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Exames de retina com smartphones (1 notícias)

Publicado em 03 de outubro de 2016

Um aparelho que permite a realização de exames oculares de maneira prática, barata e com o uso de smartphones. Esse é o projeto desenvolvido por três ex-alunos da USP, em São Carlos, que venceu o Falling Walls Lab São Paulo, etapa classificatória da competição global que incentiva a criação de soluções de alto impacto na sociedade. José Augusto Stuchi, um dos autores do projeto, irá representar o Brasil na final da competição, que será realizada em novembro, na Alemanha. Ele é graduado em Engenharia de Computação, curso oferecido em conjunto pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) e pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC).

O equipamento desenvolvido é o SRC – Smart Retinal Camera, versão portátil do retinógrafo, que é utilizado em exames de retinografia para observar e registrar fotos da retina. “Nós redesenhamos todo o projeto óptico e eletrônico e transformamos o retinógrafo em uma miniatura, podendo, assim, ser acoplado a um smartphone”, explica José Augusto. Ele conta que, apesar do sistema óptico ser reduzido, as imagens obtidas pelo aparelho têm qualidade tão boa quanto a dos aparelhos tradicionais, sem contar que o custo para sua produção é bem menor.

O SRC é o primeiro protótipo de retinógrafo portátil do Brasil a utilizar smartphones para a realização de exames.

Facilidades

No país, mais de 6 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência visual, porém, 85% dos municípios brasileiros não possuem oftalmologistas. A portabilidade e o baixo custo do SRC podem facilitar a expansão de exames e atender aqueles que não podem se deslocar aos consultórios. “Imagine que a pessoa está acamada e não consegue ir até a clínica fazer o exame. Um operador, que não precisa ser médico, pode ir até a casa do paciente e realizar todos os procedimentos. Posteriormente, essas imagens ficariam disponíveis em um site para acesso dos médicos, que dariam o diagnóstico à distância”, diz José Augusto, que hoje faz doutorado em Engenharia de Computação na UNICAMP.

A facilidade para transportar o aparelho também pode possibilitar seu uso em campanhas para a realização de exames em lugares distantes e que não possuem retinógrafos. O tamanho reduzido facilita, ainda, a utilização em crianças. Elas costumam ter dificuldade em se posicionar corretamente com a testa, queixo e cabeça em frente ao aparelho convencional. “Diagnosticar desde cedo uma doença possibilita que você previna e trate o paciente para que ele não fique cego. Por ano, 500 mil crianças perdem a visão no mundo e 80% de todos os casos de cegueira do planeta são evitáveis”, afirma o pesquisador.

Prevenção

Segundo José Augusto, fomentar a maior distribuição de retinógrafos pelo Brasil contribuiria não somente para a realização de mais exames, mas também para estudos específicos sobre as doenças e a melhor forma de combatê-las. “Após classificarmos os tipos de patologias, poderíamos fazer um mapeamento que mostrasse qual a incidência de cada uma, assim como os locais mais afetados no país. Com isso, o governo poderia atuar de forma direta nos estados ou regiões mais comprometidas”.

O começo

A ideia do projeto nasceu há cerca de dois anos. José Augusto, juntamente com o engenheiro eletricista Flavio Vieira e o físico Diego Lencione, ambos formados pela USP, em São Carlos, sempre se interessaram pela área da saúde, tanto que os três desenvolveram suas pesquisas de mestrado aplicadas à retinografia. Além da paixão por esse campo, o trio possui outra motivação: “O irmão do Diego tem um problema no olho desde criança, o que nos incentiva muito nessa missão”, relata José Augusto.

Startup

O envolvimento no projeto levou os três idealizadores a fundar, em março deste ano, a startup Phelcom, empresa focada em criar produtos inovadores, combinando soluções na área de óptica, eletrônica e computação. O desenvolvimento do retinógrafo portátil é financiado pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). A expectativa dos pesquisadores é de que o protótipo, que ainda não foi testado em humanos, seja comercializado já no primeiro semestre de 2018.