Estudo brasileiro mostra que a musculação pode ajudar a controlar os níveis de pressão ao provocar a chamada hipotensão pós-exercício resistido. EntendaA hipertensão arterial é uma doença muito comum na vida dos brasileiros. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde divulgada pelo IBGE em 2020, cerca de 38,1 milhões de brasileiros, ou 23,9% da população nacional, já foram diagnosticados com a doença. Sabe-se que o treinamento aeróbio, como a caminhada, é um grande aliado no tratamento e prevenção da doença, podendo reduzir a pressão arterial por até 12 horas após sua execução. Agora, um estudo realizado por pesquisadores do Laboratório de Hemodinâmica da Atividade Motora da Universidade de São Paulo (USP) mostra que a musculação também apresenta muitos benefícios nesse sentido.
Isso acontece porque após a prática do exercício de força ocorre um fenômeno chamado de Hipotensão Pós-Exercício Resistido; ou seja, há uma diminuição dos níveis de pressão arterial no organismo do indivíduo devido a atividades físicas como a musculação. Rafael Yokoyama Fecchio, principal autor do estudo, explica sobre este fenômeno.
- Estudos demonstram que após uma sessão de exercício ocorre uma diminuição dos níveis de pressão arterial na ordem de 5 mmHg, sendo esse fenômeno conhecido como hipotensão pós-exercício. Esse fenômeno já pode ser observado ao se medir a pressão arterial cerca de 20 ou 30 minutos após o exercício e comparar esses valores com os obtidos em uma medida realizada antes do exercício. Inicialmente, a hipotensão pós-exercício foi demonstrada após a realização de atividades aeróbias; porém, estudos mais recentes têm demonstrado que essa resposta ocorre também após uma sessão de exercício resistido, como a musculação, o que recebeu o nome de hipotensão pós-exercício resistido - esclarece o pesquisador.
Um dado interessante do estudo é que foi observado que a hipotensão pós-exercício resistido é maior nos indivíduos que apresentam maiores níveis de pressão arterial. Ou seja, o exercício resistido possui maior efeito em reduzir a pressão arterial justamente nos indivíduos que mais precisam de tratamento.
O estudo analisou dados de 131 participantes entre 19 e 74 anos, de ambos os gêneros, obtidos por sete ensaios clínicos prévios, e mostrou que a intensidade (carga) de exercício não afetou a hipotensão pós-exercício resistido. Por outro lado, ocorreu maior redução da pressão arterial após sessões de exercício resistido com maior volume, que envolvem maior número de exercícios, séries e repetições. Por exemplo, o pesquisador comenta que os participantes que realizaram uma série adicional para cada exercício apresentaram um aumento da hipotensão pós-exercício resistido em 4 mmHg. Os protocolos aplicados envolveram de um a nove diferentes exercícios resistidos realizados por até três séries de oito a vinte repetições, e intensidade entre 50 e 80% da força máxima. Participaram dos estudos indivíduos normotensos, pré-hipertensos e hipertensos.
Após a observação desses resultados, Rafael acredita que o maior efeito hipotensor do exercício de força associado com maior volume se deve a uma ativação mais prolongada do sistema circulatório, que aumenta o fluxo sanguíneo para o músculo.
Isso quer dizer que uma sessão com um número maior de exercícios, séries e/ou repetições pode potencializar os benefícios ao hipertenso independente do aumento de carga ao praticante. Além disso, o estudo observou que a hipotensão pós-exercício resistido não foi influenciada pelo gênero ou pela idade dos indivíduos.
O trabalho, intitulado “Existe variação verdadeira nas respostas individuais de hipotensão pós-exercício resistido dinâmico?”, foi contemplado com o 3º lugar na categoria “Destaque Científico” do Prêmio Dr. Victor Keihan Rodrigues Matsudo no VIII Congresso Brasileiro de Metabolismo, Nutrição e Exercício de 2021. O estudo contou com autoria de Rafael Y. Fecchio, Andréia C.C. Queiroz, Eduardo C. Costa, Raphael M. Ritti-Dias, Cláudia L.M. Forjaz e contou com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP.
Apesar de os resultados do estudo serem bastante otimistas, Rafael Fecchio ressalta que é necessário ter cautela nesse assunto. Ele enfatiza que embora o exercício resistido promova benefícios após a sua execução, existe um aumento de pressão arterial durante a sua execução, o que precisa ser levado em consideração. Porém, diversos estudos demonstraram que é possível atenuar esse aumento de pressão arterial ao manipular adequadamente as características do protocolo de exercício, como intensidade, duração, escolha do exercícios, tempo de descanso, entre outros.
Assim, a musculação tem potencial para gerar grande aumento de pressão arterial durante a sua execução, porém, é possível controlar esse aumento através de uma prescrição adequada de exercícios. Então é importante que o hipertenso tenha um acompanhamento de profissionais que desenvolvam um protocolo de exercícios individualizado de acordo com o seu quadro. O pesquisador comenta que existe uma diretriz brasileira de hipertensão arterial que inclui recomendações específicas para realização do exercício resistido e é importante que ela seja seguida para uma execução segura da atividade física.
A pressão alta é determinada pela elevação dos níveis de pressão arterial acima de 140/90 mmHg (milímetros de mercúrio), popularmente conhecida como 14/9. O primeiro número se refere à pressão máxima ou sistólica, que corresponde à contração do coração; já o segundo, à pressão do movimento de diástole, quando o nosso coração relaxa.
Mesmo com uma condição assintomática, a hipertensão arterial pode afetar a estrutura e funcionamento de diferentes órgãos como:
A hipertensão é um fator importante associado a algumas doenças cardiovasculares como acidente vascular cerebral (AVC), infarto agudo do miocárdio (IAM) e doença renal crônica, entre outros.
É muito comum que os sintomas da hipertensão apareçam apenas quando a pressão atinge níveis muito altos ou quando a pessoa já está exposta à doença por muitos anos. Assim, a pressão alta pode se manifestar com dores no peito, dores de cabeça, tonturas, zumbido no ouvido, fraqueza, visão embaçada e sangramento nasal. Por se tratar de uma doença “silenciosa”, ou seja, sem sintomas aparentes de imediato, o recomendado é aferir a pressão regularmente. Pessoas acima de 20 anos de idade devem medir a pressão ao menos uma vez por ano e, caso tenha histórico de familiares hipertensos, a medição deve ocorrer ao menos duas vezes por ano.
A pressão alta, apesar de não ter cura, tem diversos tratamentos que ajudam em seu controle. A recomendação principal é ter hábitos mais saudáveis, com uma alimentação balanceada com pouco consumo de sal, evitar alimentos ultraprocessados, evitar a ingestão de bebidas alcóolicas e o tabagismo. E. claro, praticar exercícios físicos aeróbicos e de força com constância e recorrência para estimular a circulação sanguínea e ter um efeito vasodilatador. (Foto: ) (Foto: )