Pesquisadores brasileiros avaliaram idosos acima de 90 anos que tiveram Covid leve ou assintomática e um caso de gêmeos idênticos com diferentes desfechos para a Covid longa
Pesquisas buscam entender fatores genéticos que protegem algumas pessoas da infecção ou até mesmo de desenvolver a forma grave da COVID-19 (Foto: Reprodução/Alexandra_Koch/Pixabay)
Duas pesquisas recém-publicadas por cientistas brasileiros ajudam a entender fatores genéticos que protegem algumas pessoas da infecção ou até mesmo de desenvolver a forma grave da Covid-19. Um dos estudos foi realizado com um grupo de idosos acima de 90 anos resistentes ao Sars-CoV-2 e o outro descreve o caso de gêmeos idênticos com desfecho diferente para a chamada Covid longa.
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Desde 2020, pesquisadores de vários países, incluindo o Brasil, buscam identificar genes que conferem proteção contra o novo coronavírus, tanto impedindo a infecção quanto favorecendo uma doença leve, na expectativa de que esse conhecimento permita o desenvolvimento de novas vacinas e tratamentos contra essa doença e outras provocadas por vírus.
“Se realmente comprovarmos que alguns genes promovem resistência ao Sars-CoV-2, isso também pode ser verdade para outros tipos de vírus. A partir disso, novos trabalhos podem buscar entender os mecanismos por trás dessa resistência e desenvolver medicamentos para aumentar a proteção das pessoas contra infecções virais”, diz à Agência FAPESP a professora Mayana Zatz, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP).
Zatz é coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP, e autora principal dos dois artigos publicados em revistas do grupo Frontiers.
Em uma das pesquisas, os cientistas buscavam possíveis genes de resistência ao Sars-CoV-2 e queriam entender mecanismos envolvidos nos extremos – casos de idosos resilientes à doença, mesmo podendo ter comorbidades, em contraponto a pessoas mais jovens sem comorbidades que tiveram formas muito graves, algumas letais.
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Para isso, trabalharam com uma coorte de 87 indivíduos chamados de “superidosos”, ou seja, com mais de 90 anos que se recuperaram da Covid-19 com sintomas leves ou que permaneceram assintomáticos após teste positivo para o novo coronavírus. A média de idade foi de 94 anos, sendo que uma mulher tinha, à época do estudo, 114 anos e foi considerada a pessoa com mais idade no Brasil a se recuperar da doença.
Os dados foram comparados com os de 55 pessoas com menos de 60 anos e que contraíram a forma grave ou morreram, além de uma base da população idosa geral da cidade de São Paulo, obtida por meio de banco genético ( leia mais ).
Os pesquisadores analisaram a região do cromossomo 6, conhecida como Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC, na sigla em inglês). Essa área tem dezenas de genes que controlam o sistema imunológico de diferentes formas, mas depende de equipamentos e ferramentas especiais para análise. Houve ainda o sequenciamento do exoma (fração do genoma que codifica os genes). Já a infecção por Sars-CoV-2 foi confirmada pelo teste RT-PCR, tendo sido as amostras coletadas no início de 2020 – antes dos programas locais de vacinação contra a Covid-19.
Obtiveram três resultados importantes no trabalho, sendo que dois deles só foram possíveis por usar amostras de população miscigenada, como é o caso do Brasil.