Representantes de Camarões, Senegal e Tanzânia demonstraram recentemente interesse em conhecer mais o modelo desenvolvido pelo Brasil para produção de etanol de cana-de-açúcar, no sentido de analisar a possibilidade de transferi-lo para estes países africanos, que já plantam a cana. A informação foi dada à Agência Fapesp pela professora Glaucia Mendes de Souza, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (Bioen).
A pesquisadora apresentou a experiência de sucesso do Brasil em relação ao etanol na Coreia do Sul, nos dias 6 e 7 de outubro, quando participou do Seoul Science and Technology Forum, que reuniu representantes de instituições públicas de fomento à pesquisa de mais de 35 países para discutir como o país asiático pode utilizar o Oficcial Development Assistance (ODA) – um mecanismo financeiro criado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a fim de promover o crescimento sustentável de nações em desenvolvimento.
Esta foi a primeira vez que um representante do Brasil participou do fórum, cuja primeira edição ocorreu em 2010. Em sua apresentação no evento, Souza destacou as ações e os resultados obtidos pelo Bioen, lançado em 2008 e que tem o objetivo de estimular e articular atividades de pesquisa e desenvolvimento utilizando laboratórios acadêmicos e industriais para promover o avanço do conhecimento e sua aplicação em áreas relacionadas à produção de bioenergia no Brasil.
Experiência brasileira
Além disso, a pesquisadora também ressaltou que 46% da matriz energética brasileira hoje é renovável, contra uma média de 13% dos países em desenvolvimento e cerca de 6% a 8% dos países desenvolvidos.
“Eu acho que os representantes dos países participantes do evento ficaram um pouco surpresos com a minha apresentação, mostrando o quanto o Brasil já caminhou na busca do desenvolvimento sustentável. Eles não sabiam que o país estava tão avançado no estabelecimento de uma matriz energética renovável e que contava com um programa de pesquisa tão robusto na área como o Bioen”, relatou Souza.
Em breve deverá ser organizada a visita das delegações destes países ao Brasil, especificamente ao Estado de São Paulo, que é o maior produtor de etanol de cana-de-açúcar do país, com o objetivo de que possam conhecer de perto os laboratórios de pesquisa na área, além de usinas brasileiras.
“Já foi realizada uma missão de brasileiros para a África para verificar a disponibilidade de terra dos países da região que poderia ser utilizada para plantar cana-de-açúcar e verificou-se que há, talvez, 10 milhões de hectares que poderiam ser destinados para essa finalidade. É necessário realizar um estudo para verificar o potencial da África pra produção de etanol de cana-de-açúcar para trabalharmos em colaboração nessa área”, observou Souza.
“O que fica claro em todas essas reuniões globais, que reúnem muitos países, é que ainda não se sabe qual o caminho que deverá ser seguido para se promover o crescimento ‘verde’. E é difícil de se determinar qual será o mecanismo para atingir esse objetivo porque vários países em desenvolvimento que estavam presentes nesse fórum, por exemplo, apontaram que nenhum dos países desenvolvidos começou ‘verde’, mas sim ‘sujos’, e agora estão falando para os países em desenvolvimento que eles têm de crescer ‘verdes’”, analisou Souza.
Para avançar as discussões que foram promovidas durante o evento, no documento final do fórum foi estabelecida a meta de criar um banco de dados sobre ciência e tecnologias “verdes”, para disseminar informações, promover parcerias público-privadas e gerenciamento da propriedade intelectual em indústrias sustentáveis, a fim de pavimentar a rota tecnológica para o crescimento sustentável.