Descoberta foi feita por pesquisadores da Universidade Estadual de São Paulo
Durante as atividades físicas, o corpo humano libera um hormônio chamado irisina. Pesquisadores da Universidade de São Paulo descobriram que essa substância tem a capacidade de alterar a expressão de vários genes, o que tornaria células mais resistentes à replicação do novo coronavírus.
O achado, que foi parte da pesquisa de doutorado da pesquisadora Miriane de Oliveira, da Faculdade de Medicina da Unesp em Botucatu (SP), foi publicado na revista Molecular and Cellular Endocrinology.
As análises primárias foram realizadas em laboratório. Células de gordura receberam doses de irisina e, em seguida, os conjuntos de moléculas de RNA presentes nelas foram estudadas. Houve reduções nas expressões de oito genes que têm relação direta no processo de multiplicação da Covid-19.
Vale recordar que cientistas já haviam descoberto que células adiposas favorecem a replicação do vírus causador da doença. O novo coronavírus é capaz de infectá-las, fazendo com que elas se tornem uma espécie de reservatório da Covid-19. E não são todas as células do corpo humano que têm essa característica, explicando porque obesos tendem a apresentar uma carga viral mais alta em comparação com pessoas saudáveis.
Outro ponto importante foi a triplicação dos níveis de um gene que ajuda a bloquear o avanço do agente patológico, o mesmo que idosos têm em menor quantidade, o que pode estar relacionado aos casos mais graves da doença em pessoas de faixa etária avançada.
Esse hormônio é produzido durante exercícios físicos contínuos e já era conhecido por modificar o metabolismo dos tecidos adiposos brancos, que armazenam triglicerídeos, lipídios e acumulam gordura. Esse processo favorece o gasto energético, o que torna a irisina um agente terapêutico para doenças metabólicas, como a obesidade.
Além disso, a literatura já havia mostrado que a substância é uma importante moduladora de um tipo específico de células do sistema imunológico, com potencial anti-inflamatório.
Os resultados da pesquisa ainda são preliminares, e sugerem pistas, abrem caminhos para um possível tratamento futuro utilizando a substância, e reforça a importante de fazer exercícios físicos, mesmo para quem está em confinamento, já que essas atividades só trazem benefícios ao corpo humano.
METODOLOGIA
A pesquisa de Miriane e uma equipe de outros cientistas utilizou gerenciamento de dados obtidos em pesquisas básicas. Inicialmente ela comparou a ação da irisina e dos hormônios produzidos pela glândula tireoide na diminuição de acúmulo lipídico e na modulação de genes nas células adiposas, já que o objetivo era avaliar o papel desses compostos na redução dos tecidos gordurosos e geração de energia.
Com o estudo, Miriane identificou, por exemplo, que a irisina não só diminui o acúmulo lipídico como aumenta a expressão da proteína desacopladora 1 (UCP1), associada a maior gasto calórico, segundo relatos dela à Agência de Fomento à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), uma das patrocinadoras do estudo. O aumento da expressão dessa proteína é compatível com a redução de dano de DNA e de estresse oxidativo.
Com a chegada da pandemia, ela resolveu usar todos os dados que haviam sido gerados na tentativa de descobrir se a substância interferia de alguma forma na replicação da Covid-19
Fonte: Correio do Estado