dia-a-dia que enfrentou por 18 anos. "Vivia de mala na mão, de um lugar para outro. Sempre que chegava a um hotel, pendurava as roupas no Box do banheiro, para que fossem alisadas pelo vapor do banho", conta. "Se o método funcionava, por que não inventar uma máquina a vapor que dispensasse o uso do ferro?", pensou. Em fase de testes, o aparelho tem o tamanho e a aparência de um freezer, com porta transparente que permite ver as roupas nos cabides sob o banho de vapor. Ele foi projetado para alisar de dez a 12 peças - camisas, vestidos, toalhas, lençóis, entre outras em 30 minutos.
Mas, ao contrário desse, muitos produtos desenvolvidos no Cietec já passaram da fase de desenvolvimento e agora estão gerando bons resultados. Um, entre inúmeros exemplos, é a Netvmi, desdobramento da IAS, chada há 12 anos por quatro engenheiros eletrônicos, e especializada na integração e automação de sistemas. Com a experiência nesse ramo, eles conseguiram chegar ao igate, que deu origem ao novo empreendimento da empresa. O dispositivo não difere muito dos equipamentos convencionais de telemetria, utilizados para medir níveis de estoques de grandes silos e depósitos industriais.
A novidade é que o medidor da Netvmi é capaz de conectar-se à Internet via sistema de Aplication Service Provi-der (ASP) e dar informações on-line para qualquer ponto do planeta.
O sistema passa as informações, por telefone, a um banco de dados que funciona 24 horas, sete dias por semana, e pode ser acessado a qualquer momento pelo cliente. Um alarme automático, emitido via e-mail, avisa sempre que o produto estocado atingir o nível mínimo estipulado para reposição. Tudo funciona via Internet, com linguagem criptografada e senha de acesso para segurança do cliente, diz Luiz Fernando Atolini, sócio da empresa. Para desenvolver o igate, a Netvmi contou com suporte do Cietec e financiamento de R$ 70 mil da Fapesp. O ineditismo do produto abriu para ela as portas do mercado americano. A empresa já tem seu sistema instalado em 200 tanques de matéria-prima dos Estados Unidos e acaba de fechar contratos na França e em Cingapura. No Brasil, está monitorando cerca de 60 instalações de empresas-clientes da Oxiteno, da Rhodia, da Basf e da 3M, entre outras. Para 2002, a Netvmi projeta um faturamento de R$ 1 milhão, informa Atolini, mais que satisfeito.
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