A propósito da reportagem "Brasil terá primeira fábrica de chips da AL", de 23-26/12/99 (...). O pedido desse financiamento (R$ 8,5 mi) foi encaminhado à Fapesp, ainda em versão preliminar, e foi submetido a uma análise também preliminar, por assessores internacionais. Neste momento, é impossível antecipar uma decisão, favorável ou desfavorável (...). José Fanando Perez, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp)
LABORATÓRIO É PRIMEIRO A PRODUZIR BIOCHIPS
O Laboratório de Genoma Funcional, do Hospital do Câncer, é o primeiro da América Latina capaz de produzir biochips - um suporte sólido no qual se fixam alguns marcadores moleculares, segundo Luiz Fernando Uma Reis, pesquisador do Instituto Ludwig - com dez institutos espalhados pelo mundo - e coordenador do laboratório.
De "acordo com Reis, os marcadores moleculares tio informações geradas a partir de dados fornecidos pelo Projeto Genoma. "São seqüências de DNA responsáveis por alguma função ou disfunção celular", explica Reis. O biochip, ou microarranjo de DNA, segundo o coordenador do laboratório, "consiste numa lamina de vidro sobre a qual são imobilizados os narradores".
Nas novas instalações, no Hospital do Câncer, em São Paulo, os biochips - considerados de alta densidade - são capazes de seqüenciar até 10 mil genes ao mesmo tempo. Ou seja, já estão sendo pesquisadas seqüências genéticas específicas para vários tipos de tumores.
Segundo Reis, o laboratório representa um grande avanço na medida em que permite ao especialista ver, em uma célula, alterações moleculares que precedem as alterações morfológicas. Como exemplo, ele cita o de um cidadão que sofre de dores de estômago. "Ele faz uma endoscopia, onde é detectada uma pequena lesão, aparentemente não tumoral", diz o médico. "É feita uma biopsia de uma parte da área lesionada e, posteriormente, uma análise morfológica e molecular, em que já é possível ver, se for o caso, marcadores típicos de tumor", diz. Esse paciente deverá ter a lesão no estômago extirpada, a fim de que aquelas células não se desenvolvam.
Até hoje, esse procedimento é feito com base em células retiradas em grandes porções de tumores, quando na verdade já há indicação de cirurgia para extirpação do câncer, segundo Reis. A partir do biochip, o que será analisado será apenas o material da biópsia, precedendo a cirurgia.
O biochip representa um grande avanço para a medicina diagnostica. Também é capaz de produzir dados relevantes sobre o prognóstico da doença e orientar os médicos sobre que tipos de droga devem ser empregadas no combate a determinado tipo de câncer. Reis explica que o objetivo final do laboratório é identificar as alterações genéticas iniciais que são capazes de evoluir para um câncer e, dentro dessa perspectiva, começar o tratamento antes de a doença se manifestar. O laboratório também permitirá o acompanhamento preciso de pacientes com antecedentes familiares de câncer.
O Laboratório de Genoma Funcional consumiu US$ 1 milhão, dinheiro proveniente da matriz do Instituto Ludwig. A sua viabilização integra o Projeto Genoma Humano de Câncer, coordenado por Andrew Simpson, do Instituto Ludwig de São Paulo. Vale lembrar que o instituto, em conjunto com a Fundação de Amparo à Pesquisa do listado de São Paulo (Fapesp), está investindo US$ 10 milhões do Projeto Genoma. O laboratório de biochip vem para complementar o trabalho desenvolvido pelo Projeto Genoma. Enquanto Laboratório do este identifica as seqüências dos genes, o biochip diz qual é a função deste gene na célula e com que doenças se relaciona.
Na filial paulistana do Instituto Ludwig, a grande vedete é o rabo Flexys, que tem capacidade para analisar até 10 mil amostras de tecido numa área de apenas 2 centímetros quadrados. Antes da chegada desta técnica ao Brasil, o método empregado era o da comparação. Utilizavam-se materiais de tecido canceroso e normal e comparava-se um com o outro. Para se obter do gene uma informação que aluasse como marcador de tecidos normais ou cancerosos eram necessárias várias amostras dos tecidos.
Segundo Reis, até hoje o Instituto Ludwig trabalhava basicamente com biochips produzidos fora do Brasil. "Os novos equipamentos nos permitirão produzir biochips próprios", explica o médico. Isso de acordo com ele, será muito importante especialmente em casos de câncer mais comuns no Brasil, como o de estômago. "Só os brasileiros vão estar interessados em estudar doenças típicas do nosso país, por isso é importante investir nessa tecnologia, afirma Reis.
De acordo com o especialista, a matriz do Instituto Ludwig direcionou verbas para a funcionamento do laboratório porque resolveu apostar alto no trabalho desenvolvido pela equipe do pesquisador Simpson, o projeto Genoma Humano de Câncer. O grupo desenvolveu uma metodologia em que a informação é gerada do meio do gene - onde se localizam as informações funcionais - para as extremidades. Essa técnica faz com que cresçam as chances de se obter informações relevantes.
Dentro dessa nova perspectiva, o grupo paulistano pretende produzir pelo menos 500 mil seqüências do genoma humano e o laboratório coordenado por Reis irá usar essas seqüências. Outro ponto que pesou na escolha da instalação do robô Flexys em São Paulo, de acordo com Reis, foi o fato de o Instituto Ludwig estar ligado ao Hospital do Câncer. "Existe aqui uma grande concentração de material extraído de diversos tipos de tumores".
Notícia
Gazeta Mercantil