As primeiras medidas tomadas pelo presidente eleito dos EUA, Joe Biden, como o retorno dos EUA ao Acordo Climático de Paris e a convocação da Cúpula do Clima, ocorrida em abril, recolocam a maior economia do mundo como uma liderança ativa nas discussões mundiais sobre políticas energéticas sustentáveis. Entre elas, a geração de bioenergia e a produção de biocombustíveis.
Além disso, o recém-lançado relatório “Mapa do Caminho para Emissões Zero”, da Agência Internacional de Energia (AIE), mostra haver uma janela de oportunidade muito estreita para limitar o aquecimento global a níveis aceitáveis. Isso demandará múltiplas soluções, incluindo o crescimento do uso da bioenergia.
Segundo a Agência, para que essa janela de oportunidade não seja perdida, a produção global de bioenergia sustentável deverá mais que dobrar nos próximo 30 anos, passando dos atuais 40 para cerca de 100 Exajoules de energia disponibilizada e a produção de biocombustíveis deverá mais que quadruplicar, aumentando o consumo diário de 1,6 para 7 milhões de barris, considerando a equivalência como o de petróleo.
Esse novo cenário, incluindo a discussão sobre as políticas públicas, tecnologias e meios para alcançar essa aceleração, estará em pauta no Biofuture Summit II e Brazilian Bionergy Science and Technology Conference (BBEST), evento totalmente online e que acontece entre os dias 24 e 26 de maio. Coordenadas pelo governo brasileiro e pela FAPESP, as duas conferências ocorrem conjuntamente, em um único evento integrado, envolvendo representantes governamentais, empresários e pesquisadores de mais de 30 países, além de organismos internacionais, como a própria AIE, e a Agência Internacional de Energias Renováveis – IRENA. A conferência ocorre em momento estratégico e definidor das tendências mundiais no campo da transição energética para o baixo carbono.
A cerimônia de abertura do evento contará com a participação do Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, pelo Secretário de Comércio Exterior e Assuntos Econômicos do Itamaraty, Embaixador Sarquis Sarquis, bem como do vice-secretário de Estado de Energia dos EUA, David Turk, do diretor executivo da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, do presidente da FAPESP, Evandro Zago, do presidente da APEX-Brasil, Augusto Pestana, e outras autoridades.
Renato Domith Godinho, chefe da Divisão de Promoção de Energia do Itamaraty e copresidente da Biofuture, considera que os números publicados pela AIE, bem como a mudança de postura do governo americano, reforçam o impulso internacional em direção à aceleração da bioenergia e da bioeconomia.
Segundo Godinho, quanto maior a produção de bioenergia e biocombustíveis no mundo, mais essa fonte energética se tornará previsível e confiável. Novos mercados serão abertos e o Brasil sairá beneficiado. “Quem produz com eficiência tende a ganhar espaço em um mercado global maior. Não apenas para a bioenergia em si, mas para produtos, equipamentos, serviço e tecnologia associados a essa produção”, afirma.
“Passagem de bastão”
A partir de 1º de junho, os Estados Unidos assumirão a presidência da Plataforma para o Biofuturo. A passagem da coordenação do Brasil para os EUA foi aprovada unanimemente pelos países membros e ocorreu de acordo com as regras de governança da Plataforma. Essas regras preveem que a presidência da iniciativa seja rotativa entre os países membros. A transferência será oficialmente formalizada durante a conferência.
Segundo a diplomacia brasileira, essa rotatividade é importante e traz fôlego à iniciativa. “A passagem da presidência aos EUA demonstra o amadurecimento institucional da Biofuturo e reforça ainda mais sua credibilidade como principal instância multilateral de promoção da bioenergia sustentável, diz Godinho, que participou da criação da Biofuturo e esteve na sua coordenação nos últimos quatro anos. “Apesar da multiplicação de foros sobre transição energética, até a criação da Biofuturo os biocombustíveis e a bioenergia estavam caindo no esquecimento nos debates internacionais sobre esse tema. Ficou hoje comprovado que uma iniciativa brasileira pode se tornar uma instituição de alcance global”, complementa.
O Brasil está na presidência da Plataforma para o Biofuturo desde 2016, tendo concebido e liderado sua criação. Em 2019, a Agência Internacional de Energia (AIE), ligada à OCDE, assumiu a função de facilitador, o que ampliou o prestígio da iniciativa. Criada na COP 22, em 2016, a partir da intensa atuação da diplomacia brasileira, a Biofuturo congrega 20 governos - dentre eles Estados Unidos, China, Índia e Canadá, além de países do sudeste asiático, do Mercosul e representantes da comunidade europeia - e tem por finalidade difundir políticas de incentivo à geração de bioenergia e biocombustíveis.
Política e ciência
Mercados emergentes na produção de bioenergia, sustentabilidade no uso da biomassa, políticas de incentivo à produção de biocombustíveis e bioenergia, o posicionamento dos biocombustíveis na nova economia de baixo carbono e modelos de financiamento para produção estarão entre os temas debatidos. Participarão das discussões representantes de governos, sociedade civil, empresas e pesquisadores de mais de 30 países, entre eles Alemanha, França, Espanha, Suécia e outros representantes europeus, EUA, Canadá, China, índia, países do sudeste asiático, África e América Latina.
“A Biofuturo tem uma abordagem mais política, econômica, social e de sustentabilidade. Já a BBEST procura estimular o debate técnico e a inovação”, explica Glaucia Mendes Souza, copresidente da conferência e professora titular do Departamento de Bioquímica da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Programa de Bioenergia (BIOEN) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Segundo a pesquisadora, os eventos ocorrem simultaneamente porque o crescimento do setor depende de decisões políticas e econômicas, mas também de informações técnicas confiáveis e de inovação. “Quando discutimos redução de emissões, alternativas energéticas, eficiência e viabilidade, é importante contarmos com estudos técnicos e científicos que contribuam para esclarecer temas, apontar tendências e auxiliar na tomada de decisões. Os eventos simultâneos geram sinergia entre os temas”, explica.
Painéis e palestras técnicas
Além dos painéis e mesas de debate, a conferência conjunta Biofuture Summit II e BBEST 2020-21 contará com quase uma centena de painéis e palestras técnicas que discutirão os mais diversos temas relacionados à cadeia produtiva de biocombustíveis e bioenergia, sustentabilidade e economia de baixo carbono. Para credenciamento, informações sobre os eventos e programação completa, acesse https://bbest-biofuture.org/v2/program-2/