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Exercício físico, mesmo em casa, é fundamental para a saúde (47 notícias)

Publicado em 05 de junho de 2020

Por Da redação

Entre os efeitos colaterais das medidas de isolamento social adotadas para conter a covid-19 está o aumento do sedentarismo, que pode contribuir para a deterioração da saúde cardiovascular mesmo em curtos períodos de tempo. Idosos e portadores de doenças crônicas tendem a ser os mais afetados. O alerta foi feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em artigo de revisão publicado no “ American Journal of Physio log y ”. Segundo os autores, o apelo feito por governantes e profissionais da saúde para que as pessoas “ fiquem em casa ” é válido na atual conjuntura, sem dúvida. Mas deve vir acrescido de uma segunda recomendação: “ não fiquem parados ”. “ Uma pessoa precisa fazer ao menos 150 minutos de atividade física moderada a intensa por semana para ser considerada ativa, de acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde e das sociedades médicas.

O uso de academias e centros esportivos ficará limitado nos próximos meses, mesmo após o fim da quarentena. A atividade física realizada no ambiente domiciliar surge como uma alternativa interessante ”, afirma Tiago Peçanha, bolsista da Fapesp de pós doutorado e primeiro autor do artigo, que apresenta uma série de evidências científicas relacionadas ao impacto de curtos períodos de inatividade física sobre o sistema cardiovascular. Alguns dos estudos avaliados mostraram, por exemplo, que manter uma pessoa acamada durante 24 horas pode induzir atrofia cardíaca e redução significativa no calibre dos vasos sanguíneos em um período que variou entre uma e quatro semanas. Peçanha ressalta se tratar de um modelo agressivo, que não representa o que ocorre durante a quarentena. “ Mas há outros experimentos relatados no artigo que são bastante representativos ”, diz o pesquisador. Em um deles, voluntários foram induzidos a reduzir de 10 mil para menos de 5 mil o número de passos diários durante uma semana.

Ao final, notou se redução no diâmetro da artéria braquial (principal vaso do braço), perda da elasticidade dos vasos sanguíneos e danos ao endotélio (camada de células epiteliais que recobre o interior das veias e artérias). à, ainda, experimentos em que os voluntários foram mantidos sentados continuamente durante períodos que variavam entre três e seis horas. O tempo de inatividade foi suficiente para promover alterações vasculares, aumento nos marcadores de inflamação e no índice glicêmico pós-alimentação. Mudanças estruturais “ Essas primeiras alterações observadas nos estudos são funcionais, ou seja, O coração e os vasos sanguíneos dos voluntários saudáveis passaram a funcionar de forma diferente em resposta à inatividade física. Caso a situação se prolongue, porém, a tendência é que se transformem em alterações estruturais, mais difíceis de reverter ”, explica o pesquisador.

Se indivíduos saudáveis podem correr atrás do prejuízo literalmente-, o impacto do sedentarismo prolongado tende a ser nefasto para pessoas com doenças cardiovasculares e outras condições crônicas de saúde, como diabetes, hipertensão, obesidade e câncer. No caso dos idosos, pode também agravar a perda generalizada de massa muscular quadro conhecido como sarco peni a- e aumentar o risco de quedas, fraturas e outros traumas físicos.O grupo da publicou artigo a respeito no Journal of the American Geria tric s Society ”. “ Essas populações mais vulneráveis aos efeitos do sedentarismo também integram o grupo de risco da covid-19 e, portanto, precisarão se resguardar em casa durante os próximos meses. O ideal é que encontrem estratégias para se manter ativas, seja realizando tarefas- O Sul Exercício físico, mesmo em casa, é fundamental para a saúde. Reprodução domésticas, caminhando até o jardim, subindo escadas, brincando com os filhos ou dançando na sala. As evidências científicas indicam que a prática de exercícios no ambiente domiciliar é segura e eficaz para controlar a pressão, melhorar as taxas lipídicas, a composição corporal, a qualidade de vida e de sono ”, afirma Peçanha.

Para os pacientes de maior risco, principalmente aqueles não habituados à prática de exercícios, o pesquisador recomenda supervisão por profissionais de saúde, ainda que a distância, por meio de câmeras, aplicativos de celular e outros dispositivos eletrônicos. “ Estudos mostram que as pessoas tendem a aderir melhor à atividade física quando se cria um ambiente online que favoreça o suporte social e a interação entre os praticantes.

Novas evidências

Dados divulgados nos últimos meses por empresas que comercializam relógios inteligentes e aplicativos para monitoramento de atividade física indicam queda no número de passos diários de seus usuários desde o início do confinamento. “ A norte-americana Fitbit, por exemplo, apresentou em seu blog, em 22 de março, dados de 30 milhões de usuários que mostraram uma redução entre 7% e 33% no número Exercício físico, mesmo em casa, é fundamental para a saúde. de passos dados por dia. No Brasil, há um levantamento feito pelo pesquisador Raphael RittiDias pela inte met com mais de 2 mil voluntários. Mais de 60% afirmam ter reduzido seu nível de atividade física após o início da quarentena ”, conta Peçanha.

“ Essas ainda são evidências preliminares, mas há estudos em andamento que visam medir o efeito para a saúde da inatividade física durante a quarentena. ” Uma dessas iniciativas está sendo conduzida na pelo grupo vinculado ao Projeto Temático “ Reduzindo tempo sedentário em populações clínicas: o estudo take a stand for health ”, coordenado pelo professor Bruno Gual ano, coautor do artigo publicado no “ American Journal of Physio log y ”. “ Acompanhamos alguns grupos clínicos no âmbito do Temático, como mulheres com artrite reumatoide, pacientes submetidos a cirurgia bariátrica e idosos com comprometimento cognitivo leve. O objetivo é induzir o aumento da atividade física nessas populações por meio de ações do cotidiano, como passear com o cachorro ou descer dois pontos antes ao andar de ônibus, e avaliar os efeitos na saúde ”, conta Peçanha.