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Jornal do Brasil

Europa se aproxima da África cerca de 1 centímetro por ano (1 notícias)

Publicado em 25 de fevereiro de 1996

Por KIDO GUERRA — Correspondente
BRUXELAS - A Europa nunca esteve tão perto da África e deverá ficar ainda mais. Nos últimos 5 milhões de anos, os dois continentes já se aproximaram 50 quilômetros, à média de um centímetro por ano, como conseqüência do movimento oposto das placas tectônicas sobre as quais eles estão situados. A descoberta foi feita por geólogos europeus durante expedição realizada ano passado no mar Mediterrâneo, que separa os continentes, e revelada pelo semanário The European. Durante dois meses, cientistas britânicos, holandeses, alemães e franceses estudaram o fundo do mar, colhendo sedimentos, que estão hoje sendo analisados em laboratórios de seus países. O efeito do que está acontecendo com os continentes é semelhante ao de duas folhas de papel empurradas uma contra a outra. Uma (a Europa) acaba sendo forçada para cima, e outra (a África) para baixo. Em termos reais, esse fenômeno vem tornando o Mediterrâneo mais profundo e as cadeias européias de montanhas, como os Alpes, cada vez mais altas. Mudanças climáticas na região mediterrânea também são previstas para longo prazo (algumas centenas de milhares de anos) em conseqüência da convergência das duas placas tectônicas. Grécia, Itália e a região dos Bálcãs, em particular, ficarão mais quentes e áridas no verão. Outra importante descoberta da expedição é o movimento feito por uma montanha submarina chamada Erastotenes, que se dirige lenta e irreversivelmente rumo ao Norte. O sedimentologista Alan Kemps, da Universidade de Southampton, na Inglaterra, um dos membros da expedição, explica que por trás desse fenômeno está a criação de ilha de Chipre, há 1.5 milhão de anos. Amostras sedimentares colhidas dessa montanha, típicas da plataforma continental norte-africana, comprovam que originalmente Erastotenes era ligada ao Egito. Seu contínuo deslocamento poderá, no futuro, provocar o surgimento de novas ilhas na região mediterrânea e o posterior encolhimento da superfície do mar. O estudo também confirmou que o Mediterrâneo nem sempre esteve coberto de água. "Podemos afirmar que havia períodos em que o Mediterrâneo ficava completamente seco, transformando-se numa grande plataforma de sal", explica Jim Briden, diretor do comitê executivo do Ocean Drilling Programme, que coordenou a expedição. O fenômeno poderá se repetir com a contínua colisão das placas dos dois continentes. Se o movimento continuar nos níveis atuais, em dois milhões de anos (relativamente pouco tempo tratando-se da Terra), África e Europa estarão unidas no Estreito de Gibraltar.