A atividade física proporciona muitos benefícios aos hipertensos. Mas pode ser significativamente potencializada se os exercícios forem praticados no período noturno, entre as 18h e as 21h. É o que mostra um estudo publicado na revista Blood Pressure Monitoring, que teve como foco a taxa de recuperação cardíaca (TRC), ou seja, a medida de redução da frequência cardíaca após a interrupção da atividade.
Comparando as respostas de 49 homens hipertensos de meia-idade, medicados por no mínimo quatro meses com o mesmo tipo de fármaco a treinos aeróbicos estruturados realizados pela manhã e à noite durante dez semanas, a análise concluiu que o treino noturno melhorou tanto a fase rápida (medida 60 segundos após o ápice do esforço físico) quanto a fase lenta (medida 300 segundos depois) da TRC.
Segundo Leandro Campos de Brito, pós-doutorando que conduziu a pesquisa sob a orientação da professora Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz, da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP), os resultados mostraram que aproximadamente 25% das pessoas não se adaptam aos exercícios para controle a pressão e, por isso, precisam de estratégias diferentes como essa de fazer exercícios em momentos que possam aumentar os benefícios. “Há dois ramos no sistema autonômico cardíaco: o simpático, que faz o coração desacelerar e o parassimpático, que faz bater mais forte. Espera-se que, após um período de treinamento com exercícios físicos, o poder do parassimpático aumente [coração mais relaxado] e o do simpático diminua”, disse Brito.
Para o experimento, os voluntários foram alocados aleatoriamente em três grupos: o de treinamento matinal, entre 7h e 9h, o de treinamento noturno, entre 18h e 21h e o grupo-controle (sem treino aeróbico). A prática foi realizada três vezes por semana durante dez semanas, em que os dois primeiros grupos pedalaram na bicicleta ergométrica durante 30 minutos nas duas primeiras semanas e 45 minutos nas demais, com intensidade moderada e o grupo controle fez alongamento por 30 minutos. Nas avaliações iniciais e finais do estudo, a taxa de recuperação cardíaca dos voluntários foi mensurada 60 e 300 segundos após o final do exercício. “A TRC nos permite inferir como esse comportamento ocorre, por meio da mensuração realizada nos primeiros 60 segundos [resposta tipicamente parassimpática] e 300 segundos após o fim de um teste máximo de esforço cardiopulmonar, sendo que essa última resposta sugere tanto a atuação do nervo parassimpático, recuperando o compasso do coração, quanto a desaceleração do simpático, cuja atividade foi acumulada durante o exercício”, completa o pesquisador, que quis avaliar justamente o efeito crônico da atividade para benefícios cardiovasculares em geral.
Isso incluía também as respostas da TRC, como medida de redução da frequência cardíaca após a interrupção do exercício. Trata-se de uma variável capaz de fornecer um marcador dos mecanismos autonômicos de regulação do funcionamento do coração. De acordo com os pesquisadores, o fato das duas fases – rápida e lenta – da TRC terem aumentado com o treino noturno indica que praticar atividades a essa hora melhora ambos os ramos do sistema autonômico cardíaco (parassimpático e simpático). Os resultados mostram ainda que o efeito benéfico não é limitado ao momento em que os participantes praticaram os exercícios. “Avaliamos as pessoas pela manhã e à noite e as que treinaram no período noturno mostraram melhores resultados nas duas avaliações”, conclui Brito. Mas ele alerta. “É importante dizer que, quando o assunto é fazer exercício, qualquer hora é melhor do que hora nenhuma. Ou seja: é necessário se exercitar. O que tentamos neste trabalho foi maximizar as respostas.”
Com Agência Fapesp