Por André Julião/ Agência Fapesp No Norte do Brasil, os membros da população de árvores de mangue-vermelho ( Rhizophora mangle ) não se encontram com frequência com seus parentes do Sul e vice-versa.
No entanto, migrações ocasionais entre uma e outra região, com a viagem de sementes adaptadas à água salgada, conhecidas como propágulos, pelas correntes oceânicas, fazem com que as populações troquem material genético entre si e mantenham-se ligadas ao longo da evolução.
Essa é uma das conclusões de um estudo na revista Molecular Ecology Resources por pesquisadores do Brasil, apoiados pela Fapesp, e do Japão. A espécie estudada é uma das poucas da planta conhecida popularmente como mangue-vermelho, árvore predominante nos manguezais do mundo todo. Os resultados ajudam a compreender a dispersão dessas plantas fundamentais na ecologia costeira e podem contribuir para definir critérios para a criação de áreas prioritárias de conservação. Os manguezais são importantes berçários para diversas espécies marinhas e estocam grandes quantidades de carbono.
Parte das análises foi realizada durante na Universidade de Tsukuba, no Japão, ainda na sua graduação. Os estudos continuaram no no IB-CLP-Unesp, também com bolsa da Fapesp.
O trabalho serviu de base para o projeto “Avaliando adaptação, variação epigenética e dispersão para entender a resposta de mangues em um mundo em mudanças”, . Parte das coletas e análises foi realizada por Mori ainda durante o na Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), em Campinas, entre 2014 e 2016, sendo um ano em na Universidade Chiba, no Japão.
Cruzamento de dados Os propágulos são como sementes dos mangues, que resistem cerca de um ano na água salgada, doce ou salobra até encontrarem uma área onde possam germinar. Nas espécies do gênero Rhizophora, o propágulo é verde, cilíndrico e pontudo, comumente encontrado boiando no mar em qualquer praia do litoral brasileiro.
Usando modelos matemáticos de flutuação de objetos com dados de correntes oceânicas de dez anos, os pesquisadores simularam para onde iria cada propágulo que caísse no mar em 11 pontos de norte a sul do litoral brasileiro. Os pontos abrangeram de Salinópolis, no Pará, até Florianópolis, em Santa Catarina. Na simulação, ao longo do período de 2010 a 2020, cada vez que um propágulo parasse na costa considerava-se que poderia germinar.
A hipótese é compatível com os dados genéticos, que mostram uma conexão ancestral entre as populações, na escala de milhares de anos, mas pouca ou nenhuma em gerações recentes. Outros fatores mais variáveis, como correntes costeiras e dispersão de pólen pelo ar, podem contribuir para a troca de material genético entre as populações, complementando essa hipótese. Porém, não há dados desses parâmetros nas populações analisadas no estudo para confirmar a afirmação.
Os pesquisadores planejam agora aplicar a mesma abordagem a mangues do mundo inteiro, desta vez cruzando as simulações oceanográficas com dados moleculares de mangues compilados por grupos de pesquisa em outras partes do planeta. A ideia é entender se os resultados encontrados no litoral brasileiro são parte de um padrão global ou apenas local.
O artigo The role of oceanic currents in the dispersal and connectivity of the mangrove Rhizophora mangle on the Southwest Atlantic region pode ser lido em: