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Estudo USP e UFMG: asma pode ser prevenida usando leveduras da cachaça (69 notícias)

Publicado em 19 de abril de 2023

Pesquisadores da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal de Minas Gerais publicaram descobertas na revista Probiotics and Antimicrobial Proteins afirmando que uma porção diária da cepa de levedura usada para produzir cachaça pode potencialmente ajudar a prevenir a asma.

Pesquisadores brasileiros realizaram experimentos pré-clínicos em ratos para descobrir a dosagem e o modo de entrega mais eficaz. Seus resultados sugerem que dosagens diárias significativas do probiótico são necessárias para colher suas vantagens.

A espécie de levedura utilizada para a análise foi a UFMG A-905 da família Saccharomyces cerevisiae.

Uma questão global que afeta milhões de indivíduos de todas as idades, a asma é um distúrbio respiratório comum que causa dificuldades respiratórias. Esta aflição, que muitas vezes surge na infância, resulta em uma constrição das vias aéreas, inflamação e alterações nos bronquíolos. Um número espantoso de 334 milhões de pessoas são impactadas por esta condição em todo o mundo.

Pesquisas adicionais são necessárias para estabelecer a dosagem ideal e o método de administração para alcançar os benefícios desejados, apesar do crescente interesse em empregar probióticos para prevenir ou curar alergias e uma variedade de doenças de pele, digestivas e neurológicas.

A levedura da cachaça

S. cerevisiae UFMG A-905, um renomado probiótico utilizado na produção de cerveja, pão e cachaça, comprovadamente alivia os sintomas da asma em modelos animais. Apesar de seu reconhecimento anterior, tem havido uma lacuna no conhecimento sobre seu uso ideal. Um estudo recente indicou que uma dose diária de 10 bilhões de unidades formadoras de colônias por mililitro (UFC/mL) é mais eficaz.

Em cada 65 mL de leite fermentado Yakult, há cerca de 16 bilhões de CFUs para comparação.

Marcos de Carvalho Borges, professor de medicina clínica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), afirmou que é crucial reconhecer que os probióticos funcionam de forma semelhante aos medicamentos. Ele enfatizou que tomá-los esporadicamente ou em dosagens incorretas é ineficaz, e o autor final do artigo reiterou este sentimento.

Com o apoio da FAPESP, o projeto de pesquisa foi conduzido para examinar o impacto de uma dosagem diária de 100 microlitros (μL) de solução probiótica durante um período de 27 dias. A solução continha concentrações variáveis do probiótico em 107, 108, and 109 UFC/mL. Além disso, a equipe de pesquisa explorou o impacto da administração de 100 μL de uma solução de 109 UFC/mL de S. cerevisiae três vezes por semana em dias alternativos durante 5 semanas.

Disco de Petri com levedura Saccharomyces cerevisiae UFMG A-905. Credito: Marcos de Carvalho Borges

Resultados positivos no controle da asma

Para causar a inflamação alérgica, ratos de laboratório foram infectados com ovalbumina. Já as leveduras foram administradas através de um tubo que levava ao estômago dos animais.

Uma equipe de cientistas associados à FMRP-USP e ao Instituto de Ciências Biológicas da UFMG descobriu que a ingestão regular do probiótico, seja diariamente ou em dias alternados, provou ser altamente eficaz na contenção da hipersensibilidade brônquica em comparação ao grupo de controle, ao qual foi administrada solução salina.

Os camundongos com asma só experimentaram uma diminuição na inflamação das vias aéreas quando lhes foi administrada a dose mais alta de probiótico diariamente. O grau de inflamação foi medido através da contagem de eosinófilos e níveis de interferon, que são ambos indicadores de inflamação asmática. Estes marcadores foram significativamente reduzidos em ratos tratados com o probiótico, de acordo com Borges. Isto levou à conclusão de que as leveduras S. cerevisiae podem ajudar a reduzir a inflamação em camundongos asmáticos.

O probiótico não mostrou redução significativa na inflamação das vias aéreas e pulmões quando administrado diariamente ou a cada dois dias em concentrações de 107 e 108 UFC/mL. Borges destacou a importância de ter um produto natural como os probióticos, que tem efeitos colaterais insignificantes e pode potencialmente prevenir a asma que é generalizada, de uma perspectiva de política pública.

Método ideal de consumo para ajudar os humanos com asma

Após a realização de experimentos com animais, os cientistas procuram determinar se o probiótico tem impactos vantajosos também sobre os humanos. Caso o probiótico demonstre efeitos positivos na fisiologia humana, os pesquisadores pretendem investigar seus mecanismos através de alimentos fermentados, ao invés de uma cápsula básica contendo a solução.

A pesquisa realizada sob a supervisão da Borges em colaboração com colegas da UFMG e UNICAMP resultou no desenvolvimento de pães contendo leveduras, que se descobriu terem qualidades preventivas semelhantes. O produto foi patenteado e está programado para ser apresentado em breve em publicações científicas.

Referência: “Dose–Response Effect of Saccharomyces cerevisiae UFMG A-905 on the Prevention of Asthma in an Animal Model” by Thamires M. S. Milani, Camila M. Sandy, Ana Paula Carvalho Thiers Calazans, Rosana Q. Silva, Vanessa M. B. Fonseca, Flaviano S. Martins and Marcos C. Borges, 29 November 2022, Probiotics and Antimicrobial Proteins.DOI: 10.1007/s12602-022-10014-w